Política Lava-Jato

MPF denuncia 'doleiro dos doleiros' e mais 4 por esquema que movimentou ao menos R$ 4,2 milhões

Acusados usavam instituição paralela para movimentar recursos ilícitos, diz denúncia

Figura carimbada em investigações de lavagem de dinheiro desde o início dos anos 2000, Dario Messer foi citado nos escândalos do Banestado e Swissleaks. Seu apelido é “doleiro dos doleiros”
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Figura carimbada em investigações de lavagem de dinheiro desde o início dos anos 2000, Dario Messer foi citado nos escândalos do Banestado e Swissleaks. Seu apelido é “doleiro dos doleiros” Foto: Reprodução

RIO — O Ministério Público Federal ( MPF ) denunciou três doleiros e dois proprietários de uma corretora que era usada para armazenar e efetivar pagamentos de recursos ilícitos a agentes públicos. Os sócios da instituição financeira paralela Advalor João Paulo Julio Lopes e Miguel Julio Lopes e os doleiros Dario Messer — considerado "o doleiro dos doleiros" —, Chaaya Moghrabi (Yasha) e Flávio Dib são acusados de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e crime contra o sistema financeiro de apropriação indébita.

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De acordo com os investigadores, o grupo realizou ao menos oito operações criminosas entre março de 2013 e fevereiro de 2014, no valor total de US$ 1.032.807 (cerca de R$ 4,2 milhões). Neste sentido, o MPF pede a condenação dos cinco envolvidos e uma reparação de danos morais e materiais — de R$ 20.062.456 para Miguel e João Paulo Julio Lopes e de R$ 7.542.456 para os doleiros. Dario Messer já havia sido denunciado pelos mesmos crimes, em junho deste ano, ao lado do ex-governador Sérgio Cabral e outros 60 acusados de participar de uma rede que movimentou ilegalmente US$ 1,6 bilhão (R$ 6,6 bilhões) por meio de três mil offshores sediadas em 52 países.

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Os crimes foram apurados a partir das operações Câmbio Desligo, Calicute, Tolypeutes e Advalorem. Segundo a denúncia, a corretora operava em favor, por exemplo, do ex-secretário de Transportes do Rio de Janeiro Luiz Carlos Velloso. Ele usou os serviços de Miguel e João Paulo Julio Lopes para gerir parte do montante desviado das obras da Linha 4 do Metrô do Rio. O esquema teria permitido a Velloso ocultar R$ 5,9 milhões.

PROPRIETÁRIOS PASSARAM A NÃO DEVOLVER VALORES

A investigação mostrou que os pagamentos de propina da Carioca Engenharia ao ex-secretário de Transportes eram realizados em dinheiro na sede da corretora, no Centro do Rio. Até hoje permanecem na instituição R$ 700 mil. A partir de 2016, Velloso começou a ter dificuldade em retirar os depósitos porque os proprietários passaram a não devolver os valores.

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"Os administradores da empresa Advalor, Miguel Julio Lopes e João Paulo Julio de Pinho Lopes, que funciona como verdadeira instituição financeira, operaram com recursos ilícitos de agentes públicos e acabaram se locupletando pelo fato destes agentes públicos terem sido investigados e seus ilícitos descobertos. Isso porque, na medida em que os ilícitos foram descobertos, os administradores da empresa Advalor não devolveram os valores que lá estavam depositados”, explicaram os procuradores da força-tarefa da Lava-Jato do Rio na denúncia, protocolada em 11 de setembro.

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Segundo os procuradores, Miguel e João Paulo realizaram operações dólar-cabo com a ajuda de Dario Messer, Chaaya Moghrabi (Yasha) e Flávio Dib. Os sócios da Advalor também tiveram auxílio de Renato e Marcelo Chebar, Cláudio Barboza e Vinicius Claret. A Advalor recebia os recursos em dinheiro no Centro do Rio e vendia dólares no exterior.

"No caso concreto, os irmãos Chebar e Chaaya Moghrabi (“Monza”) tinham interesse no crédito de dólares nas contas que operavam no exterior, enquanto Miguel Julio Lopes e João Paulo Julio de Pinho Lopes, por intermédio de Flavio Dib, precisavam de recursos em espécie, sendo Juca e Tony responsáveis por ligar essas duas pontas”, explicam na denúncia.