Política República investigada

PF encontra indícios de crime de corrupção contra Temer

Supremo Tribunal Federal recebeu relatório parcial das investigações
Rocha Loures era identificado em Brasília como uma pessoa próxima de Temer, de quem foi assessor. Foto: Divulgação/Rodrigo Rocha Loures
Rocha Loures era identificado em Brasília como uma pessoa próxima de Temer, de quem foi assessor. Foto: Divulgação/Rodrigo Rocha Loures

BRASÍLIA — O Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu relatório parcial das investigações da Polícia Federal no inquérito do qual o presidente Michel Temer faz parte. Para os investigadores, houve crime de corrupção. A conclusão leva em consideração, além dos indícios e de outras provas, duas conversas entre o diretor da JBS Ricardo Saud e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures que já foram periciadas e ajudam a reforçar os indícios de crime.

Procurada, a Polícia Federal não comentou o relatório e nem quis se manifestar. Foi pedido ainda um prazo adicional de cinco dias para apresentar uma conclusão sobre o crime de obstrução de Justiça. Esse tempo será usado para concluir a perícia no audio da gravação do dono da JBS Joesley Batista com o presidente Temer. A PF teria optado por ser mais cautelosa nesse ponto.

O prazo inicial dado pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato, foi de dez dias. Depois, a pedido da PF, foram concedidos mais cinco dias. Agora, o ministro vai decidir se estende ainda mais o prazo.

JANOT OPINA CONTRA ARQUIVAMENTO

Michel Temer é investigado pela Procuradoria-Geral da República, que deve oferecer denúncia contra eles nos próximos dias com base na delação dos donos e executivos da JBS. Na semana passada, a defesa de Temer pediu o arquivamento do inquérito, argumentando que não havia elementos probatórios mínimos na investigação para justificar a apresentação de denúncia.

Nesta segunda-feira, o procurador-geral, Rodrigo Janot, enviou ao STF parecer contrário ao pedido de arquivamento do inquérito. Janot argumentou, no entanto, que só vai analisar o pedido mais a fundo quando receber a conclusão das investigações da Polícia Federal. Com o material em mãos, o procurador-geral vai decidir se arquiva ou se apresenta denúncia contra Temer perante o STF.

“Assim, considerando que os autos do inquérito ainda não aportaram a esse Tribunal — já que ainda não foi finalizado o prazo assinalado, a Procuradoria-Geral da República aguardará o recebimento das peças de informação para analisá-las, juntamente com os argumentos aqui expendidos”, escreveu o procurador.

AÇÃO CONTRA JOESLEY

A defesa de Temer entrou hoje com uma ação por calúnia, injúria e difamação contra o dono da JBS, Joesley Batista, na 12ª Vara Federal de Brasília. O motivo é a entrevista concedida pelo empresário à revista “Época”, na qual acusa Temer de chefiar “a maior e mais perigosa organização criminosa do Brasil” . Segundo Joesley, Temer não fazia cerimônia para pedir-lhe dinheiro em nome do PMDB e que o presidente articulava uma campanha para estancar a operação Lava-Jato.

Michel Temer também divulgou, nesta segunda-feira, um vídeo nas redes sociais no qual diz que "criminosos não sairão impunes". Ele não citou o empresário Joesley Batista.

A delação que compromete o presidente
Joesley Batista, dono da JBS, fez acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR) e ajudou a revelar um esquema de pagamento de propinas que envolveu Michel Temer
A JBS é a maior produtora de proteína animal do planeta
Joesley negociou pagamentos a políticos em troca de favorecimento para sua empresa, a JBS
Joesley Batista
(Dono da JBS)
GRAVAçÃO
Joesley gravou Michel Temer em um diálogo onde o presidente indicou o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para resolver um assunto da J&F (holding que controla a JBS).
Joesley também disse a Temer que era necessário manter um bom relacionamento com Eduardo Cunha, inclusive com pagamentos ao operador Lúcio Funaro para que ambos ficassem calados.
PROPINA
MESADA
Diante da informação, Temer incentivou:
Michel Temer
(Presidente)
INDICAçÃO
Posteriormente, Rocha Loures foi filmado recebendo
uma mala com
R$ 500 mil enviados por Joesley
Rodrigo da
Rocha Loures
(Deputado afastado)
Eduardo Cunha
(Ex-deputado)
Lúcio Funaro
(Operador)
A delação que
compromete o presidente
Joesley Batista, dono da JBS, fez acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR) e ajudou a revelar um esquema de pagamento de propinas que envolveu Michel Temer

TEMER TAMBÉM FOI GRAVADO

Em depoimento após delação premiada, Joesley Batista disse aos investigadores que o Temer era o destinatário final da mala com R$ 500 mil entregue a Rocha Loures. O dinheiro foi devolvido pelo ex-deputado, que também atuou como assessor da Presidência. Rocha Loures está preso.

Temer também é investigado por obstrução à Justiça. O presidente foi gravado por Joesley em uma conversa no Palácio do Jaburu, que não foi registrada na agenda oficial da Presidência. No encontro, o dono da JBS disse que estava "de bem" com Eduardo Cunha na cadeia, "todo mês", e Temer respondeu: "tem que manter isso, viu?". O diálogo foi interpretado pelos investigadores como uma tentativa de comprar o silêncio do ex-deputado.

Na mesma gravação, Joesley disse a Temer que estava "segurando" dois juízes e obtinha informações de investigações contra ele porque pagava a um procurador da República. Nas gravações, o presidente responde: "bom, bom". Temer foi questionado por não repreender o empresário, que relatava crimes.

Temer não nega o conteúdo da conversa. No entanto, o presidente desqualifica a integridade do aúdio, o que levou a gravação a ser periciada pela Polícia Federal.

Na entrevista à "Época", o dono da JBS garantiu que a gravação não foi manipulada. Por outro lado, um perito contratado por Temer disse que, segundo uma análise preliminar, o áudio tinha "70 pontos de obscuridade".


O empresário Joesley Batista
Foto: Agência O Globo / 14-3-2011 / Marcos Alves
O empresário Joesley Batista Foto: Agência O Globo / 14-3-2011 / Marcos Alves