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Política Lava-Jato

Delação do marqueteiro do PMDB leva Lava-Jato no Rio a uma nova frente de investigações

Fraudes envolvem comunicação e publicidades em governos e campanhas do partido
O marqueteiro Renato Pereira Foto: Marcelo Carnaval / 26-3-13
O marqueteiro Renato Pereira Foto: Marcelo Carnaval / 26-3-13

SÃO PAULO — Sanadas todas questões em torno das condições de aplicação de pena ao marqueteiro do PMDB Renato Pereira e homologada sua colaboração pelo STF, a Lava-Jato no Rio volta a ter nas mãos condições para avançar em mais um front da investigação que disseca a promiscuidade entre público e privado no estado do Rio.

A nova frente jogará luz sobre malfeitos nas áreas de comunicação e publicidade nos governos e campanhas de Sérgio Cabral e Pezão, de Eduardo Paes e Pedro Paulo e do prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, do PV. Todos, diz o delator, teriam se servido de meios escusos para financiar campanhas eleitorais e propagandas de governo.

O teor da delação homologada é o mesmo revelado no fim de 2017 em uma série de reportagens de O GLOBO. Com isso, se mantida a sede dos investigadores fluminenses nas últimas operações, este é um momento de contagem regressiva para os protagonistas das histórias de Pereira.

Caso de executivos de algumas das maiores agências de publicidade e comunicação brasileiras, acusadas de devolver ao marqueteiro parcela de lucros obtidos em licitações fraudadas; pagar despesas da pré-candidata Marta Suplicy em troca de contrato federal da época em que ela era ministra; e de simular contrato para repassar caixa 2 de empreiteira à campanha de Pezão.

Deve sobrar para o onipresente Maurício Cabral, irmão do ex-governador, que Pereira diz ter influenciado contratos do governo e da prefeitura por mais de uma década. Nomes do primeiro escalão de governos do PMDB e fornecedores do estado que já aparecem em outras operações passam a ter novas acusações no currículo, como Wilson Carlos e Jacob Barata. Outros devem debutar nas investigações, entre eles os sócios de Pereira na Prole, que teriam sido cúmplices de crimes e participado diretamente de negociações escusas.

O caixa paralelo do governo Cabral era sugestivamente chamado de “movimento social”, revelou Pereira. Era uma forma de garantir apoio em diferentes camadas de governo e da sociedade, abastecendo a conta de subsecretário a cineasta.

Na delação, sobrou até para o pato da Fiesp: a licitação de sua agência, a Prole — responsável pela campanha que catalisou a deposição da presidente Dilma Rousseff, em 2016 — foi fraudada para beneficiá-lo.

O delator entregou à Lava-Jato uma mala contendo registros de contratos, extratos financeiros e outros documentos que afirma comprovarem o que diz. O fato de a colaboração ter sido tornada pública antes de operações inspiradas em seu teor traz um novo cenário para a investigação: alvos interessados em colaborar poderão entregar um cardápio de temas antes da batida da polícia à porta.