Política

'Não joguei (pedras) nos outros, vou jogar nos meus?', diz FH sobre prisão de Azeredo

Ex-presidente aponta diferenças com escândalo do PT; 'Não houve organização para pagar deputado'
Fernando Henrique Cardoso lança no Rio o livro "Crise e reinvenção da política no Brasil" Foto: Domingos Peixoto / Domingos Peixoto
Fernando Henrique Cardoso lança no Rio o livro "Crise e reinvenção da política no Brasil" Foto: Domingos Peixoto / Domingos Peixoto

RIO —  Durante o lançamento no Rio de seu mais novo livro "Crise e reinvenção da política no Brasil", o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso negou nesta quarta-feira que o esquema de uso de recursos ilícitos na campanha ao governo de Minas, em 1998, possa ser chamado de "mensalão tucano" . Em debate mediado pelo jornalista Bernardo Mello Franco, do GLOBO, FH falou sobre a prisão de Eduardo Azeredo e disse que o que ocorreu "era coisa de outra natureza".

— Hoje eu vinha ouvindo no rádio aqui que o Eduardo Azeredo foi condenado no mensalão tucano. Não, não tinha mensalão. Mensalão é mensalidade que se dá todo mês e tal, uma coisa de outra natureza — afirmou FH.

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Durante a entrevista, o ex-presidente diferenciou o caso de Azeredo com o do chamado "mensalão do PT". Segundo ele, o que liga os dois casos é somente o operador Marcos Valério. Porém, o caso do PT dizia respeito a pagamentos sistemáticos a parlamentares, enquanto, no caso de Azeredo, a denúncia fala em recursos para a campanha ao governo do estado.

— O Eduardo diz que não sabia, que não tinha o nome dele. Foi condenado a 20 anos de cadeira. É pesado, mas tudo bem — disse FH. E, depois, completou: — Não houve mensalão. O fato é outro. Não houve organização para pagar deputado.

FH disse que, à época do caso, sugeriu que Azeredo se afastasse da presidência do PSDB.

— O que o Eduardo fez?  Não sei pessoalmente se ele fez alguma coisa. Ele (Azeredo) era uma pessoa normalmente austera, correta, etc, etc.

O ex-presidente, porém, ressaltou que apesar das práticas serem distintas, em sua opinião, isso não significa que não existam culpados e disse que é importante respeitar a decisão do Judiciário, mas sem "jogar pedra" em ninguém.

— Não joguei nos outros, vou jogar nos meus? — questionou.

GERALDO ALCKMIN

Ao discutir os temas que abordou em seu livro, FH falou sobre as dificuldades que o mundo político enfrenta no Brasil. Para ele, a fragmentação das correntes políticos deixa o cenário eleitoral muito imprevisível e dificilmente a polarização entre PT e PSDB se repetirá na eleição presidencial de 2018.

FH diz que é muito importante para os candidatos reunir condições de vencer a eleição, ter um bom desempenho no exercício do mandato, mas também agregar apoios que permitam a governabilidade.

— Você chega um momento que você não tem mais força, então você tem que fazer aliança se quiser manter o poder. Ou se não, se quiser manter a pureza vai para a academia ou para a igreja, melhor ainda — disse.

Ao explicar seu raciocínio, mais tarde, acrescentou que "não basta ganhar eleição, tem que governar" e defendeu que seu colega de partido e pré-candidato à Presidência da República, Geraldo Alckmin, reuniria essas condições.

Questionado sobre as denúncias que o envolvem Adhemar Ribeiro, cunhado de Alckmin, FH defendeu o parente do tucano.

— Não é enrolado (o cunhado). Conheci há 20 anos. É um cara correto. Correto não sei dizer, mas é um cara normal — defendeu FH. — Que tem contra o cunhado? Nada. Não tem uma acusação contra o Geraldo.

Executivos da empreiteira Odebrecht firmaram acordo de delação premiada no qual afirmam que Alckmin recebeu R$ 10 milhões em caixa dois para as suas campanhas ao Governo do Estado de 2010 e 2014. Parte desses valores foi recebido pelo cunhado do ex-governador.

A obra é editada pela Cia das Letras e o lançamento ocorreu na livraria Argumento no Leblon, zona Sul do Rio.