Por France Presse


Opositores ao governo de Nicolás Maduro na Venezuela protestam nesta quarta-feira (7) — Foto: JUAN BARRETO / AFP

Um adolescente de 17 anos morreu nesta quarta-feira (7) no leste de Caracas durante um protesto contra o presidente Nicolás Maduro, elevando a 66 o número de mortos em pouco mais de dois meses de manifestações e distúrbios no país.

O Ministério Público explicou que o jovem morreu "durante uma manifestação em Chacao" e que as causas são investigadas. Dirigentes da oposição responsabilizaram os corpos de segurança. Essa morte acontece um dia depois de o chefe das Forças Armadas advertir que não vai tolerar "atrocidades" dos guardas nacionais nas manifestações.

Milhares de opositores tentaram chegar à sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), no centro de Caracas, para protestar contra a Assembleia Nacional Constituinte convocada por Maduro, mas foram bloqueados por policiais e membros da militarizada Guarda Nacional no oeste e no leste da cidade, com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.

Jovem que parece inconsciente é transportado de moto após ser ferido durante protesto opositor nesta quarta-feira (7) em Caracas — Foto: JUAN BARRETO / AFP

"Apesar da repressão, continuamos resistindo, erguendo nossa voz, não só em Caracas, mas em todo o país. Que esta violência não nos tire do caminho, só lhes resta a atitude covarde, perderam o apoio popular", disse o deputado opositor Miguel Pizarro.

Os opositores, a quem em quase 70 dias de protestos as autoridades não permitiram chegar ao centro da capital, denunciam uma "repressão selvagem" que inclui o disparo no corpo de bombas de gás lacrimogêneo, bolas metálicas e de gude.

Reconhecimento de excessos

Em um reconhecimento dos excessos cometidos pelos militares nos protestos, o chefe das Forças Armadas e ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, advertiu na terça-feira: "não quero ver mais um guarda cometendo uma atrocidade nas ruas".

A oposição tinha urgido Padrino López a cumprir sua palavra e permitir a marcha desta quarta-feira. Mas o ministro ratificiou no Twitter sua "solidariedade" com os membros da Guarda Nacional Bolivariana, "que com tanta dignidade defendem a Pátria, sempre fiel ao seu dever e sereno no perigo".

Manifestantes da oposição jogam coquetel Molotov contra a polícia nesta quarta-feira (7) durante protesto em Caracas — Foto: FEDERICO PARRA / AFP

"Os mesmos que falam de repressão são os que, com dois pesos e duas medidas, e na escuridão incentivam a violência, a morte e o ódio", acrescentou.

Padrino López se referiu assim ao caso de um militar ferido a tiros nesta quarta-feira em El Paraíso (oeste). Segundo o ministro do Interior, general Néstor Reverol, ele levou um tiro efetuado de um edifício, quando tentava desmontar uma barricada.

Vídeos de agressão

A declaração do ministro ocorreu em meio ao repúdio gerado por vídeos que circularam na segunda-feira nas redes sociais. Neles policiais e militares aparecem agredindo e tirando os pertences de várias pessoas durante um protesto da oposição.

Reverol, sobre quem pesam sanções dos Estados Unidos por suposto tráfico de drogas, foi citado na terça-feira pelo Parlamento para prestar contas sobre a "repressão". Por não ter comparecido, nesta quinta-feira será votada uma moção de censura para sua "remoção", embora as decisões legislativas sejam consideradas nulas pelo Tribunal Supremo de Justiça.

A atuação de policiais e militares também foi criticada pela procuradora-geral, Luisa Ortega, chavista declarada, mas agora considerada traidora pelo governo por se opor à Constituinte.

Assembleia Constituinte

Maduro afirmou nesta quarta que no dia 30 de julho, "chova ou faça sol", será realizada a eleição da Assembleia Constituinte.

A oposição qualifica de "fraude" a Assembleia porque não foi convocada em referendo e tem um sistema de votação territorial e por setores sociais que, assegura, garantirá ao chavismo a maioria dos 545 constituintes.

Para a oposição, uma eleição geral é a única saída para a severa crise política e econômica que vive o país petroleiro, com uma escassez crônica de alimentos e medicamentos e uma inflação que pode chegar a 720% em 2017, segundo o FMI.

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