Política Jorge Bastos Moreno

Noblat sobre Moreno: Um sedutor por natureza

Colunista fala sobre sua relação com colega e amigo de muitas décadas
Jorge Bastos Moreno, em sua mesa na redação da sucursal de Brasília, em 1999. Foto: Sérgio Marques / Agência O Globo
Jorge Bastos Moreno, em sua mesa na redação da sucursal de Brasília, em 1999. Foto: Sérgio Marques / Agência O Globo

Simulávamos divergir com frequência só por pura distração. Falávamos mal um do outro e depois trocávamos confidências a respeito, rindo dos que acreditavam em nossas malidicências. Da última vez que nos encontramos acidentalmente no Leblon, no Rio, Moreno me contou que o ministro Moreira Franco, secretário da presidência da República, tentara nos intrigar.

Contei a Moreira, que replicou: “Isso é coisa do Moreno. Ele é que tenta nos intrigar”. Nos anos 80, quando chefiava a redação da sucursal do Jornal do Brasil, em Brasília, convidei Moreno para trabalhar comigo.Ele foi, junto com Rodolfo Fernandes, depois editor chefe de O GLOBO. Ficou por poucos meses. Sua casa era o GLOBO. E foi por mais de 35 anos. Aqui, cresceu como jornalista político e viveu seus melhores dias.

Era ciumento com os amigos. E, acima de tudo, generoso. Brasília era uma cidade de imigrantes quando por lá cheguei no início de 1982. E Moreno acolhia com carinho os jornalistas que ali aportavam.Sua casa, no Lago Norte, era palco de muitos jantares que reuniam políticos de todas as tendências e jornalistas de todos os veículos. Não houve um só presidente da República que não tivesse passado por lá.

Moreno foi também um sedutor. As jornalistas jovens e bonitas viviam em torno dele. E ele as cortejava com gosto. A Rebeca, minha mulher, dizia que gostava mais dela do que de mim. Duvido, mas pode ser.

Não era avaro com as notícias. Compartilhava-as com os colegas. Mas nenhum, na sua época, as teve em tamanha quantidade e com tamanha qualidade quanto Moreno. O segredo do sucesso dele? Ralar muito, cultivar as fontes de informação com afinco, e um faro apuradíssimo para descobrir notícias onde aparentemente elas não existiam e antes que se tornassem públicas.

O jornalista Jorge Bastos Moreno, colunista do GLOBO, morreu à 1h desta quarta-feira, no Rio, aos 63 anos, de edema agudo de pulmão decorrente de complicações cardiovasculares. Um dos mais respeitados repórteres políticos do Brasil, Moreno nasceu em Cuiabá e viveu em Brasília desde a década de 1970. Há 10 anos morava no Rio.
O jornalista Jorge Bastos Moreno, colunista do GLOBO, morreu à 1h desta quarta-feira, no Rio, aos 63 anos, de edema agudo de pulmão decorrente de complicações cardiovasculares. Um dos mais respeitados repórteres políticos do Brasil, Moreno nasceu em Cuiabá e viveu em Brasília desde a década de 1970. Há 10 anos morava no Rio.

O furo! Esse foi o seu Santo Graal. Persegui-o sempre faminto, ávido, incansável.  Serviu aos leitores algumas das mais importantes informações exclusivas produzidas em Brasília enquanto por lá viveu.

Ao mudar-se de vez para o Rio, Moreno me pareceu estar em busca de novos desafios. Sem desprezar as fontes de informação política, rapidamente soube conquistar fontes na área artística.E logo não havia jornalista mais íntimo de nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e de celebridades de televisão do que ele. Morreu cedo  graças aos excessos de comida. Sabia que ela o mataria. Deixou-se matar.

Quem o conhecia bem sentirá sua falta. Quem não o conhecia não saberá o que perdeu.