Saúde

Vítimas de câncer de mama estão fazendo menos quimioterapia nos EUA

Levantamento mostra como médicos e pacientes estão usando a medicina personalizada para ‘poupar’ mulheres da toxicidade do tratamento

Imagem da campanha ‘Outubro Rosa’, de prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama: novas abordagens ‘poupam’ mulheres de tratamentos desnecessários
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Imagem da campanha ‘Outubro Rosa’, de prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama: novas abordagens ‘poupam’ mulheres de tratamentos desnecessários Foto: Reprodução

RIO - Um estudo com cerca de 5 mil mulheres americanas nos estágios iniciais do câncer de mama indica um recente e significativo declínio no uso da quimioterapia , apesar de não ter havido nenhuma mudança nas recomendações ou protocolos de tratamento para a doença nos EUA. Segundo os pesquisadores das universidades americanas de Stanford e Michigan, responsáveis pelo levantamento publicado nesta segunda-feira no periódico científico “Journal of the National Cancer Institute”, os resultados refletem o crescente reconhecimento por oncologistas e pacientes de que, para algumas mulheres, os prejuízos da quimioterapia não compensam seus potenciais benefícios . O estudo também revelou que os médicos são mais propensos a realizarem a testagem genética dos tumores quando as pacientes expressam preferências para o tratamento que não batem com sua recomendação original.

- Para pacientes nos estágios iniciais do câncer de mama, vimos um declínio significativo no uso da quimioterapia nos últimos anos mesmo sem mudanças reais nas evidências (sobre sua eficácia ou não) – diz Allison Kurian, professora da Universidade de Stanford e uma das autoras da pesquisa. - Isto reflete uma mudança na cultura da prática dos médicos, num movimento rumo ao uso da biologia dos tumores para guiar as escolhas de tratamento no lugar de se basear simplesmente em medidas clínicas.

Já Steven Katz, professor da Universidade de Michigan, e autor sênio da pesquisa, reforça:

- Nosso estudo mostra como o câncer de mama está se tornando um modelo de como médicos estão usando os avanços na medicina personalizada para reduzir o “sobretratamento”.

Para o estudo, os pesquisadores levantaram informações sobre 5.080 mulheres tratadas para o câncer de mama nos estágios iniciais entre 2013 e 2015 no estado na Geórgia em em Los Angeles. Entre elas, 2.926 tinham câncer nos estágios 1 ou 2 que deu resultado positivo para receptores de estrogênio e negativo para o receptor de fator de crescimento humano 2, dois parâmetros comuns para guiar o tratamento de mulheres com câncer de mana.

Depois, os cientistas caracterizaram estas mulheres também segundo o envolvimento de nódulos linfáticos próximos às mamas, perguntando também se seus oncologistas recomendaram quimioterapia e se elas se submeteram ao tratamento. Os pesquisadores também ouviram 504 oncologistas que tratam pacientes nos estágios iniciais de câncer de mama para saber como chegaram à recomendação, ou não, da quimioterapia.

Segundo o levantamento, entre 2013 e 2015 houve uma queda de 34,5% para 21,3% no uso da quimioterapia pelas participantes. No mesmo período, elas relataram um recuo na recomendação deste tipo de tratamento por seus oncologistas de 44,9% para 31,6%. O uso da quimioterapia por pacientes sem envolvimento dos nódulos linfáticos na doença caiu de 26,6% para 14,1%. Já nas que tinham este tipo de envolvimento, a queda foi de 81,1% para 64,2%.

Por fim, 67,4% dos oncologistas ouvidos indicaram que pediriam testes do genoma dos tumores para estimar o risco de recorrência da doença em mulheres com envolvimento dos nódulos linfáticos se elas discordassem de sua recomendação para que recebessem quimioterapia. Por outro lado, só 17,5% deles fariam o mesmo se a paciente concordasse com sua recomendação de tratamento.

- Acreditamos que o estudo indica que os médicos estão tentando ser mais seletivos nas suas recomendações e poupar as pacientes da toxicidade do tratamento quando possível – conclui Allison. - À medida que a medicina personalizada se torna mais acessível, os médicos estão usando os resultados dos testes como parte de seu diálogo com as pacientes sobre suas preferências e objetivos gerais do tratamento. Mas os resultados de longo prazo destas mudanças recentes na abordagem da quimioterapia ainda são incertos.