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Trump diz que plano de paz para Israel 'faz muito sentido para todos'; palestinos criticam

Autoridades palestinas indicaram que não foram convidadas a Washington e rejeitaram 'a priori' um acordo, ressaltando viés pró-Israel do presidente americano
Presidente dos EUA, Donald Trump, e primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na Casa Branca Foto: KEVIN LAMARQUE / REUTERS/27-01-2020
Presidente dos EUA, Donald Trump, e primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na Casa Branca Foto: KEVIN LAMARQUE / REUTERS/27-01-2020

WASHINGTON — A pouco mais de dois meses para as eleições israelenses de 2 de março, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , afirmou nesta segunda-feira que a Casa Branca irá divulgar na tarde de amanhã seu aguardado plano de paz , proposto há mais de dois anos, para Israel e Palestina .

Ao receber na Casa Branca o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu , e o líder da oposição, Benny Gantz , em encontros separados, Trump disse a jornalistas que o plano de paz "faz muito sentido para todos". Ele não divulgou detalhes nem disse como o plano poderia beneficiar os palestinos, mas afirmou que "é algo que eles deveriam querer".

Apesar de ter ressaltado que "eles provavelmente não vão querer inicialmente", Trump disse:

— Acredito que no fim eles irão... É muito bom para eles. Na verdade, é excessivamente bom para eles. Então vemos o que acontece — afirmou.

Após o encontro com Trump, Gantz louvou o plano como um "marco histórico", também sem revelar do que ele consiste.

— Imediatamente após a eleição, irei trabalhar para implementá-lo dentro de um governo estável e funcional de Israel, em conjunto com os outros países de nossa região — afirmou. Ele também disse ter discutido "questões de máxima importância para o futuro e segurança de Israel" com Trump, mas não deu mais detalhes.

Os palestinos, no entanto, indicaram que não haviam sido convidados a Washington para a ocasião e rejeitaram "a priori" o plano. As negociações entre os dois lados estão paradas desde 2014, e Trump é visto pela liderança palestina como excessivamente pró-Israel para atuar como mediador.

O acordo inclui, segundo os palestinos, a anexação por parte de Israel do Vale do Jordão , uma área agrícola e estratégica que representa cerca de 30% da zona ocupara da Cisjordânia e dos assentamentos israelenses na região. Ele também preveria o reconhecimento oficial de Jerusalém como capital única e indivisível de Israel. Os palestinos querem ver no setor oriental (árabe) de Jerusalém a capital de um futuro Estado independente.

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Os assentamentos israelenses em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia são considerados ilegais pelo direito internacional e por resoluções do Conselho de Segurança da ONU , a mais recente delas de 2016.

Segundo a agência de notícias AFP, autoridades palestinas confirmaram que Trump tentou várias vezes nos últimos meses entrar em contato com o presidente palestino, Mahmoud Abbas , por meio de terceiros. Abbas não respondeu, segundo a agência.

Segundo Abbas, Washington não pode ser visto como um mediador honesto porque, de acordo com o presidente palestino, tem um viés pró-Israel. A acusação remete a uma série de decisões de Trump vistas como enviesadas, entre elas o reconhecimento de Jerusalém como a capital israelense, a transferência da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém, e o corte de centenas de milhões de dólares em assistência humanitária para os refugiados palestinos.

O primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, também criticou a decisão do governo americano.

— Nós rejeitamos isso e exigimos que a comunidade internacional não seja parceira disso porque [o acordo] vai contra as bases da lei internacional e aos direitos inalienáveis palestinos — disse. — Não é nada além de um plano para acabar com a causa palestina.

Problemas internos

Trump e Netanyahu são fortes aliados políticos. No entanto, ambos enfrentam problemas internos: o americano tem sido acusado de tentar usar o plano de paz para tirar atenção de seu julgamento de impeachment , agora no Senado. E Netanyahu foi acusado de corrupção em novembro e está em um limbo legal. Ambos negam quaisquer atos irregulares.

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Os dois estão em campanhas pela reeleição — Trump em novembro e Netanyahu em março, tendo  Gantz, do Partido Azul e Branco, como principal rival. O premier israelense tentou duas vezes, mas não conseguiu, obter maioria no Parlamento no ano passado.

Trump tem repetidamente adiado a divulgação do seu plano de paz para evitar causar problemas à eleição de Netanyahu, do Likud, de direita, já que existe a possibilidade de que o acordo preveja algumas concessões de parte de Israel.

O plano será revelado às 14h desta terça, no horário de Brasília. Em frente à Casa Branca, Trump disse nesta segunda acreditar que o plano "tem uma chance" e afirmou que espera obter o apoio dos palestinos ao projeto, visto como fadado ao fracasso pela maioria dos analistas.