Rio

Rio terá reforço de militares para ações de apoio a partir de agosto

Contingente, no entanto, é para uso em longo prazo, e não fará policiamento ostensivo
Militares nas ruas do Rio de Janeiro, durante as eleições de 2016 Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Militares nas ruas do Rio de Janeiro, durante as eleições de 2016 Foto: Leo Martins / Agência O Globo

BRASÍLIA E RIO - Com as críticas ao governo depois da reunião em que o presidente Michel Temer mobilizou seis ministros, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o governador Luiz Fernando Pezão, mas não resultou em medidas concretas, o Planalto agora acena com a possibilidade de liberar militares das Forças Armadas para operações pontuais no Rio em apoio às forças de segurança do estado. Para tentar contornar a repercussão negativa do dia anterior, de muita negociação e pouca efetividade, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, anunciou que tropas federais vão para as ruas e também para dentro de favelas, mas sem revelar detalhes e datas. O plano, tratado agora como sigiloso, sequer foi mencionado na reunião na manhã de quinta-feira, no Palácio do Planalto. O ministro da Defesa continuou sem dar algumas informações, como, por exemplo, o contingente que será mobilizado.

Durante o dia, fontes do Planalto chegaram a informar que seriam enviados 40 mil militares para o Rio, o que foi negado mais tarde por Jungmann. Depois da reunião com Temer anteontem, Pezão divulgou, como se fosse novidade, a ajuda de 800 homens de tropas federais, sem saber que quase todo o efetivo, que se tratava de uma promessa antiga, já estava no estado. Na saída do encontro, ao ser questionado sobre o fato de os policiais já estarem no Rio, muitos desde maio, Pezão teve que admitir que “não sabia”. Depois, a assessoria do governo estadual minimizou o equívoco, afirmando que ele não era especialista no assunto.

A ação agora prometida por Jungmann faz parte do Plano Nacional de Segurança, cujo foco principal, segundo o governo federal, será o Rio. Ele explica que não haverá ocupações permanentes e longas, como houve no Complexo da Maré. As operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLOs) — realizadas por ordem expressa da Presidência da República e que concedem aos militares a autorização para atuar com poder de polícia — serão estabelecidas para cada ação apoiada por homens do Exército, da Marinha e Aeronáutica. Um núcleo de inteligência vai definir quando os militares serão empregados e quantos homens serão necessários. O planejamento prevê tropas eventualmente patrulhando estradas, aeroportos e instalações sensíveis para evitar fuga.

— Queremos golpear o crime. Interromper sua cadeia de comando e buscar as armas dos criminosos. Vamos avançar nessa direção de desarmar o Rio. Precisamos interromper o fluxo das drogas e chegar ao comando do crime. Vamos procurar não só baixar a temperatura, como chegar à inflamação que no caso do Rio é muito grande, uma septicemia — disse o ministro.

SEM OS ERROS COMETIDOS NA MARÉ

A septicemia, mencionada pelo ministro, pode ser traduzida em números. O estado vive uma escalada de violência que tem se aprofundado nos últimos meses por causa da crise financeira do governo estadual. Os homicídios, que tiveram uma queda acentuada após a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), voltaram a assumir uma curva ascendente: em maio, a média foi de 14 assassinatos por dia, totalizando 424 crimes. De janeiro a maio, foram 120 latrocínios. No mesmo período, houve 22.985 roubos de veículos, e os autos de resistência atingiram 480 — cerca de três por dia. Os índices de criminalidade cresceram e se disseminaram por diferentes áreas do estado. Os casos de bala perdida, mais de três por dia, se tornaram uma triste rotina, que muitas vezes leva à morte. Este ano, 90 policiais já foram executados.

Jungmann disse ao GLOBO que não quer um modelo como o usado na Maré, onde houve ocupação permanente, em 2014 e 2015. Entre outros motivos, a medida foi descartada porque envolve alto custo financeiro.

— Na Maré, por exemplo, gastou-se R$ 400 milhões, e, quando você saiu, o que ficou? Não entrou escola, não entrou o Estado... Não faz sentido — criticou Jungmann.

No Planalto, o discurso é que o governo do Rio deve “fazer a sua parte” no plano, gestado para ser de longo prazo e combater problemas estruturais. Outra tendência é que as operações sejam feitas de surpresa. Ontem, o secretário de segurança do Rio, Roberto Sá, se reuniu com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Sérgio Etchegoyen, em Brasília, para acompanhar o planejamento das medidas.