Política Lava-Jato

Presidente do Conselho de Ética arquiva pedido de cassação de Aécio, por 'falta de provas'

João Alberto (PMDB-MA) alega que não houve quebra de decoro ou flagrante continuado

O senador afastado Aécio Neves Foto: Agência Senado
O senador afastado Aécio Neves Foto: Agência Senado

BRASÍLIA — Como já tinha sinalizado, o presidente do Conselho de Ética do Senado, João Alberto de Souza (PMDB-MA), decidiu, monocraticamente, arquivar o pedido de cassação do mandato do senador afastado Aécio Neves (MG), apresentado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). No início da semana João Alberto disse que sua decisão sobre a representação pedindo a cassação do tucano mineiro seria alinhada com a posição do plenário sobre uma eventual decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) ratificando sua prisão. Mas ele nem esperou a decisão do STF, adiada para a próxima semana. O arquivamento do pedido de cassação no Conselho, entretanto, não devolve a Aécio o exercício do mandato, que continua afastado pelo STF.

Depois de receber a análise preliminar da assessoria jurídica do Senado, o presidente do Conselho de Ética decidiu não dar prosseguimento ao processo por considerar que não houve quebra do decoro parlamentar ou flagrante continuado no caso das gravações em que o tucano pede dinheiro ao empresário Joesley Batista.

SENADOR SE EXPLICA EM NOTA: "FALTA DE PROVAS"

Em nota o senador João Alberto  informou que não admitiu a representação contra Aécio e que os membros do Conselho tem dois dias úteis para recorrer do arquivamento, com apoio de no mínimo cinco membros.

— Indeferi por falta de provas — afirmou o senador.

Ao receber a representação de Randolfe, ele disse que poderia decidir sozinho pelo arquivamento, se não se convencesse da existência de fundamento que justificasse a cassação.

Joao Alberto lembrou que no caso do ex-senador Delcídio Amaral, ele acatou a abertura de processo porque o plenário do Senado também entendeu que houve crime de flagrante continuado. Mas tem dúvidas se o que aconteceu com Aécio não foi uma “armação”.

— Dizem que houve uma armação contra ele. As fitas foram editadas? O que o STF vai decidir sobre isso? E se o STF disser que as fitas são inválidas? A única prova desse processo são as fitas - argumenta João Alberto.

Na foto, o senador João Alberto Souza, presidente do Conselho de Ética do Senado, em fevereiro Foto: André Coelho / Agência O Globo
Na foto, o senador João Alberto Souza, presidente do Conselho de Ética do Senado, em fevereiro Foto: André Coelho / Agência O Globo

EM DESPACHO, ALEGAÇÃO DE QUE NARRATIVA NÃO SE SUSTENTA

Em seu despacho de 34 páginas, João Alberto diz que não se sustenta a “narrativa” de que Aécio pediu propina em troca de favorecimento ao grupo JBS do empresário Joesley Batista. Diz que o delator armou a gravação para se safar de pena, e que não há prova de que Aécio tenha dado algo em troca de uma pedido de empréstimo pessoal. O senador João Alberto diz que não há crime continuado que justifique a abertura do processo de cassação, nem prova de que os R$2 milhões entregues ao primo de Aécio tenha integrado seu patrimônio pessoal.

Segundo João Alberto a representação da Rede deveria ter sido encaminhada com as provas tendentes a demonstrar a quebra do decoro, mas foram anexadas “meras” notícias de jornais sobre “um suposto” diálogo entre Aécio e Joesley.

O presidente do Conselho diz ainda que as gravações e os documentos levados posteriormente aos autos, provam que a irmã do senador Aécio, Andrea Neves, não pediu propina, mas apenas procurou Joesley para tentar fazer uma transação imobiliária para arcar com custos da defesa técnica.

“Frise-se que, por sugestão do então candidato a delator, Joesley Batista, é que foi oferecido o empréstimo com a clara finalidade de criar uma situação que pudesse livrá-lo das gravíssimas acusações de que é alvo e, ao mesmo tempo, proporcionar-lhe inéditos benefícios obtidos em acordo celebrado com o Ministério Público Federal”, diz o despacho do senador João Alberto.

Ele diz ainda que na gravação analisada não ha´ qualquer tratativa sobre vantagens indevidas envolvendo interesse público, não há ato de oficio da esfera de competência do senador Aécio Neves. E cita fala do lobista Ricardo Saud : “ Ele nunca fez nada por nós, na verdade. Ele nunca fez nada por nós”.

RANDOLFE SE MOBILIZA PARA RECORRER

Autor da representação, o senador Randolfe Rodrigues já encaminhou ofício a todos os membros do Conselho pedindo apoio para recorrer ao plenário contra o arquivamento. Mas segundo ele, apenas os senadores Lasier Martins (RS) José Pimentel (PT-CE) aceitaram apoiar. Ele precisa, até terça-feira, ter cinco assinaturas.

— A argumentação do senador João Alberto é hilária. Ele diz no despacho que Aécio foi vitima de uma armação e que foi colocado naquilo. Eu esperava um presidente no Conselho, não um advogado do representado — criticou Randolfe.

AÉCIO NEGA ACUSAÇÕES APÓS ARQUIVAMENTO

Em nota, a defesa do Senador Aécio Neves negou as acusações e argumentou que as "afirmações feitas por criminosos confessos, em busca dos benefícios de uma delação, não devem ser tratadas como prova".

Sobre o empréstimo de 2 milhões de reais, oferecido por Joesley Batista ao senador, a nota diz que a "investigação demonstrará que a negociação não envolveu dinheiro público e muito menos propina".

"Portanto, não houve crime nem quebra de decoro parlamentar", conclui a defesa do senador afastado.

O que pesa contra Aécio Neves
Joesley Batista, dono da JBS, entregou à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma gravação que compromete o senador e presidente do PSDB Aécio Neves (PSDB-MG)
A JBS é a maior produtora de proteína animal do planeta
Aécio e Joesley se encontraram no dia 24 de março no Hotel Unique, em São Paulo. Joesley gravou suas conversas com o senador.
Joesley Batista
(Dono da JBS)
Na conversa, Aécio pediu a Joesley R$ 2 milhões,
sob a justificativa de que precisava da quantia para pagar despesas com sua defesa na Lava-Jato.
Quem levou o dinheiro (em uma mala) foi Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais da JBS.
RICARDO
SAUD
GRAVAçÃO
O pedido de ajuda foi aceito e o empresário quis saber, então, quem seria o responsável por pegar as malas.
Sobre isso, Aécio falou:
DINHEIRO
Aécio indicou um primo, Frederico Pacheco de Medeiros, que recebeu o dinheiro em um encontro com Saud.
Aécio Neves
(Senador e
presidente
do PSDB)
Frederico Pacheco
(primo de Aécio)
O que pesa contra
Aécio Neves
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