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Philip de Edimburgo, o consorte à sombra da rainha Elizabeth

Durante sete décadas, duque demonstrou apoio inabalável à monarca sem ofuscá-la

Em 18 de junho de 2010, a rainha Elizabeth e o príncipe Philip chegam para o quarto dia de corrida no Royal Ascot, no Sul do Reino Unido
Foto: STEFAN WERMUTH / REUTERS
Em 18 de junho de 2010, a rainha Elizabeth e o príncipe Philip chegam para o quarto dia de corrida no Royal Ascot, no Sul do Reino Unido Foto: STEFAN WERMUTH / REUTERS

LONDRES — Conhecido por sua franqueza, o príncipe Philip de Edimburgo foi o apoio inabalável da rainha nas últimas sete décadas. Agora, prestes a completar 96 anos, se prepara para iniciar uma nova etapa, sem compromissos públicos. Durante todos esses anos, ele sempre ficou dois passos atrás da rainha, sem nunca ofuscá-la, mas com enorme compromisso com a Coroa Britânica e disciplina.

— É minha rocha. Tem sido minha força e minha âncora — declarou, em 2011, a rainha, pouco inclinada a demonstrações de afeto em público.

Naquele ano, quando completou 90 anos, o duque comentou:

— É melhor desaparecer que alcançar a data da caducidade.

Philip e Elizabeth se casaram em 20 de novembro de 1947, cinco anos antes de sua mulher ser proclamada rainha. Se ela ostenta o recorde de longevidade no trono, ele é o príncipe consorte que serviu por mais tempo. Como tal, passou a vida inteira andando dois passos atrás dela.

O principal valor deste antigo oficial da Marinha Real, destinado a uma grande carreira militar até que sua mulher chegou ao trono, foi ser “o único homem do mundo a tratar a rainha como um ser humano, de igual para igual”, afirmou certa vez Lorde Charteris, ex-secretário particular de Sua Majestade.

O príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth II da Inglaterra, vai abandonar os compromissos públicos. O anúncio foi feito nesta quinta-feira pelo Palácio de Buckingham.
O príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth II da Inglaterra, vai abandonar os compromissos públicos. O anúncio foi feito nesta quinta-feira pelo Palácio de Buckingham.

Alto, magro e empertigado, poucos usaram os ternos de Savile Row com a mesma elegância. Afastado quando o protocolo exigia, Philip assumiu seu papel secundário no reinado nos melhores e piores momentos.

Segundo admitiu, foram muitos anos tateando e aprendendo a encontrar seu lugar à sombra da rainha e no coração dos britânicos, e no fim conseguiu um alto índice de popularidade, como sua mulher.

Uma tribo de Vanuatu chegou a venerá-lo como divindade ligada aos espíritos do vulcão Yasur.

INFÂNCIA TRAUMÁTICA?

Tataraneto da rainha Victoria, como a própria Elizabeth, e de ascendência alemã, o duque nasceu príncipe da Grécia e da Dinamarca, em 10 de junho de 1921 na ilha grega de Corfu. Foi o quinto filho de Alice de Battenberg e Andrew da Grécia, e o único filho homem.

Aos 18 meses, foi retirado, dentro de uma caixa de laranjas, em um barco britânico com o resto de sua família quando a república helênica foi proclamada e seu tio, o rei Constantino I — avô da rainha Sofia da Espanha — teve que se exilar.

Depois de encontrar refúgio perto de Paris, seu pai começou a frequentar os cassinos de Montecarlo e a mãe, depressiva, se refugiou em um convento.

Philip tinha 10 anos. Deixado com parentes distantes, estudou em colégios na França, Alemanha e Reino Unido até ser enviado para um austero internato escocês.

Ingressou posteriormente na Marinha Real britânica e participou ativamente nos combates durante a Segunda Guerra Mundial no Oceano Índico e no Atlântico.

Era um jovem de 18 anos quando conheceu Elizabeth, antes da guerra. Lilibeth, como era chamada por sua mãe, tinha 13 anos e se apaixonou. Os dois se casaram oito anos depois, em 20 de novembro de 1947. Philip, nomeado duque de Edimburgo, teve que renunciar aos seus títulos de nobreza anteriores e a sua religião ortodoxa, convertendo-se à Igreja Anglicana.

Em fevereiro de 1952, a morte prematura de seu sogro, o rei George VI, marcou o fim de sua carreira de oficial na Marinha e deu início ao período como príncipe consorte.

Números que marcam a vida
pública do Príncipe Philip
22.191
compromissos solo
637
visitas solo ao exterior
229
visitas a 67 países da Commonwealth
408
visitas a 76 outros países
5.493
discursos
785
iniciativas de caridade em que se envolveu
54
apresentações de bandeiras para regimentos militares
32
nomeações de serviço militar
14
livros escritos
Fonte: Palácio de Buckingham
Números que marcam a vida pública do Príncipe Philip
22.191
compromissos solo
637
visitas solo ao exterior
visitas a 67 países da Commonwealth
229
408
visitas a 76 outros países
5.493
discursos
iniciativas de caridade em que se envolveu
785
apresentações de bandeiras para regimentos militares
54
32
nomeações de serviço militar
14
livros escritos
Fonte: Palácio de Buckingham

SEM PAPAS NA LÍNGUA

Seu temperamento foi efetivamente vulcânico, sem qualquer consideração pelo politicamente correto, apesar de ter ficado mais calmo nos últimos anos.

— Você conseguiu que não o comessem? — perguntou a um jovem britânico que viajara a Papua-Nova Guiné em 1998.

— Vocês têm mosquitos, eu tenho jornalistas — disse na Dominica em 1966, e depois compararia os profissionais da imprensa aos macacos de Gibraltar.

Na Austrália em 1960, um homem chamado Robinson o abordou e confessou:

— Minha mulher, doutora em Filosofia, é muito mais importante que eu.

— Temos o mesmo problema em minha família — respondeu o duque.

Em outra oportunidade, um menino afirmou que desejava ser astronauta e Philip rebateu que ele estava muito gordo para voar.

Ao ser questionado se desejava visitar a União Soviética, respondeu:

— Adoraria visitar a Rússia, mas os bastardos assassinaram metade de minha família — disse ele, em referência ao destino dos Romanov.

Seu entorno o ouviu reclamar milhares de vezes de seu destino, criticar a perda de valores ou reclamar das loucuras de seus quatro filhos nos anos 1980, e até contra “os malditos cães” da rainha, sempre o agarrando pelas pernas.

“As pessoas têm a impressão de que príncipe Philip não se importa em nada com o que pensam dele, e têm razão”, escreveu o ex-primeiro-ministro Tony Blair em suas memórias.