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Breve Elegia

Mario Faustino e o tempo atual de sua poesia

Mario Faustino

É tempo de reler Mario Faustino. Tem um só livro: “O Homem e sua Hora”.  Faustino é natural de Teresina, Piauí. Aos dez anos mudou-se para Belém do Pará, onde formou-se. Depois transferiu-se, aos 25 anos, para o Rio de Janeiro. Intelectual brilhante, ensaísta, crítico, tradutor de Baudelaire, Mallarmé, Rimbaud, Verlaine, era moderno como o País da década de cinqüenta. Editou a página “Poesia-Experiência”, no histórico Suplemento Dominical do “Jornal do Brasil” e ali veiculou os novíssimos de então: Haroldo e Augusto de Campos, Décio Pignatari, entre tantos, geniais. Morreu cedo, em um acidente de avião no Peru, aos 32 anos, em novembro de 1962.

Andam dizendo que Mário Faustino é difícil. Não caiam nesta conversa. Faustino só é pouco conhecido. Leiam, releiam e deixem a alma ficar contaminada por este poeta elegante, metafísico e inteligente. Comecem por “Breve Elegia”. E releiam o último parágrafo até o entendimento se completar. Parece que foi escrito hoje. 

Breve Elegia

Só ardem neste sono

os círios da memória e do desejo.

E turvos

na memória revolta são teus gestos –

os únicos repletos de perdão.

É preciso esquecer

tanto amar, tanta amarga

expiação de tudo que guardamos

por não sabermos dar.

E obscura

                    pelas vagas do leito

                                                  - tua sombra –

nenhuma outra é digna deste abraço.

Pudesse eu divagar

pelos bosques teu reino, mergulhar

contigo em tua fonte, ou ascender

ao teu éter contigo, ao teu mistério ...

mas não há via larga rumo à noite.

Então, luz após luz remota, um sol atroz

atira-me do sonho aos recifes

reais donde diviso tua fuga:

Jamais a madrugada traz nos braços

relíquias de uma lua que adoramos.

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