Exclusivo para Assinantes
Economia Home

Brasil restringe o uso de sacolas e canudinhos, mas produção de plástico cresce 4%

Cerca de 8 milhões de toneladas do material ainda são jogadas nos oceanos todos os anos

Poluição. Lixo na Baía de Guanabara: oito milhões de toneladas de plástico são jogadas no oceano por ano, segundo o Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente
Foto: Márcia Foletto / Márcia Foletto/21-2/2017
Poluição. Lixo na Baía de Guanabara: oito milhões de toneladas de plástico são jogadas no oceano por ano, segundo o Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente Foto: Márcia Foletto / Márcia Foletto/21-2/2017

SÃO PAULO - No mesmo caminho de países desenvolvidos, o Brasil aderiu recentemente a iniciativas globais para reduzir o consumo de plástico. O movimento começou pela proibição de distribuir gratuitamente sacolinhas em supermercados de São Paulo e teve novo impulso com o banimento do uso de canudinhos em bares e restaurantes do Rio, após a comoção internacional causada pela imagem de uma tartaruga com uma haste espetada numa narina.

Dados da Associação Brasileira das Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief), no entanto, mostram que isso não necessariamente está reduzindo a quantidade produzida. A fabricação de plásticos flexíveis cresceu 4% no país de 2016 para 2017, num mercado que movimenta cerca de R$ 20 bilhões por ano.

VEJA MAIS : No dia do meio ambiente, saiba o que fazer para combater o aquecimento global

Respeito ao Meio Ambiente

Nada menos que oito milhões de toneladas de plástico são jogadas nos oceanos todos os anos, segundo informações do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. A ponto de a organização estimar que, até 2050, haverá nos mares mais toneladas de plástico do que de peixes. Isso se nada for feito.

A gravidade da situação ocorre sobretudo por causa do descarte irregular dos resíduos, afirma Alexander Turra, professor da Universidade de São Paulo (USP). Na visão dele, proibir sacolas ou canudinhos não é a solução, mas chama atenção para o assunto.

— A solução começa com a melhor gestão dos resíduos sólidos — defende. — Essa é a forma de fechar a torneira.

Uma das saídas para reduzir a quantidade de plástico no mundo é transformar o polipropileno, o plástico comum, em biodegradável. No Brasil, apenas 2% das embalagens são do tipo “amigo do meio ambiente”, segundo Eduardo Van Roost, diretor-superintendente da Res Brasil, que fabrica e importa polímeros de baixo impacto ambiental. Nas contas do executivo, trocar o plástico comum pelo biodegradável encarece em, no máximo, 6% o valor da embalagem. Na visão dele, medidas como a proibição de sacolas e canudos servem apenas de vitrine política.

Região que concentra detritos no oceano, conhecida como "ilha de plástico", tem três vezes o tamanho da França Foto: .
Região que concentra detritos no oceano, conhecida como "ilha de plástico", tem três vezes o tamanho da França Foto: .

— É preciso que haja uma conscientização, e as grandes corporações não estão nem aí para isso, apenas culpam o consumidor — critica. — Se você comprar um coco no quiosque de Ipanema e não tiver um canudo, como você vai tomar a água? No copo plástico. É efetiva a proibição?

Troca de matéria-prima

Este mês, a maior rede de cafeterias do mundo, a Starbucks, anunciou que até 2020 vai substituir canudinhos de plástico por outros de material biodegradável. A decisão pode tirar mais de 1 bilhão de canudos por ano de circulação.

Apesar da marcha lenta no Brasil, algumas fabricantes de embalagens já substituíram parte do polipropileno por papel em suas produções. É o caso da Nobelpack. Fundada em 1963 como Nobelplast, fabricava embalagens de plástico; hoje, 60% da produção são de embalagens de papel.

— Buscamos oferecer novos produtos, tanto em plástico quanto em papel — diz o diretor da empresa, Baydir Gois. — Acreditamos que o plástico pode ser um grande aliado, pela sua durabilidade no uso e reuso e por sua capacidade energética na reciclagem.

LEIA TAMBÉM : Meio ambiente, mundo digital e desigualdade: o que o PIB não mede

Há também quem veja no plástico já descartado a matéria-prima de um produto diferente. A Insecta transforma garrafas PET em sapatos. Quem olha o produto final, que custa entre R$ 269 e R$ 349, não diz que a couraça é feita de polipropileno. A fábrica fica no polo calçadista de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, área de domínio do couro. A fundadora da marca, Bárbara Mattivy, de 33 anos, conta que, em quatro anos, 19 mil pares de sapatos foram vendidos, e mais de dez mil garrafas PET foram utilizadas.

— O plástico é muito prejudicial ao meio ambiente e demora quase 500 anos para se decompor. Foi por essa durabilidade e pelo potencial de ser reutilizável que decidimos usá-lo como matéria-prima — afirma Bárbara.