Por Cristina Boeckel e Miguel Folco, G1 Rio


Apenas 40 mulheres sindicalizadas trabalham como porteiras no Rio de Janeiro

Apenas 40 mulheres sindicalizadas trabalham como porteiras no Rio de Janeiro

Nesta quinta-feira (29) é celebrado o Dia do Porteiro no Rio de Janeiro. E se é comum ver homens tomando conta de portarias, ainda é raro observar mulheres nesta mesma posição. De acordo com o sindicato que representa a categoria, elas ainda são uma raridade. A entidade sindical considera que há em torno de 120 mil porteiros na cidade. Destes, 40 mil são sindicalizados.

E dentro deste grupo, em torno de 40 são porteiras. O G1 foi conhecer algumas das poucas mulheres que ocupam a função para saber quais são as dificuldades das mulheres que trabalham no cargo. São histórias de luta, de mulheres que batalham no ofício conhecido por ser quase exclusivamente masculino, para sustentar suas famílias.

Maria José Almeida da Silva, veio de João Pessoa para o Rio de Janeiro aos 17 anos com o objetivo de melhorar de vida. Porém, a vida de esforço e trabalho sofreu um baque quando o marido adoeceu por conta de uma doença renal crônica. Com o agravamento da situação de saúde dele, em 1988, ela decidiu largar o emprego de doméstica, que mantinha há dez anos, para assumir a função.

Desde então, o marido de Maria José faleceu e ela conseguiu, com o trabalho na portaria, cuidar da filha. Ela e o trabalho estão entre seus maiores orgulhos. Quando perguntada se é feliz, ela não demora em dizer que sim.

“Criei a minha filha sozinha. Quando o pai dela morreu, ela tinha 9 anos. Ela fez faculdade, se formou. É fisioterapeuta. Casou e tem dois filhos, o Miguel e o Artur. Graças a Deus, eu estou feliz,” explicou Maria José.

Uma das funções de Maria Irma em um prédio comercial de Copacabana é ajudar o embarque nos elevadores. — Foto: Miguel Folco/ G1

Também veterana na portaria, Maria Irma Oliveira de Souza atua na função há 22 anos. Nascida a região rural de Catunda, município de Santa Quitéria, no Ceará, ela está no Rio desde 1980. Nascida em uma família de 13 irmãos, também veio para o Rio em busca de uma vida melhor. De sorriso fácil, ela disse mais de uma vez que adora o que faz. “Eu amo essa profissão”.

Maria Irma chegou à portaria graças ao avanço da tecnologia. Inicialmente contratada como ascensorista, ela passou para a função de porteira depois dos elevadores do condomínio onde trabalha, em um prédio comercial de Copacabana, serem modernizados e não precisarem mais de alguém para comandar o sobe e desce dos andares. Outra profissional da portaria também trabalha com ela no prédio, faz questão de dizer.

Ela se desdobra recebendo correspondências, atendendo as pessoas e cuidando do entra e sai dos elevadores.

“Na portaria, você conversa mais, você se comunica melhor, não fica parada, tem hora que agita. As horas passam mais rápido,” explica Maria Irma.

Chama a atenção

As duas porteiras reconhecem que há poucas mulheres exercendo a função. Ao ponto de, às vezes, chamar a atenção delas mesmas.

“Quase não vejo. E, quando vejo, eu paro para olhar para ela”, contou Maria Irma, rindo, por se surpreender.

Segundo Carlos Antônio Cunha de Oliveira, presidente do Sindicato dos Empregados de Edifícios do Município do Rio de Janeiro (SEEMRJ), que também atende outras 18 cidades, a disparidade não se justifica. Ele considera que as mulheres deveriam estar mais presentes na vida cotidiana dos prédios residenciais e comerciais da cidade. “Tem mulher em tudo. Elas também deveriam participar mais das portarias.”

O próprio sindicalista, que trabalhou como porteiro desde os anos 70 e atualmente está aposentado, destaca que nunca recebeu nenhuma reclamação de uma profissional do sexo feminino. Ele acredita que algumas pessoas ainda estão presas à imagem de sexo frágil, e não vislumbram a possibilidade de uma mulher estar a frente de tudo.

“Talvez pelos síndicos, que acham que podem não ter segurança, mas as mulheres são iguais aos homens”, faz questão de dizer o presidente do sindicato.

Maria José abre a porta para moradora de prédio no Leblon. — Foto: Miguel Folco/ G1

Em algumas regiões do país, o dia do porteiro é 9 de junho. Em outros, como no Rio de Janeiro, a data é celebrada no dia do padroeiro da categoria, 29 de junho. A escolha da data é por causa do dia do padroeiro da categoria, São Pedro, considerado o “porteiro do céu”. Na data que homenageia a categoria, os porteiros têm direito a hora extra 100%.

Todos os representantes da categoria concordam em um ponto: acreditam que os porteiros e porteiras merecem maior reconhecimento.

“O que seria das pessoas que trabalham no condomínio sem o porteiro? A gente passa a informação. A gente explica as coisas. A gente segura o elevador, tem sempre um idoso, uma pessoa com bolsas que a gente ajuda. Isso é muito significante”, destacou Maria Irma.

O presidente do sindicato dos porteiros do Rio encerra com a lembrança de os profissionais que trabalham nos prédios são muito mais presentes do que se pode imaginar.

“Quando o pessoal dorme, o vigia está tomando conta. Quando eles vão trabalhar, o porteiro está lá. O porteiro deveria ser mais homenageado. Porque ele é a segurança do prédio. Ele que zela pelos moradores”, contou o presidente do sindicato.

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