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Cannes: Filme com Nicole Kidman traz paralelo com tragédia grega

'The killing of a sacred deer', do diretor Yorgos Lanthimos, foi exibido nesta segunda
A atriz Nicole Kidman Foto: STEPHANE MAHE / REUTERS
A atriz Nicole Kidman Foto: STEPHANE MAHE / REUTERS

CANNES — A sensação de desencanto com a humanidade de “Happy end”, do alemão Michael Haneke, exibido nesta segunda-feira na competição do 70º Festival de Cannes, ganhou reforço em “The killing of a sacred deer”, de Yorgos Lanthimos, outro candidato do dia à Palma de Ouro deste ano. O novo filme do diretor grego — ganhador do prêmio do júri de 2015 com "O Lagosta" — avança no pessimismo e constrói uma história de terror de proporções bíblicas.

A trama é centrada na relação de um cirurgião de grande carisma, vivido por Colin Farrell, e um adolescente (Barry Keoghan), filho de um paciente que morreu sob os seus cuidados. Incialmente amistosa, envolvendo troca de mimos e encontros em lanchonetes, o relacionamento vai ganhando contornos doentios diante da insistência do rapaz, que exige disponibilidade total de seu novo amigo. Quando o filho do médico cai gravemente doente, o garoto anuncia: “Você tirou uma vida da minha família, eu vou tirar uma da sua”.

É a senha para uma escalada de suspense, em direção a um banho de sangue digno das tragédias gregas. Mas os sinais estavam lá, desde de abertura do filme, com imagens em close up de um coração humano exposto e pulsante, em plena mesa de operação, e uma trilha sonora que sublinha o clima sinistro com peças de Franz Schubert. O humor, quando surge, é mórbido e salpicado nos alguns diálogos disparatados, enunciados de maneira quase robótica pelos personagens, como em "O Lagosta".

— "The killing of a sacred deer" é um filme que é brutal por acumulação de elementos, não em suas partes menores. Nunca tratei de temas pesados com seriedade — explicou Lanthimos no encontro coma a imprensa. — Eu disse aos meus atores que o projeto era uma comédia, e acredito nisso.

A americana Nicole Kidman interpreta um papel secundário na trama, o da mulher do cirurgião. A atriz está em outras três produções da programação de Cannes deste ano: “How to talk to girs at parties”, de John Cameron Mitchell, exibido hors concours, “O estranho que nós amamos”, de Sofia Coppola, em competição, e a série de TV “Top of the lake”, de Jane Campion.

— O filme de Yorgos fala de justiça e de escolhas, da natureza humana e de seu comportamento, de como reagimos a grandes dilemas — observou Nicole. — Nós, atores, descobrimos no roteiro alguns paralelos coma tragédia grega, é daí de onde o título vem. Queríamos dialogar com algo enraizado em nossa cultura.