Rio

Mães de Acari pedirão ajuda internacional

RIO - A revelação de que uma testemunha depôs no Ministério Público Estadual contando detalhes de quem participou e como foi a Chacina de Acari, há 20 anos , deu mais um estímulo às mães dos 11 jovens desaparecidos. Ontem, Marilene Lima de Souza, de 58 anos, mãe de Rosana de Souza Santos, sumida aos 18 anos, disse que vai solicitar hoje à Anistia Internacional que pressione o MP para desarquivar o inquérito sobre a morte de Edméa da Silva Euzébio, mãe de uma das vítimas, assassinada em 1993, na Praça Onze, em circunstâncias misteriosas. O inquérito está na Delegacia de Acervo Cartorário da 6 DP (Cidade Nova) e contém o relato da testemunha.

Nele, além de afirmar quem matou Edméa e o motivo, a testemunha desvendaria o mistério em torno do desaparecimento dos 11 jovens de Acari, cujo crime prescreve hoje. Segundo o coronel Valmir Alves Brum, da reserva da Polícia Militar, o conteúdo do depoimento tem riqueza de detalhes que poderiam elucidar o caso de Acari.

- É um absurdo uma informação tão preciosa não ter sido nem checada. O caso de Acari prescreve amanhã (hoje), após 20 anos de muita luta para que não ficasse impune. Isso não pode terminar assim - desabafou Marilene antes da exibição do filme "Luto como mãe", ontem, na quadra da Escola de Samba Favo de Acari, evento que marcou os 20 anos da chacina e trouxe de São Paulo as Mães de Maio, cujos filhos sumiram em circunstâncias semelhantes.

O promotor Rogério Scatamburlo, coordenador do Centro Integrado de Apurações Criminais (Ciac), disse que vai checar a existência do inquérito na Deac da 6 DP e o depoimento da testemunha sobre o caso de Acari. Novelista cobra respostas para as mães

A novelista Glória Perez, que acompanhou de perto as investigações da chacina, se diz indignada.

- Prescrição de crimes de homicídio é um absurdo em qualquer lugar do mundo. Ainda mais nesse caso. Estive lado a lado com as mães de Acari durante esses anos, vi de perto o quanto lutaram buscando o direito de enterrar os filhos, clamando por uma investigação nunca feita. As mães de Acari são as Antígonas brasileiras. O Estado deve a elas uma resposta, e cabe a nós, como cidadãos, juntar nossas vozes às delas, clamando para que a injustiça não seja sacramentada.