Por Patrícia Teixeira, G1 Rio


Audiência debateu invasão de casas de moradores no Complexo do Alemão — Foto: Patrícia Teixeira/G1

Policiais militares vão deixar uma casa que estava sendo utilizada como base no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio. O anúncio foi feito pelo subcoordenador de Polícia Pacificadora, tenente-coronel Marcos Borges. De acordo com ele, a saída da casa invadida vai ocorrer já nesta segunda-feira (24). Segundo denúncias de moradores, outras casas, que no momento estão vazias, também foram utilizadas pelos agentes.

O anúncio do oficial ocorreu durante a audiência pública que reuniu entidades de defesa dos Direitos Humanos, representantes da Polícia Militar e moradores da comunidade no auditório da Defensoria Pública estadual, no Centro do Rio.

Raul Santiago diz que policiais deveriam ser responsabilizados por invasões de casas

Raul Santiago diz que policiais deveriam ser responsabilizados por invasões de casas

"O que nos move na UPP [Unidade de Polícia Pacificadora] é a promoção da paz e preservação à vida. Quando entramos na comunidade, tínhamos uma postura. O que ocorre é que cresceu a criminalidade. Mas posso dizer aqui que a implementação da base blindada está ocorrendo num local em que os policiais eram vitimados. Hoje, se encerra a implementação dessa base e os policiais vão sair das residências", afirmou o tenente-coronel.

Em fevereiro, o G1 mostrou a indignação de pessoas que vivem na comunidade. Na época, entidades de defesa dos Direitos Humanos cobraram providências. Na audiência desta segunda-feira, outros moradores, como o marceneiro Jorge Felix, voltaram a reclamar que tiveram suas casas invadidas pelos policiais e que não podiam voltar às residências.

"Depois que minha inquilina saiu da casa, os policiais ocuparam minha residência. A casa foi tomada e virou ponto estratégico da PM, que faz trocas de plantão na laje. Falei com um responsável pela UPP e ele me disse que os policiais só sairiam quando a base central estivesse totalmente pronta", alegou Jorge, que mora na comunidade há 58 anos.

Raull Santiago, representante do coletivo Juntos pelo Complexo, pediu, durante seu discurso, que os policiais militares responsáveis pelas invasões das casas fossem responsabilizados.

"Tem que repensar essa polícia, a utilização do dinheiro público. Tentamos por diversas vezes diálogo com as autoridades sobre essas violações e ninguém nos deu respostas. Agora vem um tenente [coronel] e assume que invadiram as casas por conta de estratégias. Por que não prendem ele se isso é ilegal? Está gravado, ele assumiu que fizeram isso e que hoje, talvez amanhã, os policiais saiam das casas. É preciso recuar e pensar novas atuações nas favelas", desabafou Raull.

Na sequência, o comandante da UPP Nova Brasília, major Leonardo Zuma, explicou que, na verdade, "houve estratégia para ocupar o terreno e não as casas". O major também contestou dizendo que não foram várias casas ocupadas, como relatado pelos moradores, mas, sim, uma única residência.

"O que aconteceu foi que policiais [da UPP] relataram que estavam sendo alvejados com tiros, granadas, e sinalizaram que tinham casas vazias e perguntaram se podiam ficar nessas casas. Tem apenas uma casa ocupada e umas cinco vazias no local. Essa foi uma atitude para proteger nossos policiais. Todos sabiam que essas casas estavam vazias. Legalmente, não houve invasão de domicílio, pois não havia ninguém morando ali naquelas casas", disse o major.

PMs do Bope baleados

Também nesta segunda, enquanto ocorria a audência pública no Centro, dois policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foram baleados no Alemão. Um deles foi baleado na bochecha e, com o impacto, teve alguns dentes quebrados. Apesar dos ferimentos, o estado de saúde do policial era considerado estável.

Pela manhã, outro militar, também do Bope, foi baleado na perna. Ele foi socorrido para o Hospital Central da Polícia Militar (HCPM) e o estado de saúde também era estável. Os PMs foram baleados enquanto acompanhavam a instalação de uma cabine blindada no conjunto de favelas.

De acordo com a Secretaria de Segurança, "a instalação da cabine é uma iniciativa do comando da corporação, para possibilitar condições de segurança aos policiais que ali trabalham".

Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!
Mais do G1