Rio

Criado para emergências, Centro de Operações não foi capaz de evitar caos

Gestão de agentes municipais e alertas por mensagens de celular apresentaram falhas

Sala de monitoramento do Centro de Operações Rio, que conta com uma tecnologia capaz de identificar a aproximação e a intensidade das chuvas: segundo a prefeitura, foco, agora, é acompanhar a segurança das ruas
Foto:
Domingos Peixoto
/
Agência O Globo
Sala de monitoramento do Centro de Operações Rio, que conta com uma tecnologia capaz de identificar a aproximação e a intensidade das chuvas: segundo a prefeitura, foco, agora, é acompanhar a segurança das ruas Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

RIO - Inaugurado em dezembro de 2010 para dar pronta resposta a situações de emergência e de risco para cariocas, como o temporal que deixou o Rio debaixo d’água na noite de terça-feira, o Centro de Operações Rio (COR) falhou. Criado para funcionar da mesma forma que sistemas adotados em grandes metrópoles como Nova York, o centro perdeu, na atual gestão, suas características originais e passou a focar mais a segurança. Na terça-feira, quando já se sabia sobre a brusca mudança no tempo com a chegada da frente fria, os boletins divulgados foram burocráticos, limitando-se a informar sobre a possibilidade de chuvas moderadas a fortes que não davam a real dimensão da gravidade da previsão meteorológica. A gestão de agentes municipais, que devem ser acionados rapidamente para realizar desvios de trânsito e orientar a população, também não impediu a ocorrência de grandes congestionamentos e de cenas de carros afundando em piscinas gigantescas que se formaram principalmente na Lagoa, na Gávea e na região da Grande Tijuca. Até mesmo os alertas por mensagens de celular foram disparados com atraso, às 19h, quando as ruas já estavam alagadas.

— Nós mudamos o foco do COR. O principal problema da cidade hoje é a segurança pública. Direcionamos o trabalho para isso. O que não quer dizer que o centro de operações nãos seja estratégico para enfrentar situações de crise na cidade provocada por problemas como as chuvas. Quando se tornar necessário, nós redirecionamos — afirmou o secretário de Ordem Pública, Paulo Cesar Amendola, pasta à qual o COR está subordinado, que negou ter havido ineficiência na operação. — Não acho que tenha havido falhas. Temos dezenas de emissoras de rádio e TV com plantonistas no centro para divulgar as informações à população. Nós teríamos falhado se alguém tivesse morrido ou saído ferido por causa das enchentes.

PROTOCOLO PREVÊ PRESENÇA DE AUTORIDADES

De acordo com funcionários que não quiseram se identificar, coordenadores de áreas essenciais da prefeitura não estavam no COR no momento em que a situação se agravou. Também não retornaram para o centro, como determina o protocolo. Bem equipado, o centro conta com um radar meteorológico que já havia detectado que as chuvas ficariam concentradas na Zona Sul e na Tijuca. O centro foi usado para o monitoramento da cidade em grandes eventos recentes, a Jornada Mundial da Juventude (2013), a Copa do Mundo (2014) e a Olimpíada (2016). Mas, por uma determinação do prefeito Marcelo Crivella, as centenas de câmeras controladas pelos técnicos do COR estão, atualmente, voltadas para a prevenção de delitos.

Especialista em análise de risco, Moacyr Duarte, que participou do projeto de implantação do COR, disse que problemas mais corriqueiros podem ser resolvidos pelas equipes de plantão do centro, mas que, em casos que afetam de forma drástica a rotina, como acidentes com fechamentos de vias, ou grandes alagamentos, secretários e coordenadores da Defesa Civil deveriam ir para o local, acompanhar de perto os trabalhos.

— Nestes casos excepcionais, o protocolo previa a presença do prefeito e de alguém designado por ele. Porque, se for necessário tomar decisões que prevejam gastos, como a convocação de todos os garis com pagamento de horas extras ou o aluguel de alguma equipamento especial, alguém tem que autorizar isso — observou Moacyr Duarte.

Outro que também fez parte da equipe de criação do COR, o deputado estadual Carlos Roberto Osorio (PSDB), que foi secretário de Conservação, afirmou que o protocolo prevê que os dados meteorológicos sejam atualizados, no máximo, a cada 30 minutos. Além disso, jornalistas de plantão no local e a população devem ser alertados sobre a gravidade das chuvas.

Longe do COR, o prefeito Marcelo Crivella acompanhava as equipes do Palácio da Cidade. Ele se comunicava com os técnicos por telefone ou aplicativo de mensagens. O secretário municipal de Conservação e Meio Ambiente, Rubens Teixeira, estava no prédio em que funciona a pasta, a cerca de um quilômetro do centro. Por volta das 19h30m, ele recebeu o vereador Dr. Gilberto (PMN).

— Minha presença não era necessária no COR. Na Secretaria de Conservação, eu tinha condições de acompanhar melhor os trabalhos das equipes da prefeitura. Sem contar que podemos localizar todos pelo celular ou pelo WhatsApp.

Ex-presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio), Claudia Sessim lembra que a ideia do COR surgiu em 2010, justamente depois de um grande temporal que deixou mais de 300 mortos em todo o estado:

— Quando sabíamos que ia chover forte, os secretários e coordenadores se reuniam no COR para tomar decisões em conjunto. Às vezes, deslocávamos equipes para áreas onde havia maior risco de temporais para desobstruir bueiros que entupissem ou se houvesse necessidade de desviar o trânsito. Em um temporal como este que caiu, os alagamentos poderiam acontecer. A prova de que as equipes não se mobilizaram a tempo de interditar ruas foi a imagem de carros boiando na Rua Jardim Botânico — disse Cláudia Sessim.

De acordo com o site do Centro de Operações Rio, o espaço funciona 24 horas, sete dias por semana, com representantes de 30 órgãos municipais e cerca de 500 funcionários.

Prefeito Marcelo Crivella sobre os efeitos da chuva que caiu na cidade do Rio de Janeiro na noite de terça-feira.
Prefeito Marcelo Crivella sobre os efeitos da chuva que caiu na cidade do Rio de Janeiro na noite de terça-feira.