Política

Secretária de Direitos Humanos de Doria se demite após 'ação desastrosa' na Cracolândia

Patrícia Bezerra entregou o cargo após permitir que Secretaria fosse ocupada por manifestantes contrários à ação policial na região

SÃO PAULO — A secretária de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo, Patrícia Bezerra, entregou o cargo na noite desta quarta-feira por discordar da ação policial realizada na Cracolândia. Vereadora pelo PSDB, mesmo partido do prefeito João Doria e do governador Geraldo Alckmin, Patrícia assumiu a pasta em janeiro deste ano e, após o pedido de afastamento, retornará à Câmara Municipal.

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— Não concordo com o que foi feito no domingo. Foi desastrosa a ação de domingo — declarou a então secretária em reunião com com coletivos e organizações que realizam trabalhos com dependentes químicos na Cracolândia.

A fala de Patrícia, registrada em vídeo, foi divulgada ontem pela página do grupo Craco Resiste nas redes sociais. No vídeo, Patrícia diz aos presentes que também não aprovou as ações realizadas pela polícia.

Ela afirma não temer perder o cargo de secretária por se posicionar contrária às decisões da Prefeitura e menciona ter declarado isso em outra reunião realizada com os coletivos. De acordo com a página, os ativistas se reuniram com a secretária na tarde desta quarta-feira.

— Na reunião que tive com vocês aqui eu disse que, se for um dia para optar por um lado, governo ou minoria, nós temos o nosso lado já escolhido. Não estou preocupada se isso põe em risco a minha cadeira. A minha cadeira está à disposição de quem quiser sentar nela — afirmou Patrícia Bezerra.

A secretária de Direitos Humanos Patrícia Bezerra criticou muito a ação policial comandada por seu correligionário João Doria, prefeito de São Paulo Foto: Reprodução/Facebook
A secretária de Direitos Humanos Patrícia Bezerra criticou muito a ação policial comandada por seu correligionário João Doria, prefeito de São Paulo Foto: Reprodução/Facebook

Patrícia pediu demissão após autorizar uma ocupação na secretaria municipal de Direitos Humanos de Cidadania, localizada no centro de São Paulo. De acordo com a página Craco Resiste, os ocupantes exigem uma audiência pública com Filipe Sabará, secretário de Assistência Social, o fim da "ocupação militar" na região e ajuda na localização de pessoas desaparecidas durante a operação realizada no domingo.

Em nota oficial, divulgada pelo portal G1, Patrícia se dirige diretamente ao prefeito João Doria para explicar o porquê de sua saída. “Sr. Prefeito, diante das dificuldades que tenho enfrentado há algum tempo para dar prosseguimento à agenda de direitos humanos e ao atendimento humanizado à população mais vulnerável de São Paulo, deixo o cargo, mas nunca a convicção em uma cidade que garanta o respeito à pessoa humana”, afirmou.

No último domingo, as polícias Civil e Militar de São Paulo prenderam 53 pessoas em operação realizada na Cracolândia. Foram apreendidos quase R$ 50 mil em espécie, duas máquinas de cartão de crédito, 12 quilos de crack e quantidades menores de outras drogas.

Agentes da prefeitura determinaram que alguns imóveis fossem lacrados. No entanto, alguns usuários já circulavam na região no dia seguinte , apesar de Doria ter vaticinado o fim da Cracolândia.

Na última terça, três pessoas ficaram feridas após a demolição de um dos prédios da região. O prefeito pediu à Justiça que facilitasse o processo de internação compulsória, isto é, internação à força de usuários de drogas , mas a Defensoria Pública conseguiu liminar proibindo remoções de pessoas e interdição e demolições da área da Cracolândia .

A ex-secretária de Direitos Humanos de São Paulo, Patrícia Bezerra Foto: Reprodução/Instagram
A ex-secretária de Direitos Humanos de São Paulo, Patrícia Bezerra Foto: Reprodução/Instagram