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Reportagem da TV Globo sobre filha de Roger, deficiente visual, comove e ensina

Matéria traz uma maneira mais humana de ver o futebol
Roger, sua filha, Giulia, e o narrador Luis Roberto Foto: Felippe Costa/Globoesporte.com
Roger, sua filha, Giulia, e o narrador Luis Roberto Foto: Felippe Costa/Globoesporte.com

“Nunca mais eu vou xingar o Roger". "Não tenho mais coragem de cornetá-lo". As reações apareceram, com alguma frequência, ontem nas redes sociais de torcedores do Botafogo, minutos depois da exibição pelo Globo Esporte de reportagem sobre o atacante alvinegro e sua filha, Giulia, de 11 anos. Justifica-se. Foram poucos os torcedores que conseguiram segurar as lágrimas, e os que conseguiram, talvez tenha sido puro disfarce.

A reportagem de Felippe Costa e Marco Antônio Araújo mostrou a história do Roger pai, que conviveu, há mais de uma década com o nascimento da filha deficiente visual. Giulia não enxerga nada, mas o amor do camisa nove pela filha foi possível de ser visto nos primeiros segundos da matéria. Giulia escutou Luís Roberto, da TV Globo, narrar o bonito gol de seu pai contra o Sport, pela Copa do Brasil, e logo é surpreendida pela presença do narrador no sofá de sua casa. Em seguida, ele a presenteia com um quadro em 3D, que mostra três momentos do gol do pai. O drible, a finalização, e a comemoração.

A cena da menina tateando o quadro e entendendo, com a ajuda do pai artilheiro, o gol que ele tinha marcado, é das mais bonitas, competindo com a linda e natural reação de Giulia depois disso, talvez despida de toda timidez usual de personagens de reportagens televisivas justamente por não enxergar as câmeras. A menina descreve o gol, e, quando a mãe chega, não se segura na empolgação em meio aos abraços.

— Eu acho que é o dia mais feliz da minha vida. Eu consegui saber como é um gol do papai. Você não tem noção de como é isso para mim — diz uma emocionada Giulia, emocionando torcidas em todos os cantos do país, inclusive o narrador Luís Roberto, presente na cena.

— A surpresa foi muito maior do que eu imaginei. O amor naquela casa é muito grande, é algo bonito demais. E nãoo é só porque a Giulia tem um problema. Talvez o problema tenha só os unido ainda mais — disse o narrador.

A fala de Luís Roberto, somada à reportagem e à reação da torcida alvinegra (que criou até campanha para Giulia assistir ao próximo jogo no Engenhão) chamam atenção para algo óbvio, mas que por vezes é completamente esquecido em meio ao fanatismo e à rivalidade do futebol moderno: Roger, como todo jogador, é humano. Carrega, além da bola, suas cruzes, sua história.

Uma partida de futebol, ainda que por vezes seja travestida de guerra, nada mais é que um jogo entre 22 histórias de vida em campo, cada qual com suas peculiaridades. Geralmente se torce a favor de onze delas, e contra a outra metade. A consciência que uma história feito a da Giulia desperta é, talvez, a de que não se pode nutrir tanto ódio pelo adversário, ou pelo jogador do seu próprio time por um par de lances infelizes. Roger, apesar dos últimos quatro gols em quatro jogos, é um jogador muitas vezes perseguido pela torcida do seu próprio time. Por certo os próximos jogos serão diferentes, até para o narrador.

—O certo é conseguir dissociar, mas não é fácil você dissociar essa situação, né? Ter alguém que está valorizando ainda mais e imaginando o gol do pai pela sua voz — confessa Luís Roberto.

Exemplo claro é quando Giulia toca na imagem que mostra seu pai comemorando o gol com os outros jogadores do Botafogo. Roger guia a filha, contando:

— Esse aqui é o Tio João. E esse aqui o Tio Pimpão — diz, se referindo ao meia João Paulo e ao atacante Rodrigo Pimpão, que nada mais são para Roger do que colegas de trabalho, feito todos têm, aqueles que viram os “tios” para as filhas em encontros fora do ambiente de trabalho. Talvez exista, na simplicidade de Giulia e de Roger, uma maneira mais humana de ser ver futebol.