Política Lava-Jato

Apontado como operador do PSDB, Paulo Vieira vai para Cadeião de Pinheiros

Delatores da Odebrecht acusaram Paulo Preto de cobrar propina em contratos do governo de SP
Paulo Preto, ex-diretor da Dersa Foto: Geraldo Magela / Agência O Globo
Paulo Preto, ex-diretor da Dersa Foto: Geraldo Magela / Agência O Globo

SÃO PAULO — O ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto , foi preso na manhã desta sexta-feira, por determinação da Justiça Federal . Além de cumprir o mandado de prisão preventiva, a Polícia Federal fez buscas na casa de Paulo Preto, apontado pelas investigações como operador do PSDB.

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O pedido de prisão preventiva de Paulo Preto veio da 5ª Vara Criminal Federal em São Paulo, a mesma que recentemente aceitou denúncia contra ele pelo desvio de  R$ 7,7 milhões, entre 2009 e 2011, durante o governo do então governador José Serra (PSDB), a quem Souza é ligado.

O operador foi acusado de incluir 1,8 mil falsos beneficiários de desapropriações em função das obras do trecho Sul do Rodoanel, da avenida Jacu-Pêssego e das obras de ampliação da Marginal Tietê. Foi durante o governo do tucano José Serra (PSDB), a quem Vieira é ligado.

A acusação é, no entanto, pequena perto do volume de informações já à disposição dos integrantes da força tarefa da Lava-Jato paulista. As atividades de Paulo Preto junto às construtoras que venciam licitações em obras viárias no estado foram relatadas em detalhes em

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trechos ainda sigilosos da colaboração de Adir Assad, antigo operador de lavagem de dinheiro.

Assad era investigado desde 2012, mas suas rede só ruiu quando foi alcançado pela Lava-Jato, durante investigações sobre a Andrade Gutierrez, uma de suas principais clientes. Ele cobrava uma comissão para emitir notas frias a empresas que precisavam de dinheiro em espécie para fazer pagamentos ilegais.

Condenado à prisão, Assad fez acordo de colaboração em troca da redução de pena. Ele contou aos procuradores ter entregue malas de dinheiro diretamente a Paulo Preto, em imóvel que tinha até parede falsa para guardar recursos .

Autoridades suíças informaram à Lava-Jato que outra parte do dinheiro de Paulo Preto esteve no exterior: pelo menos 35 milhões de francos (cerca de R$ 113 milhões) passaram por quatro contas associadas à offshore panamenha Grupo Nantes S/A, tendo Paulo Preto como beneficiário.

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Assad não é o único motivo de pesadelo para o ex-diretor da Dersa. Paulo Preto também foi mencionado na colaboração de executivos da Odebrecht. O ex-diretor de Infraestrutura Benedicto Júnior contou que o dirigente cobrou 0,75% do valor de um contrato de execução do Rodoanel, o que teria resultado em um pagamento de R$ 2,2 milhões. O mesmo percentual teria sido aplicado a contratos da OAS no Rodoanel.

Conforme revelou O GLOBO no ano passado, a empreiteira transferiu durante o governo José Serra R$ 4,8 milhões para contas da Legend Associados, uma das empresas da “lavanderia” de Assad.

Paulo Vieira de Souza (camiseta azul) deu entrada em Centro de Detenção Provisória Foto: Reprodução/GloboNews
Paulo Vieira de Souza (camiseta azul) deu entrada em Centro de Detenção Provisória Foto: Reprodução/GloboNews

ACUSADO DE ORGANIZAR CARTEL

Outro ex-diretor da Odebrecht, Carlos Armando Paschoal, disse que Paulo Preto organizava um cartel das empreiteiras. Também delator, o ex-executivo da Odebrecht Luiz Eduardo Soares afirmou que o dirigente era representante de Serra, o que ele nega.

Além deste processo, o ex-diretor da Dersa foi citado em delações da Odebrecht. Ele é acusado de participar de um esquema de corrupção nas obras do Rodoanel de São Paulo, entre 2004 e 2008.

Delatores afirmam que ele pediu dinheiro para o caixa dois das campanhas dos tucanos José Serra e Aloysio Nunes — ambos negam as irregularidades. Paulo Preto é amigo pessoal de Aloysio, hoje ministro de Relações Exteriores.

Os advogados Daniel Bialski e José Roberto Santoro divulgaram nota em que dizem que a defesa de Souza não tem "qualquer relação com a Lava Jato", embora o próprio MPF de São Paulo tenha dito que a medida foi pedida pela força-tarefa do estado.

"No entendimento da defesa, trata-se de uma medida arbitária, sem fundamentos legais, além de desnecessária diante do perfil e da rotina do investigado, sempre à disposição da Justiça", diz a defesa.