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LAVA-JATO

O achaque do ex-presidente do BB sobre a Odebrecht, segundo o delator

Aldemir Bendine foi escolhido em fevereiro para comandar a Petrobras

 

— O Dida está puto porque o Marcelo trata tudo com o Guido e ele nunca leva nada.

A frase acima foi dita no início de 2014 por André Gustavo Vieira da Silva, enviado de Aldemir Bendine, o Dida, então presidente do Banco do Brasil, para uma conversa nada republicana com o delator da Odebrecht Fernando Reis.

Assim, direta e desavergonhada, a reclamação consta da delação do ex-presidente da Odebrecht Ambiental. De acordo com o relato de Reis, Vieira da Silva era o representante de Bendine para achaques. 

Nem é preciso dizer que o Marcelo e o Guido citados possuem os sobrenomes Odebrecht e Mantega, respectivamente.

Segundo a delação, Vieira da Silva procurou Reis em nome de Bendine no início de 2014. Sua missão era cobrar 1% de uma operação de reestruturação da dívida da Odebrecht Agroindustrial, que estava sendo negociada com o Banco do Brasil.

Iniciou a conversa dizendo a Reis que Bendine estava irritado. Motivo: a Odebrecht resolvia seus assuntos direto com Mantega. Bendine sentia-se atropelado pelo ministro da Fazenda, que dava ordens ao BB sem levá-lo em conta.

E mencionou sem rodeios o alongamento de um crédito de R$ 2,9 bilhões negociado pela Odebrecht Agro com o BB. Direto ao ponto, quis saber de Reis quanto Bendine receberia para aprovar o alongamento.

Reis conta que levou o assunto a Marcelo Odebrecht. Recebeu a ordem de enrolar. E assim procedeu.

Em nova conversa com Vieira da Silva, Reis disse, ainda de acordo com o seu próprio relato, que Mantega era a pessoa que cuidava do dinheiro do PT, por isso não havia qualquer atropelo.

O argumento não convenceu o enviado especial de Bendine, que procurou Reis mais quatro vezes. Firmou um pedágio de 1% do valor total da operação. Inicialmente, esse percentual corresponderia a R$ 29 milhões.

No início de 2015, porém, a área técnica do BB decidiu segregar o valor da operação e refinanciar R$ 1,2 bilhão para  o plantio de cana dentro do Plano Safra.

O alongamento agora era, portanto, de R$ 1,7 bilhão (originalmente o pedido era de R$ 2,9 bilhões). Vieira da Silva voltou à carga. Pediu 1% desse valor, ou seja, R$ 17 milhões.  

Como em fevereiro de 2015 Bendine virou presidente da Petrobras, a Odebrecht, de acordo com Reis, resolveu parar de enrolar. Os interesses da Odebrecht na Petrobras eram gigantescos na estatal e não era o caso de desafiar o poder de retaliação de Bendine  — o que foi efetivamente foi provado por Vieira da Silva, que ameaçou com o cancelamento de contratos na Petrobras.

Em 18 de maio de 2015, enfim, Reis e Marcelo Odebrecht se reuniram com Bendine na casa de Vieira da Silva, em Brasília. No encontro, foi acertado um pagamento inicial de R$ 3 milhões, que foi feito pelo departamento de propinas.

Tomando o relato da delação ao pé da letra, pode-se dizer que Bendine insistiu e conseguiu o que queria aos 44 minutos do segundo tempo, pois um mês depois, Marcelo Odebrecht foi preso.

Bendine sempre foi conhecido pela ousadia. Em 2010, comprou um imóvel em São Paulo pagando R$ 150 mil em espécie. Justificou dizendo que, embora presidente do BB à época, guardava o dinheiro em casa. Mas em conversa com pessoas próximas, tem negado as acusações de Fernando Reis.

 

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