Rio

Em guerra com o mundo do samba, Crivella recebeu apoio de escolas antes da eleição

Foto feita durante a campanha eleitoral mostra o então candidato sorridente, cercado por representantes das agremiações e pelo presidente da Liesa
O então candidato Marcelo Crivella recebeu apoio de presidentes de escolas de samba na campanha Foto: Reprodução / PRB
O então candidato Marcelo Crivella recebeu apoio de presidentes de escolas de samba na campanha Foto: Reprodução / PRB

RIO - Hoje descontentes com a decisão do prefeito Marcelo Crivella de cortar o apoio financeiro ao carnaval do Rio, representantes de várias escolas de samba e de blocos carnavalescos, num passado recente, deram apoio ao então candidato da coligação “Por um Rio Mais Humano”. Na página do PRB, uma foto exibe Crivella sorridente ao lado de presidentes de agremiações, como Chiquinho da Mangueira e Regina Celi, do Salgueiro.

O presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Jorge Castanheira, também posou para o clique. Na época em que a imagem foi eternizada, Castanheira lembrou que a prefeitura sempre apoiou o carnaval carioca e afirmou que não esperava “outra postura de Crivella, caso seja o novo prefeito da cidade.”  O encontro aconteceu no dia 14 de outubro de 2016, durante o segundo turno da campanha em que Crivela concorria ao cargo com o candidato Marcelo Freixo, do Psol.

Pelo menos cinco das 13 escolas de samba do Grupo Especial do Rio — União da Ilha, Mocidade, São Clemente, Mangueira e Unidos da Tijuca — ameaçam ficar longe da Marquês de Sapucaí em 2018, caso o prefeito Marcelo Crivella de fato corte à metade a subvenção distribuída às agremiações.

Na última sexta-feira, o prefeito disse que vai tirar o dinheiro do carnaval para dobrar (de R$ 10 para R$ 20) o valor diário gasto com cada uma das 12 mil crianças matriculadas em 158 creches conveniadas com o município. Representantes do setor turístico e das escolas de samba argumentam que o investimento da prefeitura no maior evento da cidade incrementa a economia do Rio. A festa, segundo cálculos da Riotur (órgão da prefeitura), movimenta R$ 3 bilhões no período, aumentando a arrecadação de impostos.

Marcelo Crivella posou para foto com passistas mirins de escolas de samba antes da eleição Foto: Reprodução / PRB
Marcelo Crivella posou para foto com passistas mirins de escolas de samba antes da eleição Foto: Reprodução / PRB

O encontro do ano passado teve um tom de desagravo. E os presidentes de escolas deixaram claro que estavam ali para deixar claro que acreditavam que Crivella estava sendo alvo de preconceito, já que se falava que ele ia “acabar com o carnaval.

Na ocasião, o presidente da escola campeã de 2016, Chiquinho da Mangueira declarou:

“Senador, a Mangueira este ano foi 10! O preconceito contra o senhor foi quebrado quando o senhor esteve na Liga e assumiu compromissos com o carnaval, uma das coisas mais sérias que tem no Rio de Janeiro. Meu compromisso nesse segundo turno é com o senhor, eu sou 10! A Mangueira é 10! O mundo do samba é 10!”, disse Chiquinho, como é possível ver na página do PRB.

Crivella ainda posou com passistas mirins e até cantou um samba. A cantoria foi precedida de uma explicação. Ele contou que a presidente do Salgueiro havia lhe perguntado se ele acabaria com o carnaval, caso fosse eleito prefeito. Para provar que não faria, narrou o então candidato, ele “puxou” um samba.

“Aí perguntei a ela (Regina Celi) de que ano era esse samba (Festa Para Um Rei Negro – Pega no Ganzê, de autoria de Zuzuca), e ela não soube dizer. Aí disse a ela: ‘A senhora não sabe e eu é que quero acabar com o carnaval?” – afirmou Crivella naquela época.

Todos o aplaudiram.

O presidente da Paraíso da Tuiutí, Renato Thor, ainda se lembra das promessas do prefeito durante o encontro.

–Estávamos todo lá mostrando apoio e ele até cantou um samba do Salgueiro, emocionando todo mundo. Agora veio esta notícia. Estou surpreso e estou esperando a posição do nosso presidente Jorge Castanheira, que está tentando marcar uma reunião com o prefeito. Mas só posso dizer que se for verdade, a Tuiutí não tem como colocar seu carnaval na rua - disse. - Mas vamos esperar para ouvir isso dele. Os presidentes de escolas que participaram da reunião antes da eleição estão esperando para ouvir isso dele, olho no olho. Por enquanto, só sabemos o que estamos lendo na imprensa - completou.

Luiz Carlos Magalhães, presidente da Portela, também estava no evento. Ele prefere não falar como presidente da agremiação, mas, "como cronista do carnaval" faz duras críticas à decisão do prefeito:

–A posição da Portela nós vamos tirar em conjunto com a Liesa, porque acredito que decisões em conjunto têm mais força. Mas, como cronista e comentarista do carnaval, questiono esta decisão. Ela parece muito mais uma decisão financeira que econômica, porque, para resolver um problema financeiro da Secretaria de Educação o prefeito vai comprometer o carnaval, que atrai 1 milhão de turistas e gera R$3 bilhões de receita. O carnaval é uma Copa do Mundo por ano. Se prejudicar a festa, a prefeitura vai acabar não tendo esta receita – diz.

O presidente da Portela chama atenção para um detalhe: o planejamento e a produção dos desfiles já começou e as escolas já fizeram contratos e previram gastos que não poderão ser cortados.

–As escolas já contrataram carnavalescos, coreógrafos...Esta decisão não pode ser unilateral. Não podemos em junho/julho saber que não teremos mais dinheiro. Mas eu, como cidadão e cronista do carnaval, me pergunto: foi uma decisão cultural, religiosa ou financeira? Afinal, ele disse uma coisa  e está fazendo outra. Temos que saber o que está acontecendo – afirmou.

A presidente do Salgueiro não foi encontrada para comentar o corte de subvenção, mas a assessoria de imprensa da escola informou que a agremiação só irá se pronunciar após reunir-se com a Liesa, encontro que está marcado para quarta-feira à noite.