Economia Greve geral

Para João Doria, grevistas são ‘vagabundos’ e ‘preguiçosos’

Prefeito de SP disse que vai cobrar multa de sindicato de motoristas de ônibus; internautas rebatem postura com tweet publicado por ele próprio em 2013

Vestido de gari, prefeito João Doria varre a Avenida Paulista para divulgar ações de zeladoria (07/01/2017)
Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Vestido de gari, prefeito João Doria varre a Avenida Paulista para divulgar ações de zeladoria (07/01/2017) Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

SÃO PAULO - O prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) chamou de “vagabundos”, “preguiçosos” e “pelegos” os trabalhadores que aderiram à greve geral desta sexta-feira, em protesto contra as reformas trabalhista e da Previdência. Em entrevista à Rádio Jovem Pan, o tucano afirmou que vai cobrar multas dos sindicatos de motoristas de ônibus, que resolveram cruzar os braços, e cortar o ponto dos servidores municipais que faltarem ao serviço.

— Acordo cedo e trabalho. Não sou grevista, que dorme, é preguiçoso e acorda tarde. Eu não sou Jaiminho, não — afirmou o prefeito, fazendo referência ao personagem Jaiminho carteiro, do seriado mexicano Chaves.

Ao final da entrevista, Doria comentou a tentativa de manifestantes de bloquearem sua saída de casa:

— Volto a dizer a esses grevistas, que quiseram inclusive bloquear meu acesso, que acordem mais cedo. Vagabundos! Porque o prefeito acorda cedo. Da próxima vez acordem mais cedo se quiserem bloquear o acesso do prefeito ao seu espaço de trabalho.

Nas redes sociais, internautas usam um tweet de 2013 publicado pelo próprio Doria para contrapor as palavras do atual prefeito de São Paulo.  Em 10 de julho de 2013, véspera de uma paralisação geral marcada contra o governo da então presidente Dilma Rousseff, o empresário não se referiu aos grevistas com o tom adotado para se referir à mobilização desta sexta-feira. "Greve geral de amanhã pode ser o teste mais difícil do Governo Dilma", escreveu ele, na época.

A cidade de São Paulo amanheceu sem nenhum serviço de transporte funcionando nesta sexta-feira. Funcionários de trem, metrô e ônibus decidiram não trabalhar. O prefeito lembrou que a Justiça havia determinado, na quinta-feira, que 80% dos ônibus deveriam estar em circulação.

— Vamos cobrar as multas daqueles sindicatos que romperam a ordem e a determinação da Justiça. Meio milhão de reais foi a multa determinada para a paralisação do transporte de ônibus que não garantisse pelo menos 80% dos ônibus. Se não pagar, vamos cobrar judicialmente.

No decorrer da entrevista, o prefeito não poupou críticas aos sindicalistas:

— Uma parte desses que promovem greve estão aí há dez, 30 anos, fazendo política partidária. muitos enriqueceram, tem casa de luxo, carro de luxo ,às custas do trabalhador e daquele que é obrigado a pagar contribuição sindical. Num momento em que precisa de apoio para gerar emprego, não tem. Para gerar greves, aparece tranporte, lanchinho e facilidades. Uma vergonha.

Além de cobrar multa dos sindicatos, Doria pretende cortar o ponto de servidores municipais que não forem ao trabalho. Segundo ele, funcionários da Prefeitura Regional de Pinheiros não foram para casa na noite de quinta-feira e dormiram no trabalho “para que hoje pudessem estar ali trabalhando”. Paulo Mathias, subprefeito de Pinheiros, já havia apresentado os funcionários que dormiram no local para conseguir trabalhar no dia seguinte.

— Nós somos a favor das greves, mas não em dia de trabalho — declarou o Mathias em vídeo divulgado nas redes sociais.