Cinema

Por Neusa Barbosa, do Cineweb*, Reuters


Omar Sy e Gloria Colston em cena de 'Uma família de dois' — Foto: Divulgação

Refilmagem da comédia mexicana “Não se aceitam devoluções” (2013), “Uma família de dois” gira em torno do indiscutível carisma cômico do ator francês Omar Sy, que garante a atração de uma comédia familiar que tem seu ponto forte numa relação familiar carinhosa entre um pai solteiro e sua filha.

Quem viu o filme mexicano já sabe a história, que segue o mesmo passo, inclusive nos detalhes, mudando apenas os locais: o México e EUA do original viram França e Inglaterra nesta nova versão.

Samuel (Omar Sy, de “Intocáveis”) é um bon vivant, empregado de uma empresa turística no litoral de Marselha, onde ele anima festas e dirige um barco que leva turistas a passeios. Seu coração não é de ninguém e ele costuma acordar a cada dia com uma nova mulher, ou até mais, que partem em seguida para nunca mais voltar. A exceção é a inglesa Kristin (Clémence Poésy, de “Harry Potter e as relíquias da morte”).

Um dia, Kristin aparece com um bebê e diz a Samuel que é sua filha, concebida na aventura do verão do ano anterior. Pede dinheiro para o táxi e vai embora, para choque do novíssimo pai. Ele segue Kristin até Londres, achando que vai resolver o assunto rapidamente.

Oito anos depois, ele ainda mora lá, criando a filha sozinho - Kristin desapareceu - com seu novo trabalho como dublê de uma série policial de TV.

Embora o roteiro seja uma coleção de clichês sentimentais óbvios, é inegável que Omar Sy dá conta muito bem de ocupar a cena com sequências histriônicas, como quando anima uma balada em Marselha, quase perde a filha bebê no primeiro passeio no metrô londrino ou em suas diversas interações com os ingleses, já que não consegue dominar o idioma local.

As cenas entre este pai nada convencional e a filha esperta são o que de melhor há no filme.

Mas, inevitavelmente, a realidade fará algumas incursões neste mundo dourado que Samuel criou para a filha, Gloria. A primeira, uma consulta de ambos ao médico, em que fica claro que na família há uma doença. A segunda, o previsível reaparecimento da mãe fujona, que Samuel dizia à filha que era uma agente secreta, escrevendo mensagens à filha supostamente de vários lugares do mundo (na verdade, mandadas por ele).

Mesmo contaminado por uma simplificação muitas vezes imposta a personagens homossexuais, a figura do melhor amigo de Samuel, Bernie (Antoine Bertrand), é outro sopro de ar fresco na história, com seus eternos flertes e uma disposição irresistível para apoiar pai e filha.

Em seu segundo filme como diretor, o francês Hugo Gélin mostra boa mão para não deixar cair o ritmo, mesmo que o material que tem à disposição não seja original. O resto, Omar Sy resolve – pelo menos, se a intenção de quem for ao cinema for simplesmente se divertir sem maiores compromissos.

Tanto quanto no filme original, o roteiro não cria muitas nuances na personagem da mãe – que fica com o papel de malvada, uma outra simplificação um tanto forçada, que não deixa muitas opções à atriz Clémence Poésy.

*As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!
Mais do G1