• Barbara Bigarelli
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Ternos pendurados em armário (Foto: Pexels)

Bancos estão flexibilizando o dress code e abandonando obrigatoriedade de social (Foto: Pexels)

Quando a executiva Andrea Pinotti começou a trabalhar no Itaú Unibanco nos anos 90, não havia escolha. Era preciso seguir a vestimenta social: gravata e terno para os homens, terno e salto alto para as mulheres. O vestuário era sinal de credibilidade e formalidade, principalmente diante dos olhos de um cliente. Cerca de 20 anos depois, Pinotti sente-se à vontade para trabalhar de tênis e calça jeans. A diretora de recursos humanos é uma das funcionárias que aderiu à nova política de dress code do banco.

No primeiro semestre deste ano, o Itaú Unibanco flexibilizou a vestimenta para seus 86 mil funcionários, inclusive para quem trabalha direto nas agências. “Era muito comum a gente escutar de um novo funcionário que ele precisaria comprar gravata ou usar o terno do casamento. Não é legal a pessoa vir com uma armadura só porque trabalha em banco. As pessoas precisam se sentir confortáveis para virem como são”, afirma.

A adesão, segundo a executiva, tem sido ampla e é comum ver diretores usando jeans, tênis ou sapatilha na sede do banco, na zona sul de São Paulo. A flexibilização, porém, não é obrigatória e irrestrita. Nas agências, que lidam diretamente com o cliente, os funcionários foram dispensados da obrigatoriedade de gravatas e as mulheres, do salto alto. No entanto, precisam ainda manter trajes formais.

Há também executivos, principalmente do alto escalão, que não abriram mão do terno e da gravata. É assim, por uma questão cultural, diz Andrea, que eles se sentem confortáveis em vir trabalhar. “Eles acham mais simples vir assim e está tudo certo. O importante para nós, agora, é dar a possibilidade de as pessoas escolherem.”

O Itaú Unibanco não é o único banco brasileiro a seguir este caminho. No dia 16 de agosto, o Banco do Brasil enviou a seus 100 mil funcionários uma versão atualizada de seu guia de vestuário. O banco afirma que o terno e a gravata deixam de ser obrigação e que é possível adotar um estilo mais informal de roupas. “Não é preciso esconder tatuagens ou cicatrizes, alisar ou pintar o cabelo, vestir terno, gravata ou tailleur em todas as ocasiões. A maioria das pessoas já percebeu que o seu trabalho não pode ser isolado do seu jeito de ser”, diz o banco na cartilha. A flexibilização foi motivada, segundo o BB, diante da “disruptura causada no setor pelas startups, com ênfase em serviços e boas experiências para os consumidores”.

“Historicamente, os bancos construíram um modelo de vestir como forma de transmitir credibilidade. Mas a indústria está passando por uma revolução. Muitos clientes nem frequentam mais agências. Num mundo em transformação, em que as empresas estão se adaptando a novos perfis de consumidores, a roupa que a gente veste também entrou no centro do debate”, diz o guia.

Imagem do guia de vestuário lançado pelo Banco do Brasil neste mês de agosto (Foto: Divulgação)

Imagem do guia de vestuário lançado pelo Banco do
Brasil neste mês de agosto (Foto: Divulgação)

O BB só pede que seus funcionários tenham equilíbrio e bom senso. “O guia está ancorado na confiança de que cada um sabe representar a empresa de acordo com a ocasião.” Entre as proibições expressas na cartilha, estão o uso de camisetas de futebol ou com mensagens políticas e religiosas. "Trabalhando de forma mais confortável, podemos exercer nossa flexibilidade e criatividade. Isso contribui para atração, retenção e engajamento das pessoas", diz João Rabelo, vice-presidente de gestão de pessoas, suprimento e operações do BB.

A Caixa Econômica Federal afirma que não possui cartilha que estabeleça padrões de vestimentas, mas que “há alguns anos, não exige rigidez no modo de se vestir”. “É uma forma de valorizarmos as diferenças individuais e regionais”, diz o banco por meio de nota. Já o Bradesco afirma que incentiva seus funcionários a trabalharem em um estilo menos formal às sextas-feiras, quando o uso da gravata é dispensado. Procurado, o Santander não citou nenhuma ação que vise a flexibilização de dress code de seus funcionários.

Humanização do ambiente de trabalho
A política de dress code integra ações do Itaú Unibanco para “atrair e reter novas gerações”. “As novas gerações têm a possibilidade de escolher se querem uma carreira em uma empresa mais formal, se querem empreender ou ir para uma startup. E essa reflexão, sem dúvida, perpassa o ambiente de trabalho: o quão flexível, acolhedor e confortável ele é”, diz. De olho nisso, há dois anos, o banco iniciou reformas na sede que incluem instalações à la startup: mesões de trabalho, eliminação de parte das salas individuais, salas de descompressão e, claro, puffs coloridos. 

Algumas áreas também perderam as estações fixas de trabalho e tiveram o layout integrado às outras para estimular a maior colaboração de funcionários. O home office também foi expandido para 2,5 mil pessoas, que ganham a possibilidade de trabalhar de casa uma vez por semana ou duas por mês, dependendo da área. 

Entre os outros bancos procurados por Época NEGÓCIOS, apenas o Banco do Brasil afirmou possuir política de home office. O benefício está em fase de experimentação e abrange 150 funcionários. Sua concessão depende da área e do perfil dos funcionários, que são avaliados previamente pelo banco — há quem seja aprovado para trabalhar de casa até duas vezes por semana e quem só precisará trabalhar presencialmente uma vez a cada 15 dias. O BB afirmou que fornece orientação e equipamentos para realização do trabalho remoto.