Rio

Pacificação: Forças Armadas ocupam o Complexo da Maré

São 2.750 homens do Exército, da Marinha e da Polícia Militar
Tropas do Exército patrulham as ruas do Complexo da Mare / Foto: Ivo Gonzalez / O Globo
Tropas do Exército patrulham as ruas do Complexo da Mare / Foto: Ivo Gonzalez / O Globo

RIO - Os 2.750 homens das Forças Armadas e da Polícia Militar ocupam o Complexo da Maré. São 2.050 militares da Brigada Paraquedista, 500 fuzileiros navais e 200 policiais militares, que entraram neste sábado, seguindo um planejamento elaborado há quase duas semanas pelo Centro de Comando de Operações do Comando Militar do Leste (CML) do Exército. Os militares vieram em blindados preparados para situações extremas, caso os traficantes quisessem entrar em confronto com a Força de Pacificação. Eles substituíram, por volta das 8h, os 300 policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque que entraram na Maré semana passada.

— Estamos selando uma nova ação de apoio à seguranca do estado do Rio. É uma missão de apoio, temporária, como naturalmente devem ser as participações das Forças Armadas em questões de segurança pública, mas que será desempenhada com todo empenho e dedicação, como já ocorreu no passado, na ocupação do Complexo do Alemão — disse o ministro da Defesa, Celso Amorim, que com o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, assinou o documento oficial para a criação da Força de Pacificação do Complexo da Maré.

Além de Amorim e Pezão, participaram da cerimônia o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, e o comandante militar do Leste, Francisco Modesto. Há cerca de duas semanas, o governo estadual e o Ministério da Defesa já haviam firmado acordo para a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) na região, com a finalidade de iniciar o processo de pacificação do conjunto de 16 favelas na área.

A movimentação começou por volta de 3h30m. Caminhões e jipes do Exército passaram pela Avenida Brasil e Linha Vermelha e, em seguida, pararam nas principais vias. Não há registro de confrontos e o clima é de tranquilidade. Todos os veículos que passam pelas vias estão sendo revistados.

Na Rua Teixeira Ribeiro, um dos acessos à comunidade Nova Holanda, onde aos sábados é montada uma feira de alimentos e de produtos de construção, os comerciantes demoraram a levantar as barracas. Robertinho de Belém, vendedor de eletrônicos, estima que o público da feira tenha caído 40%. Ele chega a faturar R$ 800 por sábado.

— Cheguei a ligar para os amigos para saber se teria feira. O pessoal fica com medo, né? Mas está tudo na paz —  disse.

Também na Nova Holanda, militares do Exército revistam as casas. Na Rua Sargento Silva Nunes, na comunidade, e em outras vias do Parque União, moradores mantêm a rotina. Bem cedo, eles saíram para trabalhar e disseram que não haveria confronto.

— Pode tirar o colete (à prova de balas), não vai ter tiroteio, não — disse um morador ao repórter do GLOBO.

Apesar da tranquilidade, os moradores ainda não sabem se a ocupação surtirá o efeito esperado.

— Acho que as coisas vão melhorar, sim. Mas só o tempo vai dizer — afirmou outro, que também preferiu não se identificar.

De uma maneira geral, os moradores estão com medo de comentar o assunto.

— Você acha mesmo que eles (os traficantes) foram embora? —  indagou uma moradora.

Uma companhia da PM ficará a serviço das Forças Armadas. A Marinha instalará uma base na Vila dos Pinheiros. A previsão é que as tropas fiquem no local pelo menos até o dia 31 de julho. Ainda hoje será divulgado um número de telefone para que os moradores façam denúncias anônimas.

Favelas divididas por facções

Os militares assumiram as operações de busca a criminosos, drogas e armas. Equipes do Exército e da Marinha se dividiram nas favelas de acordo com o território ocupado anteriormente pelos bandidos. A Brigada de Paraquedistas do Exército está na Nova Holanda e no Parque União. Os fuzileiros navais e uma parte do Exército ficaram na Vila dos Pinheiros, Vila do João, Salsa e Merengue, cujo chefe do tráfico era o bandido Menor P, já preso. Na Roquete Pinto e na Praia de Ramos, estão também tropas do Exército. Tanques dão suporte às tropas.

Na sexta-feira, o clima nas favelas era de tensão e medo. Um morador disse que o tráfico permanece no local:

— Traficantes armados circulam pela Salsa e Merengue.

Denúncias anônimas de moradores estão ajudando a polícia a encontrar esconderijos de armas e drogas. São bilhetes e sinais passados discretamente porque a população das comunidades ainda convive com traficantes armados. Nesta sexta-feira, um policial contou que, à noite, a movimentação de bandidos, na região conhecida como Divisa, é grande:

— A situação não está sob controle.

Para a passagem do comboio das Forças Armadas em direção à Maré, a pista lateral da Avenida Brasil, sentido Zona Oeste, e as saídas 9B e 9C da Linha Amarela, sentido Fundão, ficaram bloqueadas das 3h30m às 6h30m.

Anfíbios da Marinha estão na Maré

Os 500 fuzileiros navais da Marinha, deslocados para a operação, já estão atuando no patrulhamento e em pontos estratégicos em comunidades da Maré com o objetivo de proteger pessoas e patrimônio, além de preservar a ordem pública. Foram utilizadas 12 viaturas blindadas da Marinha, sendo dois Carros Lagarta Anfíbio (CLAnf) e 10 do tipo Piranha III C, além de um helicóptero modelo Seahawk MH16. Os CLAnfs são de fabricação norte-americana, pesam 23 toneladas  e têm capacidade para 25 militares armados e equipados para realizar operações anfíbias.

Nos veículos há duas metralhadoras: uma calibre .50 e outra, lançadora de granadas MK-19, de calibre 40mm. Além da capacidade de se deslocar na água, a partir dos Navios Anfíbios da Marinha, pode deslocar-se em terra com uma velocidade de até 72,4 Km/h. Tem autonomia de cerca de 483 Km em terra e de 7h em água.

Já os carros Piranha III C pesam 18,5 toneladas e transportam 13 militares armados. Ele possui autonomia de 700 Km e utiliza uma metralhadora capaz de comportar diferentes calibres. Além de ser um carro anfíbio, também trafega em terra, mesmo que todos os oito pneus estejam furados. Os integrantes do Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais, como a maioria dos paraquedistas do Exército, têm experiência nas Missões de Paz do Haiti. Eles também atuaram na ocupação dos complexos do Alemão, da Penha, de São Carlos e do Lins, e ainda nas favelas da Rocinha, do Vidigal, da Chácara do Céu, da Mangueira, Jacarezinho, Barreira do Vasco e Caju.