O desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil passa por uma reestruturação dos modelos de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), afirmou nesta quarta-feira (21) o presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Leonardo Pereira.
Para o executivo, o banco de fomento deve conceder crédito às empresas em um estágio prévio à abertura em bolsa. Ele disse ainda que essa visão está alinhada com a nova postura do BNDES, que já anunciou a criação de um novo juro de mercado e menor subsídio para empréstimos.
"Não adianta querer ter um mercado de capitais grande se tem um banco de desenvolvimento dando dinheiro subsidiado a quem não precisa de dinheiro subsidiado", afirmou o executivo durante o 19º Encontro Internacional com Investidores e Mercado de Capitais, em São Paulo.
Durante o evento, o presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), Alfried Plöger, destacou outros pontos que inibem as empresas de buscarem captar recursos em bolsa no Brasil, como a alta taxa de juros (que afasta os investimentos em renda variável), os altos custos de manter uma empresa aberta no mercado de capitais e o que chamou de "excesso de regulamentação".
"Não é de se estranhar que entre 16 milhões de empresas no país, segundo o IBGE, 350 são de capital aberto", afirmou.
Ele disse que a exigência de que as companhias abertas publiquem suas demonstrações financeiras em imprensa oficial é um dos fatores "mais onerosos" e defendeu a criação de uma central de balanços.
Pesquisa da Deloitte apresentada no encontro mostrou que os altos investimentos em estrutura demandandos para abertura de capital são o segundo maior empecilho para que as empresas fechadas se aventurem na bolsa, citado por 66% delas. O primeiro é a conjuntura econômica, lembrado por 79%.
O estudo ouviu 97 companhias no país e foi encomendado pelo IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores).
Economia instável
Gilson Finkelsztain, presidente da B3, a bolsa de valores brasileira, concordou que os juros são um desafio e disse que para que mercado de capitais cresça é necessário que haja estabilidade econômica.
"Estamos claramente passando por um período de instabilidade, mas enxergamos que estamos numa ponte, numa travessia [para um cenário melhor]", afirmou.
Finkelsztain ressaltou as trajetórias de queda da inflação e da Selic, reforçando que o país deve ter ao fim deste ano ou início do próximo a menor taxa de juros real da história recente.
Ele lembrou que 2017 está sendo o melhor dos últimos cinco anos para o mercado de capitais, com três empresas fazendo oferta primária de ações na bolsa (IPOs, na sigla em inglês) e outros pedidos protocolados.
"Mesmo com essa instabilidade política ninguém desistiu", disse. "O Brasil não está parado. Obviamente a economia real está em dificuldade, mas o mercado financeiro está mostrando que há esperança".
Pereira, da CVM, endossou. "Entramos num túnel meio ingrato, mas temos a oportunidade de sair melhor [da crise]", disse, emendando que há "uma série de empresas" se preparando para se lançar em bolsa.