Do território britânico, o santo se espalhou para o resto da Europa, inclusive Portugal, onde “São Jorge!”, tornou-se um grito de batalha no século XIV Foto: Guito Moreto / O Globo

O Santo Pop


São Jorge, um guerreiro como todo carioca

Do território britânico, o santo se espalhou para o resto da Europa, inclusive Portugal, onde “São Jorge!”, tornou-se um grito de batalha no século XIV Foto: Guito Moreto / O Globo

Falência do estado e índices de criminalidade em alta fazem aumentar devoção ao cavaleiro da Capadócia no Rio

por Ludmilla de Lima

RIO - São Jorge é o santo que teve sete vidas. Reza o mito que suportou as maiores torturas e que venceu até um dragão. Ele derrotou inclusive o poder da Igreja: o fato de ter sido rebaixado na década de 1960 para o terceiro escalão dos santos católicos — e reconduzido ao primeiro nível em 2000 por João Paulo II — não diminuiu a devoção à imagem do bravo militar sobre um cavalo branco. No Rio de Janeiro, quanto mais difícil o quadro de violência, mais pedidos são feitos a São Jorge — o Ogum nas religiões afro no Rio. A veneração ao cavaleiro da Capadócia ganhou força na cidade nos anos 1990, devido à insegurança. De lá para cá, ele esteve presente em enredo de escola de samba; foi tema de novela; estampou roupas de grife e passou definitivamente a fazer parte do mundo da decoração. Com a crise financeira do estado e os índices de criminalidade galopantes, esse culto ao santo guerreiro — que não baixou a cabeça nem para o imperador romano — tende a explodir. Padre Dirceu Rigo, da Paróquia de São Jorge, em Quintino, espera receber neste domingo um milhão de fiéis em busca de proteção.

Devoção a São Jorge

  • São Jorge é um dos santos mais venerados no catolicismo Foto: Guito Moreto / O Globo

  • Rosas vermelhas em homenagem ao santo guerreiro Foto: Guito Moreto / O Globo

  • O santo foi imortalizado na lenda em que mata o dragão Foto: Guito Moreto / O Globo

  • Os mistérios sobre os rumos de São Jorge começam no berço. A versão mais aceita é a de que ele nasceu no ano 280, na Capadócia, um refúgio cristão na atual Turquia Foto: Guito Moreto / O Globo

  • Mudou-se com a mãe para a Palestina na adolescência e se alistou no Exército romano, mas questionou a perseguição aos cristãos comandada pelo coimperador Galério, que queria forçar os militares a se converter ao paganismo, e foi torturado Foto: Guito Moreto / O Globo

  • Terminou degolado no dia 23 de abril de 303. Sua tumba está até hoje em uma igreja na cidade de Lod, em Israel Foto: Guito Moreto / O Globo

  • Em 1190, na Terceira Cruzada, o rei Ricardo Coração de Leão nomeou o santo como protetor de uma das expedições e desenhou uma cruz vermelha no uniforme dos militares Foto: Guito Moreto / O Globo

  • Do território britânico, o santo se espalhou para o resto da Europa, inclusive Portugal, onde “São Jorge!”, tornou-se um grito de batalha no século XIV Foto: Guito Moreto / O Globo

  • E aí foi a vez do Brasil. Aqui, São Jorge chega como o “santo estatal”, imposto pelos conquistadores aos índios e escravos africanos Foto: Guito Moreto / O Globo

  • Mas os negros logo deram um jeito para que a umbanda e o candomblé resistissem na colônia. São Jorge é Ogum, o orixá da guerra, do combate, do ferro e da metalurgia Foto: Guito Moreto / O Globo

O santo dos momentos de guerra

Festa em Quintino deve receber mais de 1 milhão de pessoas este ano - Márcia Foletto / Agência O Globo

No ano passado, passaram pela igreja cerca de 700 mil pessoas. O padre traça um paralelo entre o mito e o dia a dia dos cariocas para explicar tamanha paixão por São Jorge.

— Quantos dragões o carioca enfrenta todo dia? São Jorge tem uma imagem muito forte de bravura, e vejo na nossa igreja as pessoas pedindo força e coragem. E quais são os dragões dos cariocas? O primeiro é a violência. Não temos mais segurança no Rio de Janeiro. Outro tem a ver com a saúde, olha quanto gente morrendo na porta dos hospitais. Temos ainda o dragão da educação e o da corrupção. Por isso o povo se identifica muito com São Jorge, porque o carioca tem essa bravura — afirma padre Dirceu, contando que São Jorge chegou a conselheiro do imperador Diocleciano, que perseguia os cristãos.

O cavaleiro do Império, por ser cristão, era um subversivo. Na narrativa desenvolvida depois pela Igreja, ele, por não negar suas convicções ao ser questionado pelo imperador, acabou preso. Sucumbiu apenas depois de ser chamado pelo Senhor. A professora Georgina Silva dos Santos, do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF), carrega sempre com ela um anel de ouro com o santo. Seu nome é uma homenagem ao próprio: seu pai, Jorge, nasceu no dia 23 de abril de 1914 e era da Irmandade de São Jorge. Ela também é do dia 23, só que de junho. Georgina é devota desde o berço e, quando foi fazer doutorado na USP, buscou a explicação histórica para o que sentia e via ao seu redor. Ela lembra que, na infância, essa devoção a São Jorge não era muito diferente da dedicada a outros santos, como a São Sebastião, padroeiro da cidade.

O guerreiro ganha vulto em momentos críticos do Rio:

— Essa devoção tem um pico por causa dos índices de violência altíssimos. As pessoas acabam evocando o santo para proteger a cidade. Em que medida essa devoção contribuiu para diminuir a violência, não sabemos. Mas, na dúvida, é melhor pedir — acredita a historiadora, explicando. — Na minha infância tinha festa para São Jorge nas igrejas como havia para Nossa Senhora das Graças, para Santo Antônio... Não era essa coisa pop. A sociedade fala dos seus medos, das suas angústias por trás de certos cultos. No Rio, a segurança é algo que aflige a todos, desde o mais humilde ao mais rico. Ninguém está imune a bala perdida, e hoje se mata por uma bicicleta. A invocação do São Jorge é, no fundo, a declaração de que estamos vivendo um conflito armado. A incompetência dos gestores em se dar conta disso faz com que se apele a uma outra instância, muito superior, para que ela consiga interferir na realidade objetiva.

Comoção e sincretismo

Carreata em Madureira celebra São Jorge no ano de 1980 - Paulo Moreira / Agência O Globo - 17-04-1980

Entre os lusitanos, os surtos de devoção se dão, tradicionalmente, em períodos de guerra. O primeiro foi no século XIV, quando Portugal derrotou a Espanha numa batalha pelo poder do reino. Com um exército minguado, o condestado (chefe militar da época) fez promessa a São Jorge. Tudo leva a crer que a oração foi forte: com a vitória, o santo ganhou papel de destaque na monarquia, e começou a fazer parte das procissões de Corpus Christi. No Rio colonial, sua imagem tinha grande apelo. Padroeiro da Dinastia de Bragança, durante o Império era venerado pela Corte e, nas romarias, sua imagem era acompanhada por 23 cavalos e saudada com tiros de canhão. Em sinal de humildade, o imperador descobria a cabeça na passagem do santo que lembra um príncipe.

— O evento daquela época equivale ao que seria hoje os desfiles de escola de samba, em termos de aparato e acontecimento — diz Georgina. — A comoção vista hoje se aproxima da ocorrida na época do Império.

Ligado aos ofícios de ferro e fogo — como ferreiros, espadeiros, armeiros e mesmo barbeiros, considerados essenciais ao funcionamento do exército —, São Jorge tinha esses profissionais na formação da sua irmandade no Rio. A mistura com as religiões de raiz afro nasce da relação desses homens e sua mão de obra escrava. Além disso, meninos negros vestidos pela irmandade acompanhavam a procissão ao lado da imagem. Sem qualquer cerimônia, muitos vão prestar este mês devoção a São Jorge e a Ogum, nas igrejas e nos terreiros. Desde a década de 1960, a escola de samba Império Serrano, que tem São Jorge como padroeiro, comanda uma carreata pelo subúrbio, no domingo depois do feriado, que sai da quadra, passa pela igreja em Quintino, pelo Centro Espírito Caminheiros da Verdade, no Engenho de Dentro, faz uma parada na Imperatriz Leopoldinense e segue para uma feijoada na Serrinha. O dia acaba também na quadra com, claro!, muito, samba e cerveja — “Já coloquei na pedreira/Cerveja preta para o Rei Xangô/Cerveja branca também coloquei na mata/A noite inteira “Seu” Ogum bebericou/Quem canta o mal espanta/Explode coração/No combustível da ilusão”, diz um trecho da letra “Samba suor e cerveja”, de 1985, do Império.

— O dia de São Jorge é o grande momento de congraçamento dos imperianos — comenta a pesquisadora da escola de samba Rachel Valença.

O protetor dos boêmios

O cantor Zeca Pagodinho é devoto do santo guerreiro - Guito Moreto / Agência O Globo

Zeca Pagodinho tem nas suas três casas quadros e estátuas de São Jorge e Ogum, de todos os tamanhos e estilos. Devoto, ela dá entrevista na sua cobertura na Barra enquanto bebe na companhia do santo. Sim, o santo tem o seu copo de cerveja.

— Mas o santo só toma um copo. Senão, quem vai cuidar de mim? — diz o sambista, representante maior da alegria carioca, mas que anda muito triste.

Hoje, não vai ter feijoada em casa, como era de costume. Zeca vai ficar recolhido, rezando.

— O Rio de Janeiro está essa bagunça que tá, nessa crise que abalou tudo. E muitos amigos meus doentes como Arlindo (Cruz), Luiz Melodia e Almir Guineto. Não estamos em clima de festa — decreta ele, que é da legião de fãs de São Jorge desde criancinha e compôs com Beto Sem Braço “Depois do Temporal” (”Vi São Jorge guerreiro, com sua lança de prata/Nos livra da vida ingrata e de tudo quanto é mau/Dos falsos perfumes e da faca de dois gumes/Nos dê como lenitivo algo muito especial/Depois de quê?/Depois do temporal”). — Ele é padroeiro do povo sambista, dos malandros, dos bicheiros, do jogador de futebol. Todo mundo tem um São Jorge. Talvez porque ele seja da noite, da lua, dos boêmios. A gente tá na rua e sempre diz: “ai, meu São Jorge”.

Padroeiro extraoficial

Fábio Loio, diretor da Portela e dono de um bar em Bento Ribeiro, promove uma feijoada com roda de samba em homenagem a São Jorge - Bárbara Lopes / Agência O Globo

Cada um manifesta a seu modo a fé no santo. No bar da família do diretor de carro alegórico da Portela, Fábio Loio, vai ter feijoada, cerveja gelada, roda de samba e DJ. O Botequim do Tuninho tem mais de 50 anos e foi fundado por seu pai, um português já falecido, na Rua Picuí, em Bento Ribeiro. Todos ali são admiradores do santo, que tem um altar. Fábio não passa uma semana sem ir à igreja de Quintino e hoje cumpre o papel de voluntário da pastoral do dízimo — ou seja, fará a coleta de dinheiro durante a missa. Aliás, serão 12 celebrações ao longo do dia em Quintino, feitas por quatro bispos. Às 18h, haverá show com Jorge Ben Jor.

Pelas histórias de Fábio, os seus santinhos já andaram operando milagres por aí:

— Fui assaltado recentemente, no carnaval. De dia, levaram meu carro com um São Jorge dentro. Os bandidos foram dar uma voltinha na favela, bateram com o carro e foram presos. E não morreram. Até nisso o São Jorge foi bom com eles. Estava indo para o desfile da Portela quando soube. O seguro pagou o carro, mas eles levaram meu São Jorginho.

O estilista Beto Neves, da Complexo B, se agarrou a “espíritos de luz” como São Jorge para seguir a vida após uma grande tragédia, em 2013. A sobrinha Manuela Neves, o namorado dela, Rafany Pinheiro, e a mãe Linete Neves foram mortos numa chacina em São Gonçalo.

— O meu royalty com São Jorge é perseverança. Naquele momento eu precisava acreditar em alguma coisa — confessa o estilista, que, devoto, introduziu (para sempre) o São Jorge na moda, em 2000, época em que muitos achavam que o santo era coisa só de “Mercadão de Madureira”.

Este ano a coleção será especial, já que a grife faz 23 anos. Em termos de vendas, dia de São Jorge é igual Natal para Beto, que já pintou e bordou com o guerreiro, transformado até em Pequeno Príncipe num lançamento infantil:

— São Jorge circula por várias religiões e classes. É protetor dos policiais e dos bandidos. Que me desculpe São Sebastião, mas São Jorge é o rei do Rio!

Ícone além da religião

Beto Neves e suas camisetas com o ícone de São Jorge - Gustavo Miranda / Agência O Globo

ARTE: O cavaleiro é tão querido que um batalhão de artistas — quase 200 — participa da exposição “Salve Jorge 23”, que abre hoje e vai até o dia 6 de maio no espaço Porto das Artes – Fábrica de Espetáculos, na Gamboa. A mostra está no seu 9º ano e é comandada, obviamente, por um devoto: o artista plástico Raimundo Rodriguez. “Haverá uma performance com um cavalo mecânico que eu criei. E a mostra terá pintura, escultura, desenho... É uma celebração que fazemos todos os anos e que reúne muitos judeus e pessoas de outras religiões. Mais que um santo, São Jorge é um arquétipo”, afirma Raimundo.

MODA: O estilista Beto Neves foi pioneiro ao levá-lo para a passarela, em 2000. E o santo, antes marginalizado, passou a vestir de umbandistas à galera cult da Zona Sul. A grife Reserva e sua versão infantil, a Reserva Mini, acabam de lançar uma linha dedicada ao nobre guerreiro. Tem até um body para bebês em que o pica-pau mascote da marca aparece de armadura na luta contra o dragão.

MÚSICA : Quando se pensa num hino a São Jorge vem logo à cabeça “Jorge da Capadócia”, do super devoto Jorge Ben Jor. “Jorge sentou praça na cavalaria/E eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia/Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge/Para que meus inimigos tenham pés, não me alcancem/Para que meus inimigos tenham mãos, não me peguem, não me toquem/Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam/E nem mesmo um pensamento eles possam ter para me fazerem mal”. Em 2007, quatro Jorges — Aragão, Vercillo, Mautner e Ben Jor — se juntaram no projeto “Coisa de Jorge”, lançado em CD e DVD.

HISTÓRIA E LITERATURA: A historiadora Georgina Silva dos Santos é autora de “Ofício e sangue. A Irmandade de São Jorge e a Inquisição na Lisboa moderna”, livro publicado em 2005 pela Colibri de Lisboa. Hoje, o escritor Victor Alvim Itahim Garcia, conhecido por Lobisomem, vai rodar por igrejas e terreiros com seu mais novo trabalho: o infantil “Jorge, o dragão e o cavaleiro que sabia voar”. O personagem criança é uma homenagem a Jorge Ben Jor. Lobisomem também é autor de cordéis, como “O maravilhoso encontro de Jorge Ben Jor com São Jorge”.

DECORAÇÃO : A novela “Salve Jorge”, escrita por Gloria Perez e que foi ao ar na TV Globo a partir de outubro de 2012, ajudou a tornar o santo ainda mais popular. Com o sucesso, ele entrou em casas onde nem era tão venerado. A marca Imaginarium, por exemplo, lançou uma coleção de peças em homenagem a ele. “Todo bar de verdade tem que ter um São Jorge na decoração”, diz Emerson Pedrosa, chef e sócio do Bar Kalango, que fica na Praça da Bandeira.

Do dragão à peruca: cinco curiosidades

A imagem de São Jorge na igreja da Rua da Alfândega: peruca do santo é cuidada em salão - Roberto Moreyra / Agência O Globo

1 - São Jorge, que teria vivido entre os séculos II e III, é um santo de canonização literária. Pasicrato, escrevendo em grego, foi o autor dos primeiros relatos, que dão conta de que Jorge salvou o boi de um lavrador e ajudou uma viúva a encontrar o filho. Já a narrativa da Igreja Católica é do final do século X, quando incluíram passagens e personagens históricos à sua biografia.

2 - O dragão surge bem depois, por volta dos séculos XI e XII. O monstro fazia parte das lendas das culturas celta e saxônica. E os cruzados ingleses e franceses voltaram da Terra Santa com relíquias de São Jorge, considerado por esses soldados como modelo a ser seguido. Esse apelo junto à cavalaria medieval acabou colocando o santo numa batalha em que derrota o dragão.

3 - Em 1969, o Papa Paulo VI reformou o calendário litúrgico da Igreja Católica e rebaixou São Jorge a uma terceira categoria entre os santos, tornando opcional a festividade em homenagem ao seu dia. A justificativa era a falta de registros históricos sobre o santo guerreiro, que ninguém sabe com precisão quando e onde nasceu e morreu. Ele foi depois reabilitado pelo Papa João Paulo II.

4 - O primeiro registro sobre São Jorge no Brasil data de 1549, em carta do padre jesuíta Manuel da Nóbrega enviada ao rei. Ele contava que houve uma procissão na Bahia do Corpo de Deus, e que a imagem de São Jorge saiu no cortejo, como acontecia em Portugal.

5 - A popular Igreja de São Jorge na Rua da Alfândega é, oficialmente, Igreja de São Gonçalo Garcia e São Jorge. O santo guerreiro chegou depois: ele, na verdade, foi “abrigado” lá por São Gonçalo no fim do século XIX porque seu templo, na Rua Gonçalves Ledo, estava em péssimo estado de conservação e acabou demolido. São Jorge, cuja imagem usa uma peruca muito bem cuidada por cabeleireiro, acabou ofuscando São Gonçalo Garcia.

O cavaleiro pelo mundo


Mulheres em pernas de pau acenam bandeiras com a cruz vermelha de São Jorge, padroeiro da Inglaterra, na Trafalgar Square, em Londres - Lauren Hurley / AP

São Jorge tem sua legião de devotos espalhada pelo mundo. Padroeiro da Inglaterra, ele também é festejado em locais tão diversos como a Catalunha e a Palestina. Em Barcelona, todo 23 de abril - que, reza a lenda, seria da data da morte de São Jorge, no ano 303 - é tomado por uma atmosfera romântica: o dia de "Sant Jordi" também é o dia dos namorador por lá. As ruas são coloridas por bancas de rosas, presenteadas às mulheres, e de livros, oferecidos aos homens. Shakespeare e Cervantes também morreram em 23 de abril, que virou o Dia Mundial do Livro: por isso, a tradição na Catalunha, que tem o nobre guerreiro como padroeiro. Em relação às rosas, diz o mito medieval de São Jorge que ele, ao salvar uma princesa de um dragão, fere o monstro, sendo que no lugar onde é derramado o sangue nasce uma roseira. A flor então surge como símbolo de amor e amizade.
Na Inglaterra, a história ligada ao santo tem mais a ver com força. O Rei Ricardo Coração de Leão, no começo do século XII, teria elevado São Jorge à condição de protetor dos soldados durante a terceira cruzada. O uniforme dos militares ganhou uma cruz vermelha, a cruz de São Jorge, que foi parar na bandeira inglesa. O St. George's Day conta com encenações de batalhas medievais e de lendas do santo. Em Londres, na Trafalgar Square, há um festival com música.
Para os palestinos, São Jorge é um herói. Apesar de sua história nebulosa, ele teria vivido em al-Khadr, perto de Belém. Sua linhagem estaria ligada à Capadócia, na Turquia, mas sua mãe seria uma palestina da cidade de Lod, que fica Israel. Ele é personagem sempre presente em igrejas da Cisjordânia e de Israel, onde, em abril, são preparados pães especiais com a sua figura. O alimento é associado com proteção. Palestinos muçulmanos também participam dos rituais:muitos acreditam que um servo de Deus mencionado no Corão como um amigo de Moisés seria uma referência a al-Khadr, como são São Jorge é conhecido na cultura árabe.