Política

Inspirada em Betinho, Cármen Lúcia propõe 'Ação da Cidadania contra a Corrupção'

Mnistra do STF diz que malfeitos são elementos de "destruição institucional"
A ministra Cármen Lúcia Foto: Fellipe Sampaio/STF/12-09-2016
A ministra Cármen Lúcia Foto: Fellipe Sampaio/STF/12-09-2016

SÃO PAULO - A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, propôs nesta terça-feira que a sociedade se inspire na iniciativa de mobilização contra a fome proposta nos anos 90 pelo militante Hebert de Souza, o Betinho, e promova uma “Ação da Cidadania contra a Corrupção”. Para ela, seria uma forma de transformar “ideias e indignação” em ações e resposta à crise institucional decorrente dos escândalos recentes envolvendo a classe política no país.

— Ele dizia que começava o dia rezando “Pai nosso, que estás no céu”, porque ele acredita na divindade. Depois de andar pelo Brasil, começou o seu dia com "o pão nosso de cada dia”. Porque é o pão que fazemos juntos e que distribuímos e comemos juntos. Ele dizia "tenho fome de humanidade”. Acho que nós hoje temos a fome de Justiça, de liberdade, mas principalmente, da nossa segurança de sabermos de que poderemos ter um Brasil muito melhor — afirmou Cármen Lúcia, durante evento de debates sobre a Justiça Brasileira promovido pela “rádio Jovem Pan”, em São Paulo.

Tratando a corrupção como algo que “corrói as instituições, deteriora a política e descontrola a economia", além de fator de “destruição institucional”, a ministra do STF defendeu a ética como uma imposição, e não uma escolha da sociedade, de modo que a “honestidade seria um dever de todos nós”.

Ela citou o comportamento de quem busca "tirar vantagem em tudo” - seja ao furar uma fila ou pagar propina a agente público - como expressão da “negativa da solidariedade com o outro”. Dessa forma, o "outro" estaria "sem qualquer possibilidade de atuação livre, honesta e de acordo com seu direito”.

— É preciso plantar e colher um Brasil ético e solidário. Estamos todos no mesmo barco. Se der certo, chegaremos a um bom porto, se der errado, afundaremos todos nós — afirmou.

A ministra defendeu a ideia da política como “forma de convier pelos nossos consensos, e não forma de nos destruir por nossos dissensos”. E afirmou não acreditar que demonize a prática.

— Não acho que a gente possa viver fora da política. Se no espaço da política há corrupção, temos que fazer é mudar a forma de fazer política e a forma de combate à corrupção — disse.

MUDANÇA

Para Carmen Lúcia, três ideias recorrentes no discurso de corruptos e corruptores deveriam ser banidas: as percepções de que tudo “sempre foi desse jeito”, “eu sigo o que outros faziam” e “esse negócio de mudar contraria muitos interesses".

— O "sempre foi assim" valeria se as coisas continuassem iguais - afirmou sobre a primeira ideia.  - Se as coisas mudam, eu preciso mudar para que o tempo não viva sem mim. Foi sempre assim? Mesmo na política, no espaço público? Se foi, sempre foi errado, porque a corrupção nunca foi certa — concluiu.

Sobre a segunda ideia, comentou:

— Eu não sou os outros. Cada ser humano é um, cada ser humano sabe o que faz.

Disse não haver outro caminho que não o de contrariar interesses, quando o objetivo é promover mudanças em um sistema que favorece a manutenção de privilégios.

— Precisamos acabar com privilégios e transformar isso aqui numa República verdadeira. E não apenas de papel, mas uma República na vida de cada um de nós — afirmou.

Para a ministra, “todo cidadão tem o direto de dormir sossegado sem qualquer temor de que alguém no espaço público o está traindo”.

— A corrupção é isso. Um ato de traição no espaço público — concluiu.