Economia

Juiz aceita denúncia, e 14 acusados viram réus na Operação Greenfield

Entre os réus está João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT

João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, em depoimento na CPI dos Fundos de Pensão em fevereiro de 2016. Foto Jorge William/Agência O Globo
João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, em depoimento na CPI dos Fundos de Pensão em fevereiro de 2016. Foto Jorge William/Agência O Globo

BRASÍLIA — O juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal no Distrito Federal, recebeu a primeira denúncia no âmbito da operação Greenfield, que investiga suspeitas de corrupção nos fundos de pensão de empresas estatais. A decisão transformou em réus 14 acusados de participarem de fraudes na Funcef (Fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal). Entre os réus estão o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso em Curitiba pela Operação Lava-Jato.

A decisão foi tomada na semana passada, mas só publicada nesta segunda-feira. A denúncia do Ministério Público Federal (MPF) foi feita no mesmo dia em que a Polícia Federal prendeu um dos procuradores da Greenfield, Ângelo Vilella, suspeito de passar informações sigilosas para o dono da JBS, Joesley Batista, que fechou acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República. A JBS é investigada nessa operação, mas não está envolvida na denúncia apresentada. O procurador Ângelo Vilella não assina a denúncia, subscrita por sete procuradores.

Todos os réus vão responder por gestão fraudulenta e temerária, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema financeiro. O caso denunciado envolve a criação e gestão Fundo de Investimento em Participações (FIP) Cevix, criado pela Funcef com a Engevix — também alvo da Lava-Jato. Segundo o MPF, o prejuízo foi de R$ 402 milhões para os cofres do fundo de pensão, em valores atualizados até 2015.

Segundo a denúncia, o processo começou ainda em 2008, quando foram iniciadas as conversas para a criação de uma empresa do ramo elétrico, a Cevix Energia Renováveis S/A. Já no ato de criação, ficou estabelecido que a companhia receberia investimentos do FIP Cevix, cujo capital seria integralizado pela Funcef e Desenvix, de acordo com o MPF.

O fundo de pensão deveria investir R$ 200 milhões (25% do total) e a empresa privada deveria aportar R$ 600 milhões (75% do capital total do FIP), segundo os procuradores. As investigações revelaram, no entanto, que o total desembolsado pelo Fundo de Pensão chegou a R$ 260,6 milhões. Já a Engevix investiu R$ 173 milhões. Apesar da discrepância, a divisão na participação acionária foi mantida: 75% da cotas pertenciam à empresa enquanto a Funcef mantinha 25%.

Ainda segundo a denúncia, João Vaccari solicitou e recebeu R$ 5,9 milhões “a fim de garantir a conclusão dos aportes realizados pela Funcef nos FIP Cevix , FIP Desenvix e FIP RG Estaleiros (o investimento nesse último fundo não é alvo dessa denúncia), recursos que deveriam ser destinados ao Partido dos Trabalhadores”.

Entre os réus estão ex-diretores da Funcef e sócios da Engevix. O MPF defende a condenação dos 14 réus. O Ministério Público quer ainda que a Justiça estipule um valor mínimo para a reparação econômica e moral da Funcef de R$ 1,2 bilhão.

Em nota, a Funcef afirmou “que está colaborando de forma pró-ativa com o Ministério Público, investigando e produzindo provas visando a total elucidação dos fatos”. O fundo disse ainda que atua como assistente de acusação do MPF.

A Engevix informou que demonstrará na Justiça que não houve irregularidades no investimento. “A Engevix é reconhecida no Brasil e internacionalmente pelo seu padrão de qualidade na área de projetos de energia, em que atua há quase 50 anos. A empresa demonstrará na Justiça, mais uma vez, que nada de errado houve nesse investimento”, diz nota da empresa. A defesa de João Vaccari Neto ainda não respondeu.

Na semana passada, em meio ao turbilhão político que tomou Brasília, o Ministério Público Federal (MPF) no Distrito Federal apresentou à Justiça a primeira denúncia no âmbito da operação Greenfield, que investiga suspeitas de corrupção nos fundos de pensão de empresas estatais. Entre as pessoas denunciadas estão ex-diretores do Funcef (fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal) e da construtora Engevix, investiga também na operação Lava-Jato.