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Política Lava-Jato

Aécio usava Land Rover em nome de rádio citada por Joesley como intermediária de mesada

Relação do senador com emissora foi revelada depois que tucano foi parado em blitz da Lei Seca
Aécio também é dono de um carro da marca Land Rover Foto: Montagem O Globo
Aécio também é dono de um carro da marca Land Rover Foto: Montagem O Globo

RIO — Citada pelo empresário Joesley Batista como intermediária para a mesada de R$ 50 mil da JBS ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), entre 2015 e 2017, a rádio Arco-Íris não constava nas declarações de bens do tucano até ele ter sua carteira de habilitação — vencida — apreendida em uma blitz da Lei Seca, no Leblon. Na madrugada do dia 17 de abril de 2011, Aécio foi parado quando dirigia o Land Rover placa HMA-1003. Após a apreensão do documento, verificou-se que o carro havia sido comprado em novembro de 2010 em nome da emissora. Aécio foi sócio da rádio e vendeu sua parte, em 2016, para a irmã Andrea Neves.

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Naquela noite de 2011, Aécio voltava de uma reunião com amigos. Parado pelos agentes, ele se recusou a fazer o teste de bafômetro e foi multado em R$ 1.149, 24 — R$ 957,70 por se negar a assoprar o equipamento e R$ 191,54 pelo documento vencido. O senador do PSDB perdeu ainda 14 pontos na habilitação — sete por não fazer o teste e outros sete por estar dirigindo com o documento vencido. Na volta para casa, um taxista que estava na esquina das ruas Bartolomeu Mitre e General San Martin, local onde Aécio foi parado, se ofereceu para conduzi-lo junto à sua namorada em sua Land Rover por três quarteirões até chegar ao seu apartamento no Rio.

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Três anos depois, durante a campanha presidencial de 2014, Aécio declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que detinha cotas da Arco Íris, afiliada da Jovem Pan, no valor de R$ 700 mil. Na declaração, ele discriminava o bem como forma de uma dívida que mantinha com a antiga dona da emissora, Inês Maria Neves Faria — sua mãe.

Na mesma declaração, Aécio registrou a posse do veículo Land Rover Freelander ano 2012, avaliado em R$ 166.500.

Em março deste ano, o jornal “Folha de S. Paulo” mostrou que o patrimônio declarado pelo senador triplicou após a eleição de 2014, na qual ele foi derrotado pela petista Dilma Rousseff. Saltou de R$ 2,5 milhões em 2015 para R$ 8 milhões em 2016.

Dois anos depois, em setembro de 2016, o tucano vendeu suas cotas na rádio Arco-Íris para outra sócia — sua irmã Andrea. Porém, o senador declarou ao Receita Federal, de acordo com jornal, que elas valiam R$ 6,6 milhões, quase dez vezes mais do que um ano antes.

Ao mesmo tempo, a mãe de Aécio perdoou a dívida com o filho. Os mesmos R$ 6,6 milhões foram declarados por Andrea em seu Imposto de Renda — cujo sigilo também foi quebrado pelo STF.

RÁDIO RECEBEU VERBA DO GOVERNO DE MG

A partir da informação de que o senador tucano era um dos proprietários da rádio Arco Íris, tendo inclusive outros carros em nome dela, o Ministério Público Estadual (MPE) de Minas Gerais abriu inquérito civil para investigar repasses do Palácio Tiradentes à emissora, entre 2003 e 2010, período em que Aécio governoui o estado. A irmã de Aécio, Andrea Neves, atualmente em prisão domiciliar, é citada no mesmo inquérito como a pessoa responsável pelos pagamentos da publicidade oficial e outros gastos com comunicação.

O governo admitiu ter feito repasses à emissora em 2010, mas afirmou que os pagamentos foram legítimos. Não satisfeita com a declaração, a oposição tentou em vão criar uma CPI sobre o caso na Assembleia Legislativa.

Em nota, a defesa do senador Aécio Neves classifica de "má-fé" o depoimento do empresário Joesley e o acusa de querer apenas manter seu acordo de delação premiada. Diz ainda que o tucano "jamais fez qualquer pedido ao delator" e que Joesley "se utiliza de uma relação comercial lícita mantida entre empresas de seu grupo e um veículo de forte inserção no mercado mineiro para forjar mais uma falsa acusação."

Procurada, a assessoria do senador afirmou que "as cotas da rádio Arco-Íris estão devidamente declaradas no imposto de renda do senador Aécio Neves a partir do ano fiscal de 2010, tendo ele se integrado à sociedade da emissora em dezembro daquele ano. O senador não utiliza mais veículo da emissora uma vez que não é mais sócio da empresa. Toda a documentação pessoal do senador encontra-se absolutamente regular."

Também afirma que "o questionamento sobre o relacionamento entre o governo do estado e a emissora foi feito ao Ministério Público de Minas Gerais por três deputados da oposição, por duas vezes, nos anos de 2011 e 2012. O MP investigou e arquivou as duas ações após verificar a ausência de irregularidades".

A assessoria do senador menciona ainda que, durante o governo Aécio Neves, "não existiu nenhum tipo de patrocínio do governo junto à emissora. Com relação a inserções de campanhas institucionais e educativas, a emissora recebeu exatamente o mesmo número de comerciais que cerca de 300 outras emissoras no estado. Enfim, o tratamento dispensado à emissora, observou o princípio público da impessoalidade e da isonomia de tratamento".

CONFIRA A NOTA

“A Defesa do senador Aécio Neves considera que se trata de mais uma demonstração da má-fé e do desespero do delator Joesley Batista na tentativa de manutenção do seu extraordinário acordo de delação, atualmente sob risco de ser anulado.

O senador jamais fez qualquer pedido nesse sentido ao delator, da mesma forma que, em toda a sua vida pública não consta nenhum ato em favor do grupo empresarial. O sr. Joesley Batista se utiliza de uma relação comercial lícita mantida entre empresas de seu grupo e um veículo de forte inserção no mercado mineiro para forjar mais uma falsa acusação. Ao dar início à negociação de acordo de delação, delatores se comprometem a suspender qualquer prática irregular.

Prova de que o contrato com a emissora foi uma relação comercial legal e desprovida de qualquer conotação pessoal é que o contrato foi mantido normalmente, até a data do seu encerramento.

A afirmação do delator de que não sabia se os serviços teriam sido prestados, demonstra o alcance da sua má-fé, já que bastaria uma consulta ao setor de comunicação das suas empresas para constatar que os serviços foram correta e efetivamente prestados.

A falta de credibilidade e as sucessivas mentiras e omissões praticadas pelo delator levaram a PGR a pedir a rescisão dos benefícios de sua delação e contribuem para desqualificar mais uma mentira desse cidadão, réu confesso de mais de duas centenas de crimes e pelos quais o Brasil espera que ele venha a responder”.