Por Tatiana Santiago, G1 SP — São Paulo


Demolição do primeiro prédio da região da Cracolândia termina com três pessoas feridas

Demolição do primeiro prédio da região da Cracolândia termina com três pessoas feridas

A Prefeitura de São Paulo admitiu que funcionários não perceberam que havia pessoas num imóvel que foi parcialmente demolido na Cracolândia nesta terça-feira (23). Três pessoas ficaram levemente feridas.

A área conhecida pelas construções dos famosos "puxadinhos" não foi totalmente vistoriada antes do início da derrubada do muro na Alameda Dino Bueno. O imóvel alvo da demolição foi vistoriado pelo próprio secretário municipal de Serviços e Obras de São Paulo, Marcos Penido, pelo chefe de gabinete dele e pelo encarregado das máquinas, mas eles não perceberam que havia um corredor no fundo que levava a uma espécie de pensão clandestina.

O secretário disse que não foi avisado de que moravam pessoas nos fundos. "Foi isolado um terreno, foi passada fita, foi removida a energia elétrica, foi informado à população o que ia ser feito, nós fomos no estacionamento e verificamos que ali só tinha carros, mas nós não demos conta que havia uma entrada clandestina para o fundo aonde dava acesso e essas pessoas estavam", disse.

As afirmações do secretário foram dadas na sede da Prefeitura, em entrevista convocada após o acidente. O prefeito João Doria (PSDB) não participou da coletiva.

Doria escala secretário Municipal de Obras para explicar o que deu errado na demolição

Doria escala secretário Municipal de Obras para explicar o que deu errado na demolição

"No fundo do estacionamento tem uma entrada clandestina que dá acesso a esse imóvel", afirmou Penido. Com a ação da retroescavadeira, que derrubou um muro e parte do teto, iniciou-se uma gritaria e os operários notaram que havia pessoas no local.

O imóvel foi fechado pela Prefeitura no domingo (21), após a megaoperação contra o tráfico de drogas na região. No mesmo dia, o muro da frente foi demolido. No local, há apenas a fachada do imóvel, que estava condenado.

Terreno em que muro foi demolido na região da Cracolândia, no Centro de São Paulo — Foto: Tatiana Santiago/G1

'Cuidados adicionais'

Após o acidente, o secretário de Obras disse que tomará cuidados adicionais nas próximas demolições. "Será feita uma varredura no local, verificando ponto a ponto, inclusive com marretas para verificar se não há nenhum outro acesso clandestino".

Apesar do ocorrido, a administração municipal diz que "todos os cuidados foram tomados". De acordo com Penido, eles visualizaram três carros no estacionamento, mas não foram até os fundos do imóvel.

Escavadeira derruba parede de casa na Cracolândia, em São Paulo

Escavadeira derruba parede de casa na Cracolândia, em São Paulo

Ele argumenta que não houve erro e que a ação era em um imóvel abandonado e vazio. "Se a gente tivesse previsto a gente teria cometido um erro, mas todas as ações foram feitas, então, não diria que houve um erro". Apesar do local ser conhecido pelos puxadinhos, o secretário considerou o acesso clandestino como "inusitado".

A própria demolição foi tema de contradição na administração municipal, já que o secretário de Obras afirmou que identificou os imóveis vazios para o início das demolições e o secretário de Justiça disse que apenas um muro foi derrubado, já que as demolições só iriam ocorrer após as ações da assistência social e habitação na área que ainda não começaram.

O número de imóveis que serão demolidos não foi informado. "Todos os imóveis desses dois quarteirões serão demolidos", declarou Anderson Pomini, secretário da Justiça.

Nova operação da PM contra tráfico de drogas na Cracolândia acaba em confronto

Nova operação da PM contra tráfico de drogas na Cracolândia acaba em confronto

Desapropriações

De acordo com o secretário Pomini, foram publicados dois decretos de utilidade pública no Diário Oficial no último sábado (20) que determinou que as áreas eram de utilidade pública e a posse passou a ser da Prefeitura de São Paulo.

Além dos decretos, será publicado no Diário Oficial desta quarta-feira (24) uma requisição administração, que é um instrumento jurídico previsto na Constituição Federal que autoriza o estado, o município e a União, a requerer imóveis em uma situação extraordinária. De acordo com Pomini, o artigo quinto, inciso 25, exige alguns requisitos como o iminente perigo público.

"Esse instrumento extraordinário inverte a ordem, não há necessidade de uma intervenção judicial, basta que o estado ou município decrete utilidade pública e proceda o requerimento, sem prejuízo das indenizações aos proprietários", disse. Segundo Pomini, por ser uma medida extraordinária, já que o local pode ser dominado pelo tráfico a qualquer momento, algumas burocracias são dispensadas como comunicado aos proprietários da área.

Mais cedo, pouco antes do acidente, o prefeito João Doria disse que irá construir prédios populares e uma unidade do Hospital Pérola Byington no lugar dos imóveis derrubados na Cracolândia.

De acordo com o tucano, as unidades de habitação popular e o centro médico serão construídos por meio de parceria público-privada (PPP) em conjunto com o governo do estado. Doria pretendia caminhar pela região, mas encerrou a agenda logo após o acidente.

Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!
Mais do G1