Por Fábio Almeida, RBS TV


Estudo mostra danos causados por extração irregular de areia no fundo do Rio Jacuí

Estudo mostra danos causados por extração irregular de areia no fundo do Rio Jacuí

Um relatório feito pelo Instituto de Geociência da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 13 pontos do Baixo Jacuí, na Região Metropolitana de Porto Alegre, mostrou que ocorreram danos no fundo do rio, que vem sofrendo com a extração irregular de areia.

O levantamento foi feito por meio de aparelhos sísmicos do Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica da (UFRGS), que tinha como objetivo identificar sinais de dragagem no fundo do rio, conhecido como bedrock.

De acordo com a legislação, o limite de extração é de um metro acima deste fundo. Mas a fiscalização é feita pelas próprias empresas que atuam explorando os sedimentos. Cinco anos após a primeira denúncia retratada na série da RBS TV "Jacuí - Crime e Agonia", o órgão estadual responsável pela fiscalização deixou de exigir tamanho máximo para os canos de extração, e reconhece que ainda não sabe quais são os impactos dessa mudança.

Imagem sem marcas feita pelo equipamento em área onde não é feita extração de areia — Foto: Fábio Almeida/RBS TV

Marcas horizontais capturadas pelo equipamento mostram atuação de dragas além do limite permitido — Foto: Fábio Almeida/RBS TV

Em um ponto onde é proibida a mineração, próximo da área de preservação do Delta do Jacuí, a imagem processada pelo computador mostra que não há marcas no fundo do rio, que aparece praticamente liso.

Já em outro trecho, onde a extração de areia é permitida, o fundo aparece remexido. Esta é uma das áreas que tiveram a exploração liberada pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fepam). Ela fica entre os municípios de Charqueadas e Triunfo, próximo da ilha dos Araújos. Em outra área de extração, em São Jerônimo, quase em frente à Praia do Encontro, a situação se repete.

"A consequência disso é mais desestabilização do que estiver abaixo desse ponto, onde está quase na agressão ao rio", afirma o diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Carlos André Bulhões Mendes.

Superfície rochosa semelhante à encontrada no fundo do Rio Jacuí — Foto: Fábio Almeida/RBS TV

A desestabilização ocorre porque as empresas responsáveis pela extração não obedecem a legislação ambiental, que determina que as dragagens cheguem até um metro do fundo do rio. As marcas evidenciam que essas regra não é seguida.

Sem se identificar, um marinheiro que trabalha na mineração do Rio Jacuí revela que, para encontrar areia em pontos onde já não havia mais sedimentos, a rocha foi destruída. "Tinha barco que usava maraca (broca) para furar, não tinha mais areia, só laje (...) tentando furar a laje para ver se tinha areia embaixo".

O presidente do Sindicato e Associação dos Produtores e da Indústria de Brita, Areia e Saibro, Sindibritas e Agabritas, Pedro Antônio Reginato, diz desconhecer as irregularidades. Segundo ele, os mineradores realizam estudos sobre os impactos e atuam dentro da legalidade.

"Qual é o problema de aumentar a profundidade de um rio? Nenhum problema. Você não pode chegar na barranca (margem). Agora, se você tiver um rio com 300 metros de largura, qual é o problema de aprofundar? Há a reposição de areia, com o tempo ela se repõe de novo. Eu não vejo nenhum problema, a mineração ela é feita onde tem. Não onde tu quer, é onde ela está. Você pode exaurir ela até onde ela existe"

No entanto, especialistas afirmam que o maior problema é exatamente o descontrole na quantidade de areia retirada e o aumento da profundidade, que causam impacto no Rio Jacuí.

"Na medida que você perfura o bedrock (fundo rochoso do rio), ou extrai o material mineral a ponto de chegar perto dele, você também amplia a profundidade, que vai gerar uma instabilidade nas margens e fazer com que parte do material mineral vá para dentro do canal do rio", explica o biólogo doutor em ecologia da Unisinos, Jackson Müller.

Para o diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas, as evidências apontadas pela pesquisa mostram que "o rio recebe agressão diariamente, isso é uma agressão", e que os estudos apontam que não será possível reverter a situação.

O governo do estado, responsável pela proteção do rio, diz não saber dos buracos no fundo do rio. A fiscalização realizada pelas próprias empresas que exploram a extração de areia não apontou a situação. Já a Fepam diz que ainda não recebeu novos estudos, mas que tem condições de verificar.

"Hoje nós temos equipamentos para verificar se está ocasionando buracos. Se está ocasionando buracos, a draga que agiu de maneira incorreta ela vai ser multada e talvez até tirada de circulação, conforme a gravidade. Agora se não houve nada é por que está tudo bem", afirma a presidente da Fepam, Ana Pellini.

Ela orienta que denúncias podem ser feitas pelo e-mail denuncia@fepam.rs.gov.br ou pelo telefone 0800 0312146.

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