Por Cristina Boeckel e Arthur Guimarães, G1 Rio e TV Globo


Rodrigo Bethlem nega as acusações — Foto: Reprodução / Globo

A justificativa apontada no despacho do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal e o pedido do Ministério Público Federal para a busca e apreensão na casa e no escritório de Rodrigo Bethlem, que ocupou secretarias nas gestões de Sérgio Cabral, no governo do Estado do RJ, e de Eduardo Paes, na prefeitura da cidade, aconteceu porque as investigações sobre fraudes e pagamento de propina no sistema de ônibus mostraram que o ex-secretário teria influência no cenário político estadual e municipal e atuaria como um "intermediário" no esquema de fraudes e propinas relacionado às empresas de ônibus.

De acordo com as investigações, foram apontadas trocas de e-mails entre Rodrigo Bethlem e Jacob Barata filho com teor relativo a “assuntos políticos” no ano de 2016. Neste período, Rodrigo trabalhava assessorando o atual prefeito Marcelo Crivella na campanha que o levou à Prefeitura do Rio.

Troca de e-mail sobre encontro entre Bethlem e Lélis Teixeira. — Foto: Reprodução

No mesmo período, Bethlem manteria conversas por celular com Lélis Marcos Teixeira, então presidente da Fetranspor, que também foram consideradas suspeitas. No dia 28 de dezembro do ano passado, Rodrigo enviou um recado para Lélis: “meu amigo garantiu que se o atual fizer ele mantém...tranquiliza a turma”.

Porém, dia 2 de janeiro, Rodrigo enviou outra mensagem, em contraponto com a primeira: “este vice vai dar muito trabalho...ele que criou caso...os 2 tinham se acertado”.

Troca de mensagens entre Lélis Teixeira, então presidente da Fetranspor, e Rodrigo Bethlem, onde eles acertariam continuidade de esquema de propina. — Foto: Reprodução

Mensagem na qual RodrigoBethlem afirma que o vice-prefeito, Fernandao MacDowell, ia dar trabalho ao esquema. — Foto: Reprodução

Os investigadores acreditam que o termo vice era uma referência a Fernando MacDowell, vice-prefeito do Rio e Secretário Municipal de Transportes. No mesmo dia em que aconteceu a conversa, ele afirmou que um reajuste das tarifas de ônibus não estava previsto. Crivella iniciou a sua gestão com uma série de decretos, que incluíam a área de transportes.

Entre as medidas definidas por Crivella estavam a suspensão do processo de racionalização das linhas de ônibus, o cancelamento do pedágio da Linha Amarela para motociclistas e a inclusão do metrô no Bilhete Único Carioca até o fim de 2018.

“Não. Ainda não vai haver, não. É porque acontece o seguinte: se você der o aumento, eles vão reclamar que caiu mais ainda a quantidade de pessoas transportadas, que vai precisar de outro aumento. Não é assim que as coisas têm que ser colocadas. A gente tem que realmente trabalhar e proteger a população”, disse o vice-prefeito na época.

O MPF não encontrou sinais de envolvimento direto do ex-prefeito Eduardo Paes e do atual prefeito no esquema criminoso.

Bethlem também teve identificadas ligações telefônicas com outros integrantes do esquema de fraudes e propina nos transportes do Rio, como Hudson Braga, o ex-governador Sérgio Cabral e Wilson Carlos. Segundo o pedido do Ministério Público Federal, todos fariam parte de um esquema que funcionava com todos juntos, como uma organização criminosa.

Segundo a decisão do juiz federal Marcelo Bretas, que autorizou a busca na residência e no escritório de Rodrigo Bethlem na manhã desta terça-feira (15), há fortes indicativos que o esquema criminoso apontado no sistema de transporte estadual foi replicado também no sistema de transporte municipal.

Ainda segundo o despacho do magistrado, Rodrigo Bethlem atuaria, em tese, como intermediário dos empresários do ramo de transportes, para garantir que o esquema de corrupção continuaria.

Além das buscas em dois endereços de Rodrigo Bethlem, o juiz Marcelo Bretas determinou a quebra dos sigilos bancários e fiscal dele e de todas as empresas a ele vinculadas, conforme requerimento feito pelo Ministério Público Federal. Ele também deferiu a quebra do sigilo telefônico de Bethlem e a apreensão dos passaportes.

Em nota, a Prefeitura do Rio destacou que repudia as acusações de que um esquema de fraudes nos transportes públicos teria continuidade na atual gestão.

"A Prefeitura do Rio repudia com veemência as insinuações descabidas de qualquer possibilidade de escândalos no setor de transporte do governo anterior ter continuado na atual gestão. No mês passado, a Prefeitura conseguiu impedir novamente o aumento da tarifa de ônibus urbanos do município, contrariando a reivindicação dos empresários e até decisão de primeira instância da justiça. A gestão municipal, sempre à disposição das autoridades, é pautada pela transparência e respeito às leis", diz a nota.

O G1 procurou a assessoria do ex-prefeito Eduardo Paes mas, até o fechamento desta reportagem, não tínhamos recebido retorno.

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