Economia

Banco Central estima inflação de 4% para 2017 e sinaliza cortes maiores de juros

Previsão para crescimento da economia este ano caiu para 0,5%, segundo relatório do BC

Sede do Banco Central. Foto Aílton de Freitas / Agência O Globo
Foto: Ailton de Freitas/Agência O Gloobo
Sede do Banco Central. Foto Aílton de Freitas / Agência O Globo Foto: Ailton de Freitas/Agência O Gloobo

BRASÍLIA - Com a inflação numa queda mais acelerada do que o previsto, o Banco Central deu sinais de que cortará os juros numa velocidade ainda maior. A expectativa é que o Comitê de Política Monetária (Copom) aumente a queda da taxa básica (Selic) para 1 ponto percentual daqui duas semanas. Na divulgação do relatório de inflação, o texto cita que o processo de desinflação se espalhou e que se consolidou nos componentes mais sensíveis a juros. A previsão de baixa dos juros é tão grande, que o BC mudou toda a forma de fazer projeções. Passou a adotar como oficial as contas feitas com os dados do mercado financeiro (que já levam em consideração os futuros cortes de juros).

“Desde então, a consolidação do cenário de desinflação mais difundida, que abrange os componentes da inflação mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, fortalece a possibilidade de uma intensificação moderada do ritmo de flexibilização da política monetária, em relação ao ritmo imprimido nas duas últimas reuniões do Copom”, que concluiu:

“O Copom entende que a extensão do ciclo de flexibilização monetária, inclusive as taxas vigentes ao longo de 2018, dependerá das projeções e expectativas de inflação para 2019, mas também das estimativas da taxa de juros estrutural da economia brasileira. Essas estimativas naturalmente envolvem incerteza e poderão ser reavaliadas pelo Comitê ao longo do tempo”.

Segundo o relatório de inflação, pelo segundo trimestre consecutivo, a queda nos preços de alimentos e a disseminação do processo de desinflação favoreceram evolução mais benigna do que a prevista para os índices de preços ao consumidor.

Na comparação com as projeções da reunião do Copom de fevereiro, os principais fatores responsáveis pela queda na estimativa para 2017 foram a inflação de fevereiro (que veio menor que o esperado), as expectativas de inflação que caíram e fatores ligados ao setor externo, como a taxa de câmbio. Esses elementos, segundo o BC, mais do que compensaram revisões para cima das projeções de curto prazo.

De acordo com o relatório do BC, os indicadores de atividade econômica divulgados recentemente mostram alguns sinais mistos, mas compatíveis com estabilização da economia no curto prazo. O nível de ociosidade permanece elevado, refletido nos baixos índices de utilização da capacidade da indústria e, principalmente, na taxa de desemprego. Por isso, o BC revisou a projeção de crescimento para este ano de 0,8% para 0,5%.

No âmbito externo, o cenário ainda é bastante incerto. Por outro lado, o BC ressalta que a atividade econômica global mais forte e o consequente impacto positivo nos preços de commodities têm mitigado os efeitos sobre a economia brasileira do aumento dos juros nos Estados Unidos.

“Há, também, incerteza sobre a sustentabilidade do crescimento econômico global e sobre a manutenção dos níveis correntes de preços de commodities”.

NOVAS PROJEÇÕES

A mudança do cálculo para a projeção da inflação se dá, segundo o Banco Central, porque o cenário antigo — divulgado desde que o sistema de metas para a inflação foi criado, em 99 — não era realista. Atualmente, por exemplo, o mercado espera que o BC corte os juros dos atuais 12,25% ao ano para 9% ao ano. Como todos esperam uma queda considerável dos juros daqui para frente, manter os cálculos antigos como o cenário principal não era considerável tão eficiente.

O antigo cenário de referência fazia a projeção para a inflação com Selic e câmbio constantes.

“O Copom julga que projeções com taxa de juros inalterada são pouco informativas. Entretanto, no espírito de manter elevado grau de transparência, o Relatório de Inflação continuará a reportar as projeções condicionais que supõem taxa Selic constante”, diz o Comitê de Política Monetária (Copom).

Nele, a projeção para a inflação neste ano é de 3,9%. Para o ano que vem, a expectativa é de 4,3%.