Por Ana Paula Andreolla, TV Globo — Brasília


Vídeo da PF mostra Rodrigo Loures saindo de pizzaria com R$ 500 mil em mala — Foto: Reprodução

A mala com R$ 500 mil entregue pelo executivo da J&F Ricardo Saud ao deputado federal afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-RR) não tinha chip instalado para que as investigações não fossem descobertas e outros pagamentos, comprometidos.

A entrega da mala ao deputado foi acompanhada à distância por policiais federais, numa das chamadas "ações monitoradas", adotadas a partir das delações dos executivos do grupo que controla a JBS.

Saud é um dos executivos do grupo que fecharam acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal no âmbito da Operação Lava Jato.

O encontro entre ele e Loures foi agendado por Joesley Batista, dono da JBS. A mala foi entregue em uma pizzaria em São Paulo e, segundo as investigações, Loures, ex-assessor especial da Presidência da República, era o intermediário do presidente Michel Temer para assuntos da J&F com o governo.

Suplente do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), atual ministro da Justiça, Rodrigo Rocha Loures foi afastado do mandato parlamentar por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na terça (23), Loures entregou a mala na sede da Polícia Federal em São Paulo, com R$ 465 mil. Na quinta (25), ele informou ao Supremo ter devolvido os R$ 35 mil restantes.

O deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) — Foto: Reprodução/TV Globo

Entenda o caso

O deputado afastado foi filmado pela PF recebendo uma bolsa com R$ 500 mil enviados por Joesley Batista. O acerto, segundo Ricardo Saud, é para que fosse feito pagamento semanal no mesmo valor, durante 25 anos.

Conforme as investigações, o valor semanal poderia chegar a R$ 1 milhão se o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), valor fixado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), em R$/MWh , para a comercialização da energia, ultrapassasse R$ 400.

Loures teria telefonado para o presidente interino do Cade, Gilvandro Araújo, para interceder pelo grupo.

Em nota (leia a íntegra ao final desta reportagem), o Cade informou que o presidente interino do órgão, Gilvandro Araújo, recebeu telefonema de Rocha Loures, mas negou favorecimento no caso. Segundo a assessoria do Cade, o processo ainda não foi concluído e é conduzido dentro da normalidade.

A entrega de R$ 500 mil para Rocha Loures ocorreu em São Paulo. Depois de passar por três endereços em um mesmo encontro (um café em um shopping, um restaurante e uma pizzaria), Loures deixa a pizzaria levando uma mala preta com o dinheiro.

Conversas entre Loures e Ricardo Saud indicam qual era o entendimento do parlamentar sobre o impacto das denúncias e das investigações no STF contra ministros do governo Michel Temer.

Em uma das conversas, o deputado concorda em apresentar uma prévia do relatório da medida provisória do Refis, que ainda não era público, para o diretor da JBS. Na conversa, os dois falam sobre esconder o que a JBS queria no texto incluindo os pontos como sugestão da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).

Nota do Cade

Leia abaixo íntegra de nota divulgada pelo Cade:

O Presidente Interino confirma que, em seu dever de ofício de representação institucional, recebeu em seu gabinete telefonema do deputado Rodrigo Rocha Loures. Na ocasião, o deputado manifestou preocupação com suposta prática anticompetitiva por parte da Petrobras contra a empresa EPE-Cuiabá no mercado de gás natural.

O Presidente Interino esclareceu que eventuais condutas anticompetitivas nesse mercado já eram objeto de análise do órgão, e que iria repassar a preocupação à área técnica.

O caso está em fase preliminar de investigação desde 2015, fase processual da qual o Presidente não participa. Até o presente momento, não houve parecer ou decisão final sobre o mérito investigado, e os pedidos de medida preventiva da EPE não foram acatados.

Reitera-se que o Cade apoia plenamente as investigações conduzidas pelo MPF e pela Polícia Federal.

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