Por G1 GO


Mateus foi agredido durante protesto em Goiânia

Mateus foi agredido durante protesto em Goiânia

Agredido há um mês durante um protesto em Goiânia, o estudante Matheus Ferreira da Silva, de 33 anos, ainda se recupera da lesão. Ao rever os vídeos que registraram o momento em que ele é atingido pelo cassetete de um policial militar, o manifestante se diz "chocado" e que a agressão lhe pareceu “muito gratuita”.

“Para mim, ele estava ali, ele se excedeu. Acho que foi uma violência fora do comum. Mas especificamente contra ele, não tenho nada. A questão da violência em geral nos protestos é uma coisa que precisa ser debatida publicamente”, disse o estudante em entrevista exclusiva ao Fantástico.

Matheus foi agredido no dia 28 de abril pelo capitão da Polícia Militar Augusto Sampaio, durante uma manifestação contra as reformas Trabalhista e Previdenciária. O estudante conta que não se lembra de praticamente nada do dia do protesto.

“Eu perdi toda essa memória do dia do protesto. A única coisa que eu me lembro foi do momento da agressão, que eu ouvi um estalo. Eu levei a mão à testa, senti o ferimento. E no momento até achei que fosse um tiro, não sabia o que era”, relatou.

Sequência de fotos mostra agressão a Mateus — Foto: Arquivo pessoal/Luiz da Luz

Após ser atingido, Matheus foi socorrido por outros manifestantes, que o colocaram em cima de uma placa e o carregaram até o cruzamento da Avenida Goiás com a Rua 3, no Setor Central, onde recebeu atendimento do Corpo de Bombeiros. Em seguida, o estudante foi levado para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo).

"Tinha muito risco de vida, mesmo. Muita gente até acreditava que eu não ia sobreviver ou que ia ter muitas sequelas. No dia que eu cheguei no hospital, a percepção dos médicos e das pessoas era realmente de uma gravidade muito alta", relata Matheus.

Matheus ficou internado no Hugo durante 18 dias, sendo 11 na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O estudante passou por duas cirurgias. Na primeira, os médicos retiraram pedaços do osso quebrado. O segundo procedimento foi para reconstruir a parte afetada pela pancada na testa. Para isso, foram usados pinos e cimento ortopédico.

"O cérebro dele continuou protegido pelas camadas internas. Nenhuma lesão no cérebro foi detectada", explicou o diretor técnico do Hugo, Ricardo Furtado.

Mateus Ferreira é estudante de Ciências Sociais — Foto: Reprodução/Facebook

Matheus, que participa de protestos desde 2013, não tem antecedentes criminais e reforça que participava do ato como um "cidadão comum".

"Eu sempre mantenho uma postura pacífica, uma postura não violenta. Não faço parte de nenhuma organização, de nenhum grupo, de partido", disse Mateus.

PM afastado

O comandante geral da PM-GO, coronel Divino Alves de Oliveira, explicou que o capitão Sampaio foi afastado do patrulhamento das ruas no dia 1º de maio e ficará exercendo apenas atividades administrativas enquanto o Inquérito Policial Militar (IPM) que investiga a conduta dele não é concluído.

“Houve excesso, não há como fugir a esta situação, houve o excesso na ação praticada por esse policial militar e, em decorrência disso, o comando da instituição instaurou o inquérito policial militar que irá apurar as responsabilidades”, explicou o coronel.

Em nota, a corporação explicou que instaurou o procedimento “diante das imagens que circulam em redes sociais, quando da intervenção policial militar, que mostram a clara agressão sofrida” pelo estudante.

Procurado pela reportagem, o capitão preferiu não se pronunciar.

Capitão Augusto Sampaio está afastado das ruas — Foto: TV Globo

Investigação da Polícia Civil

A Polícia Civil começou a investigar o caso no dia 4 de maio, a pedido do Ministério Público. O delegado titular do 1º Distrito Policial da capital, Izaías de Araújo Pinheiro, informou que ainda não há uma data para ouvir o estudante agredido, pois ele ainda segue sob cuidados médicos.

“A princípio o inquérito apura se houve abuso de autoridade por parte do policial. A lesão gravíssima será apurada exclusivamente pelo Inquérito Policial Militar [IPM]. Ainda vamos buscar imagens, ouvir testemunhas, familiares da vítima e depois o capitão”, revelou ao G1 no dia em que abriu o inquérito.

Para o delegado, o policial "partiu para a agressão porque ele descontrolou emocionalmente no momento da manifestação". Ainda segundo o delegado, caso o capitão seja indiciado, denunciado e condenado pelo crime, ele pode perder o cargo e ficar detido por até seis meses.

Em nota, a Associação dos Oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás acusou Matheus de ter depredado patrimônio público e de esconder o rosto para não ser identificado.

O delegado informou que, por enquanto, não há imagem nem testemunha que relacione Matheus a atos de vandalismo no protesto. “A gente vê que ele estava no meio, ele estava participando ativamente da manifestação, sim. Agora, em momento nenhum, mostra ele quebrando vidro, danificando patrimônio”, ponderou.

Em relação a estar com parte do rosto coberto, Matheus disse que foi uma forma de se proteger. “É bastante comum em manifestações ter spray de pimenta, bomba de gás. E às vezes a gente coloca um pano pra se proteger mesmo”, alegou.

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