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Rio

Entenda como a crise da Cedae culminou na saída do presidente Helio Cabral

Decisão de troca no comando da companhia chega 40 dias após o surgimento de informações de contaminação da água da Estação do Guandu
Witzel ao lado do presidente da Cedae, Hélio Cabral Foto: Brenno Carvalho / Agência O GLOBO
Witzel ao lado do presidente da Cedae, Hélio Cabral Foto: Brenno Carvalho / Agência O GLOBO

RIO — A decisão da saída de Helio Cabral da presidência da Cedae, conforme antecipou o colunista Ancelmo Góis , vem 40 dias após o início da crise no abastecimento de água da Estação do Guandu. Nesse período, Cabral foi criticado por ter demorado em dar respostas sobre os problemas, além de ter feito promessas sobre o fim do cheiro e gosto na água, fato que ainda não se concretizou. Ele deve ser substituído pelo servidor de carreira Renato Espírito Santo.

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Se inicialmente o governador Wilson Witzel afirmava que não demitiria Helio Cabral, a pressão, inclusive política, passou a ser insustentável. O desgaste começou primeiro por causa da demora do governador em se pronunciar: somente 10 dias após as notícias dos problemas, ele emitiu uma nota, enquanto passava férias na Disney, classificando os eventos como "inadmissíveis". Depois, o governador tornou-se alvo de críticas por causa das indicações políticas na Cedae, em um movimento que seria comandado por Pastor Everaldo , presidente nacional do PSC de Witzel.

O governador, que durante a sua campanha para eleição se dizia contra a privatização da Cedae, mudou de opinião, e, inclusive, nas últimas entrevistas vem colocando a concessão das ações da companhia como a principal solução para o saneamento básico do estado.

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Alinhado a esse discurso, Helio Cabral também dava essa resposta quando questionado sobre propostas para universalização do esgoto no estado. A companhia foi incluída no Regime de Recuperação Fiscal com a União em 2017 como garantia para um empréstimo de R$ 2,9 bilhões pelo estado.  A expectativa é que  a nova presidência deverá adotar a mesma posição.

Entenda a linha do tempo da crise

Dia 1 º de janeiro: Moradores começam a relatar cheiro, gosto e até coloração na água que chegava pelas torneiras, principalmente na Zona Oeste e nas cidades da Baixada Fluminense.

Dia 7 de janeiro: Com a intensificação de reclamações, a Cedae dá a primeira explicação oficial para o caso e culpa a proliferação de algas nos mananciais da Bacia do Guandu. O presidente Helio Cabral, porém, ainda não se pronuncia publicamente.

Dia 10 de janeiro: Cedae anuncia a aplicação de carvão ativado para a combater geosmina. Nos mercados, garrafas de água mineral começam a faltar, devido ao aumento da procura.

Dia 14 de janeiro: Após um longo silêncio, o governador Wilson Witzel, que passava férias na Disney, se manifesta sobre a crise por meio de uma nota e classifica os transtornos como “inadmissíveis”.

Dia 15 de Janeiro: Helio Cabral se pronuncia pela primeira vez desde o início da crise. Em coletiva, ele respondeu que, após a aplicação do carvão ativado, a água voltaria à normalidade em até 24 horas.

Dia 23 de janeiro: Começa a aplicação do carvão ativado nos reservatórios da estação do Guandu. Witzel e Hélio Cabral anunciam, como projeto paliativo e emergencial, a transposição das águas dos rios Queimados, Poços, Ipiranga e Cabuçu, principais poluidores da Lagoa do Guandu. Nesse evento, a promessa é que a água volte ao normal em até uma semana.

Dia 30 de janeiro: Diferente do que foi prometido pelo governador, a água não voltou ao normal após uma semana de aplicação de carvão ativado. Cedae começa a usar argila na Lagoa do Guandu.

Dia 4 de fevereiro: O tratamento na Estação do Guandu é interrompida após a detecção de detergente na água de captação.

Dia 5 de fevereiro: A Estação volta a funcionar cerca de 14 horas após a interrupção. Na coletiva para explicar o problema, Helio Cabral afirmou que não havia mais geosmina na água que sai da estação. O governador Witzel anuncia projeto de instalação de "ecobags" nos rios poluidores, para evitar a sujeira que chega ao Guandu.