Política Tragédia em Brumadinho

Laudo de segurança de barragem em Brumadinho apontou erosão e problemas de drenagem

Documento foi feito em setembro, cinco meses antes da tragédia
Barragem 1 da Mina do Feijão em Brumadinho após o acidente 03/02/2019 Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo
Barragem 1 da Mina do Feijão em Brumadinho após o acidente 03/02/2019 Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

O laudo técnico da empresa alemã  Tüv Süd,  que atestou a segurança da barragem 1 da Mina do Fejão, em Brumadinho (MG), apontou erosão e problemas de drenagem, o que podem ter provocado o rompimento da estrutura no dia 25 de janeiro. O atestado de estabilidade foi feito a pedido da Vale, em setembro do ano passado, cinco meses antes da tragédia que deixou até o momento 134 mortos. O documento atestava a segurança da barragem pelo período de um ano.

O laudo conclui pela estabilidade da estrutura, mas registra que, em determinada área da barragem que estava parcialmente saturada de água, havia um dreno seco. Outros continham trincas de onde vertia água.

O documento recomendou a instalação de novos piezômetros, equipamentos que medem a pressão e o nível da água no solo, e de um mecanismo de registro sismológico no entorno da barragem.

Segundo o laudo, para aumentar a segurança da barragem e evitar a liquefação — quando a lama passa de pastosa para líquida —, a Vale deveria tomar atitudes que diminuíssem a probabilidade de gatilhos, como proibir detonações nas redondezas, evitar o tráfego de equipamentos pesados, e impedir a elevação do nível da água na estrutura.

Para o geólogo Alberto Pio Fiori, dois pontos no relatório chamam a atenção, ambos em etapas antigas da construção da barragem. Em 1986, a barragem foi "envelopada" para a mudança no seu funcionamento, passando a funcionar pela técnica de linha de centro, considerada mais eficiente. Contudo, não foi construído um dreno de fundo, prática que seria imprudente.

- Esse dreno de fundo fundamental em qualquer barragem. A água que vai se acumulando tem que sair. Se fica presa lá dentro, começa a gerar pressões, cada vez mais altase essas pressões vão aumentando à medida que aumenta a altura da barragem. Essa pressão pode levar à ruptura da barragem no fundo dela. Não por extravazamento mas no fundo da própria barragem - afirmou.

Além disso, diz Fiori, na construção de mais um dos alteamentos (espécie de degrau na barragem conforme ela aumenta sua altura com a deposição de resíduos), a empresa responsável constatou um grau de segurança de 1,3, menor do que o definido como mínimo necessário.

"No desenvolvimento do projeto do 4º alteamento foi constatado que o fator de segurança da estrutura não atendia ao recomendado pela norma técnica, sendo inferior a 1,3", escreveram os engenheiros no relatório.

- Não dá para saber se esse índice foi aumentado ou não. O ideal seria que a empresa tenha tomado as providências para aumentar esse fator de segurança. Se não corrigiram, seria outro ponto fraco - diz.

Em nota, a Vale informou que todas as recomendações foram atendidas ainda no ano de 2018. “Cabe reforçar que se tratavam de recomendações rotineiras em laudos deste gênero”.

O último laudo foi ssinado pelo engenheiro Makoto Namba, preso junto com mais outro engenheiro da  Tüv Süd e três funcionários da Vale, em Minas, após o acidente por determinação da Justiça.

A empresa alemã elabprou dois relatórios sobre as condições de segurança da barragem de Brumadinho. O primeiro, de agosto de 2017, conclui que “o desempenho da barragem se encontrava adequado, atendendo às exigências das normas brasileiras de segurança para barragens”. O segundo, de julho de 2018, reafirma a conclusão.