Por G1 São Paulo


Um dos executivos da Odebrecht que fez acordo de delação premiada com o Ministério Público, Federal Luiz Eduardo da Rocha Soares afirmou em depoimento que recebeu devolução de R$ 4 milhões de ex-diretor da Dersa Paulo Vieira Souza, em 2011, que haviam sido pagos referentes a obras do Rodoanel. Esse valor teria sido depositado em conta da Suíça para o ex-ministro e ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB).

No depoimento, realizado em Curitiba em 22 de novembro de 2016, Soares diz que Paulo Vieira, conhecido como Paulo Preto, o encontrou na sede da Dersa junto com Benedicto Junior, que comandava o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, o chamado “departamento da propina”, para pegar as malas com o dinheiro, em espécie, que Paulo Preto mantinha em sua casa.

O dinheiro “foi retirado na casa de Paulo Preto, no bairro Itaim Bibi, em São Paulo”, por meio de dois interlocutores, um deles Paulo Preto.

Conforme Soares, em uma reunião no Rio de Janeiro meses depois, com o empresário e pecuarista Jonas Barcelos, dono da Brasif, e Benedicto Junior, Jonas Barcelos lhe passou “um número de conta, provavelmente na Suíça, para o pagamento. Por este esquema, o dinheiro em espécie acabou sendo remetido para a conta na Suíça, cujo B.O. acredito que fosse Jonas Barcelos”. Entretanto, diz o depoimento, o delator afirma “ter conhecimento que o valor, embora estivesse na conta de Jonas, pertencia a José Serra”.

Serra está no mesmo inquérito do Ministério Público que também pede a investigação do ministro de Relações Exteriores Aloysio Nunes (PSDB) por supostas irregularidades no processo de licitação das obras do Rodoanel Sul que favoreceram a construtora Odebrecht, líder do consórcio vencedor do contrato.

Segundo Soares, na planilha da Odebrecht Serra era identificado como "Vizinho". Porque, na época, Serra era vizinho de Pedro Novis, outro ex-executivo da Odebrecht.

Em nota, José Serra diz que não cometeu nenhuma irregularidade e que suas campanhas foram conduzidas pelo partido dentro da lei.

"A confusa história relatada pelo delator não faz nenhum sentido. O senador José Serra jamais teve relações com boa parte dos personagens citados e, como afirmou o ex-presidente da Odebrecht Pedro Novis em depoimento, nunca tomou medidas nos cargos que ocupou que tenham beneficiado a empresa. O senador José Serra jamais recebeu vantagens indevidas da Odebrecht e sempre pautou sua carreira política na austeridade em relação aos gastos públicos. A abertura da investigação é útil para comprovar a lisura de sua conduta", afirmou o senador por meio de assessoria de imprensa.


A assessoria de Paulo Vieira de Sousa informou que ele não iria se posicionar sobre o caso. O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, disse que as afirmações são mentirosas e negou as acusações.

Em depoimento, Luiz Eduardo da Rocha Soares relata repasse de R$ 4 milhões que seriam a Serra — Foto: Reprodução/MPF

Veja o trecho da delação em que o colaborador Luiz Eduardo da Rocha Soares relata a devolução de R$ 4 milhões na sede da Dersa para depósito posterior em uma conta que seria para José Serra:

MP: Teve alguma coisa mais relacionadas a pagamentos de obras de São Paulo?

Delator: Não. De obras de São Paulo, que eu me lembre, não. Foi só esse. Em 2010, acompanhei a Roberto Complido, a pedido de Benedicto Júnior (MP pergunta: Quem que era Roberto Complido?) Roberto Complido era o diretor de contratos das obras do Rodoanel. Ele tem um contato com o Paulo Vieira Costa, conhecido como Paulo Preto. E ele tava querendo devolver um numerário para nós. E eu fui lá pra combinar como é que seria a retirada desse dinheiro. O valor era de 4 milhões de reais.

MP: Explica um pouco melhor: foi uma reunião?

Delator: “É uma reunião na própria Dersa, o período entre janeiro e abril de 2010, foi logo antes da saída dele da Dersa.

MP: ele era?

Delator: ele era diretor da Dersa.

MP: o sr foi na sala dele, dentro da propria Dersa? o senhor e quem mais?

Delator: Roberto Complido

MP: só?

Delator: só.

MP: o que significa devolução de dinheiro?

Delator: me pediram pra ver como retomava o direito que estava de posse dele, em malas, pra ficar com a gente e depois iria passar para mim em conta corrente pra ser depositado

MP: Mas então não era devolução de dinheiro, era uma troca. Troca de meio de pagamento.

Delator: Eu entendi que esse dinheiro não era dele e nós estrávamos fazendo uma ajuda para alguém que estava tentando reaver o seu dinheiro e coloca-lo num lugar mais seguro, um lugar onde seria mais facil pra ele. Esse valos de 4 milhões de reais foi retirado da sala de Paulo Preto e quem retirou foi Alvaro Nogueira da Royal Corretora

Delator: Posteriormente, passado algumas semanas, Benedito Junior me chamou o Rio de Janeiro, nós fomos numa reunião no bairro do Leblon, no escritório do Jonas Barcelos, da Brasil, onde a gente teve que fazer um pagamento de dois milhões de dólares e o [Benedicto] Junior me comentou que seria referente aquele dinheiro em reais que nós tinhamos retirado das mão de Paulo Preto e que esse dinheiro provavelmente seria de propriedade do José Serra, ou pertenceria a José Serra. Nesse mesmo período sai muito na imprensa, nos estávamos no meio de uma eleição, em 2010, começando uma eleição, e o pessoal falava muito que tinha 4 milhões que tinha sumido, que Paulo Preto pegou.

MP: E nessa reunião ficou claro que o dinheiro era do Serra por que que...?

Delator: Claro, não. Quem me contou isso foi o Benedicto Júnior, fora da reunião.

Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!
Mais do G1

Sugerida para você