Operação lava jato

Por G1 e TV Globo — Brasília


O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que o deputado cassado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o doleiro Lúcio Funaro, ligado ao peemedebista, continuam cometendo crimes mesmo presos.

A afirmação consta da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Edson Fachin que determinou a abertura de inquérito para investigar o presidente Michel Temer, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) e o deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) e que está relacionada ao acordo de delação de executivos da JBS. A decisão foi divulgada nesta sexta (19).

A mesma delação motivou a Operação Patmos, da Polícia Federal, e que teve entre os alvos Cunha e Funaro.

Para Janot, os elementos colhidos nas investigações, bem como as gravações feitas pelo empresário Joesley Batista de conversas com políticos, "apontam para diversos atos realizados com o intuito de impedir ou, de qualquer forma, embaraçar a investigação dos crimes praticados".

O PGR afirma ainda que é possível depreender do material colhido que o "pagamento de propinas ao ex-deputado federal Eduardo Cunha e ao doleiro Lúcio Funaro, mesmo depois dos mesmos estarem presos, tem, se não como motivação única, mas certamente principal, garantir o silêncio deles ou, ao menos, a combinação de versões".

Diálogo

Na decisão que autorizou o inquérito, Fachin reproduz trecho de um diálogo entre um dos donos da JBS, Joesley Batista, e o deputado Rodrigo Rocha Loures. A conversa foi gravada pelo empresário e entregue à Procuradoria-Geral da República.

No diálogo, Joesley demonstra preocupação com a queda do sigilo da delação da Odebrecht e diz que está buscando combinar versões com pessoas que poderiam ser imputadas pelos delatores da empreiteira. Na mesma conversa, Rocha Loures orienta o empresário a "não deixar rastros".

"Como é que o... Não deixar rastros, né, você sabe disso e quanto esta temporada, enquanto não for levantada estas delações nós vamos ficar num campo complicado", afirmou Loures. Logo depois, Joesley o questiona sobre quando o deputado achava que o sigilo das delações seriam levantados.

"Agora", respondeu o parlamentar. "[...] Agora é isso, fazer o que você está fazendo. Se você acha que tem uma porteira lá da fazenda que ficou aberta em algum lugar que precisa fechar, fecha", complementou.

O empresário, então, responde que é o que está fazendo e afirma que depois que a delação dos ex-executivos da Odebrecht saísse, era preciso combinar o que eles poderiam dizer.

"Nós temos que dar uma explicação rápida a alguém, uma explicação rápida pra dar, nós não podemos pestanejar. [Não podemos] Dizer: 'ah, não sei', ou falar uma coisa e o outro falar outra. Exatamente isso", disse.

Nesse contexto, Joesley Batista afirma que quer todos falando "a mesma língua" e que busca isso junto a Funaro e a Cunha. Antes, Rocha Loures questiona "como está a cabeça" de Funaro na prisão e diz que não o conhece pessoalmente.

"Não [o conhece]? Então, é, isso eu vou falar o que eu acho, tá, porque também o cara tá lá [preso], né? Nunca mais vi o cara na vida. Eu disse pra Michel [Temer], desde quando Eduardo [Cunha] foi preso e ele [Funaro], quem está segurando as pontas sou eu. Eu tô...", afirmou Batista.

Nesse momento, Rocha Loures afirma: "Cuidando deles lá". O empresário concorda e então responde: "Dos dois, tanto da família de um, quanto da família do outro".

De acordo com a PGR, a ajuda a que Joesley Batista se refere seria o pagamento de propina para que tanto Cunha quanto Funaro permanecessem em silêncio na prisão e não colaborassem com a Justiça ou firmassem acordo de delação premiada.

"Como se vê, Lúcio Funaro e Eduardo Cunha continuam cometendo crimes, mesmo presos, para a manutenção dos interesses da Organização Criminosa, cuja principal intenção é a obstrução da Justiça", afirmou Janot no pedido de abertura de inquérito e que foi reproduzido por Fachin.

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