Política

Adriana Ancelmo resgatou R$ 1,2 milhão da previdência privada enquanto estava em Bangu

MPF pode solicitar volta da ex-primeira-dama para a prisão
Adriana Ancelmo chega ao prédio da Justiça Federal no Centro do Rio. Ela vai ser interrogada por corrupção e lavagem de dinheiro no processo da Operação Calicute Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Adriana Ancelmo chega ao prédio da Justiça Federal no Centro do Rio. Ela vai ser interrogada por corrupção e lavagem de dinheiro no processo da Operação Calicute Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

RIO - A ex-primeira-dama Adriana Ancelmo resgatou R$ 1,2 milhão da previdência privada enquanto estava presa na ala feminina de Bangu 8. O questionamento sobre a movimentação do dinheiro foi feito nesta quarta-feira pelo Ministério Público Federal (MPF) durante depoimento da ex-primeira-dama ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, no processo da Operação Calicute. De acordo com a ex-primeira-dama, o investimento era para os filhos dela, e o resgate foi solicitado, a seu pedido, pela secretária que cuida das suas contas pessoais.

Nem a Justiça e nem o MPF tinham conhecimento da movimentação. O procurador da República Rodrigo Timóteo pediu que o banco fosse acionado para explicar o que aconteceu e quem solicitou o resgate e disse que será investigado se houve uma quebra, por parte de Adriana, de uma decisão da Justiça, já que ela está com os investimentos bloqueados.  Caso isso seja constatado, o MPF pode pedir a volta dela para a cadeia. A ex-primeira-dama foi presa em dezembro do ano passado e foi levada para Bangu 8, mas, desde março deste ano, está em prisão domiciliar.

- Vamos ter que saber como foi feito isso. Vamos solicitar informação ao banco Itaú, o banco vai esclarecer para nós como tomou essa decisão, quem deu essa ordem e, a partir disso, vamos ter que decidir a respeito. Pode ser que tenha uma quebra a uma ordem judicial de bloqueio e, se houve esse desrespeito, vamos tomar as providências necessárias para tentar resgatar esse dinheiro, ver para quem foi. Isso precisa ser investigado - afirmou o procurador. - Vamos analisar, mas pode ser que seja solicitado o regresso dela (para a prisão) - completou Timóteo.

Adriana disse no depoimento que o dinheiro foi resgatado e enviado para sua conta pessoal. Depois, foi usado para pagar honorários advocatícios, dívidas com funcionários e outras despesas. Agora, não resta nenhuma parte desse dinheiro na conta, segundo ela informou.

- O meu gerente disse que não estava sujeito a bloqueio as previdências dos meus filhos. No primeiro momento, eu precisava me manter. Não tenho dinheiro em qualquer outro lugar, baixei a aplicação da previdência no meu filho, esse valor entrou na minha conta. (A previdência) estava no meu nome, e eles eram os beneficiários - afirmou Adriana. - Isso (o resgate) foi solicitado pela minha secretária. Só tinha ela para realizar os pagamentos, eu estava presa.

A ex-primeira-dama é ré no processo da Calicute e é acusada de usar seu escritório de advocacia para lavar dinheiro do esquema de corrupção.

'A MIM, NUNCA FOI ENTREGUE NENHUM CENTAVO'

Durante o depoimento, Adriana disse que as joias apreendidas em sua casa foram compradas por ela com dinheiro lícito ou foram presentes de seu marido, o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), que está preso desde novembro do ano passado. No depoimento, a ex-primeira-dama reconheceu que, em 2009, ganhou um anel do empreiteiro Fernando Cavendish, que à época tinha diversos contratos com o governo do estado, e que não sabe o valor da joia, que era de aproximadamente R$ 800 mil.

- Ali, naquela situação específica, recebi o presente do Cavendish, que era um amigo. Ali, na situação, não era um empreiteiro, mas um amigo - afirmou.

A ex-primeira-dama afirmou ainda que nunca recebeu dinheiro em seu escritório de advocacia.

- A mim, nunca foi entregue nenhum centavo - declarou Adriana.

Michelle Tomaz Pinto trabalhou no escritório de Adriana Ancelmo como assistente administrativa e secretária executiva, de 2005 a 2015, quando foi demitida. Em depoimentos ao MPF, ela contou que Luiz Carlos Bezerra - apontado pelos procuradores como operador financeiro de Cabral - ia ao escritório de Adriana Ancelmo para efetuar entregas de quantias entre R$ 200 mil e R$ 300 mil em espécie. Michelle contou que o dinheiro era usado para pagar funcionários e contas pessoais de Adriana.

A ex-funcionária de Adriana acrescentou que participou da contagem dos valores, que chegavam em uma mochila, junto com Thiago Aragão, ex-sócio de Adriana, que foi preso durante a Operação Eficiência.

No depoimento a Bretas, Adriana afirmou que Bezerra ia ao escritório para buscar planilhas de itens usados para a decoração de um imóvel que deveriam ser pagos.

- Houve outros motivos para a ida dele (Bezerra) ao escritório, jamais para me entregar valores em espécie - disse Adriana.

A ex-primeira-dama disse estar tranquila porque nenhum delator poderia mencionar qualquer tratativa de pagamentos ilícitos ao seu escritório de advocacia.

- Quero esclarecer que, embora esteja sendo discutida aqui a contratação do meu escritório, fico tranquila de que nenhum empresário, nenhum delator, nenhum operador, nenhuma pessoa poderá mencionar qualquer tratativa de recebimentos de pagamentos ilícitos, seja essa pessoa quem for. Jamais contribuí com qualquer atividade ilícita supostamente em todos esses processos que estão tramitando - afirmou Adriana a Bretas.