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Política

No Rio, redução de homicídios é associada a investimentos

Legado da interveção federal, arrefecimento da guerra entre facções e expansão das milícias são apontados como fatores para queda de mortes violentas
Frota entregue ao Batalhão de Choque: aparelhamento é apontado como fator para redução de crimes Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Frota entregue ao Batalhão de Choque: aparelhamento é apontado como fator para redução de crimes Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

RIO — O atual cenário de queda dos homicídios no Rio pode ser explicado por fatores como o legado da intervenção federal , aliado a pontos da atual política de Segurança Pública imposta pelo governo do estado, apontam especialistas e autoridades. Além disso, causas externas a ações do governo, como arrefecimento da guerra entre facções criminosas e a expansão do domínio das milícias em algumas áreas da capital, também podem estar por trás dos números.

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Os dados mais recentes dos índices de violência divulgados pelo governo do Rio revelam que os homicídios no estado tiveram uma queda de 23% nos seis primeiros meses de 2019 em relação a 2018, mantendo uma tendência de redução nesse tipo de crime. Como publicado ontem pelo GLOBO, o Rio foi o sexto estado do país com maior diminuição percentual no número de mortes (26,3%) este ano, segundo dados do Ministério da Justiça.

A intervenção federal na Segurança Pública do Rio, que se estendeu por 11 meses de 2018 (de fevereiro a dezembro), é apontada como um importante fator no panorama atual de diminuição da violência, principalmente em razão do investimento de R$ 1,2 bilhão feito no período. Grande parte do material adquirido, como carros, pistolas, munição e coletes à prova de balas, ainda estão sendo entregues, contribuindo para um maior e melhor aparelhamento das polícias Civil e Militar.

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No início do governo Witzel foi criado o Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), em substituição à antiga Divisão de Homicídios. Para o delegado Antônio Ricardo Lima Nunes, diretor do departamento, as melhorias trazidas pela intervenção causam impactos, principalmente, ao aumentar o poder das delegacias de investigar, à medida em que proporcionam mais recursos. Ele frisa, ainda, que a política do governador Wilson Witzel, com foco no fortalecimento das polícias, tem sido fundamental.

— A atuação da Delegacia de Homicídios da Baixada, recentemente, deixou o município de Queimados durante 20 dias sem qualquer homicídio. As investigações e prisões têm um efeito pedagógico junto aos criminosos, que acabam ficando intimidados. Quanto mais recursos temos, maior nossa capacidade de trabalhar e impedir os crimes — ressalta Nunes.

Uma realidade bem peculiar do Rio — o avanço das milícias no estado — é apontado por algumas fontes como um fator que pode estar contribuindo para o cenário. De acordo com o coronel da PM e antropólogo Robson Rodrigues, a tendência é de que conforme os grupos paramilitares vão se consolidando, os homicídios diminuam por uma questão de estilo na disputa territorial.

— As facções do tráfico travam mais guerras entre si. Com a milícia, a lógica é outra. A disputa não é tão frequente.

O coronel ressalta, no entanto, que não é possível estabelecer um padrão e existem milícias que não seguem essa lógica. Além disso, há números que podem ser mascarados pela utilização de cemitérios clandestinos para enterrar as vítimas de grupos militares.

Paralelamente, as disputas entre as três facções rivais do estado também têm diminuído, principalmente em razão do enfraquecimento de uma delas, que praticamente chegou ao fim este ano.

— Essas quadrilhas estão mais preocupadas em manter o território do que entrar em guerra por novos — opina o delegado Antônio Ricardo.