Rio

Rio teve 44 crianças mortas a tiros nos últimos 11 anos

Emilly e Jeremias foram as primeiras vítimas de 2018
Jeremias. Aos 13 anos, baleado enquanto jogava bola
Foto: Reprodução
Jeremias. Aos 13 anos, baleado enquanto jogava bola Foto: Reprodução

RIO - Cerca de 21 quilômetros separam os locais onde Emilly Sofia Neves Marriel, de 3 anos, e Jeremias Moraes, de 13, foram baleados e mortos nesta terça-feira. Enquanto a menina foi atingida na Rua Cardoso de Castro, em Anchieta, o adolescente foi ferido quando ia jogar futebol num campinho, na favela Nova Holanda, no Complexo da Maré. Os dois casos que chocaram o Rio aconteceram na Zona Norte, mas o luto de pais e amigos de quem teria a vida toda pela frente tem sido frequente em diferentes regiões do estado. De 2007 até esta terça, segundo levantamento da ONG Rio da Paz, balas perdidas mataram 44 crianças e adolescentes na Região Metropolitana do Rio. Emilly e Jeremias foram as primeiras vítimas de 2018.

Em 2016, dez crianças e adolescentes morreram baleadas. No ano passado, foram outros dez casos. Entre as vítimas de 2017, está a estudante Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos. Aluna do 7º ano, ela foi ferida dentro do Colégio Daniel Piza, em Acari, também na Zona Norte. A menina, que sonhava ser jogadora de basquete, tinha acabado de sair da aula de educação física quando foi alvejada. Havia um confronto entre policiais militares e traficantes, em frente à escola, que fica perto do Complexo da Pedreira, em Costa Barros. A Delegacia de Homicídios constatou, com a ajuda da perícia, que os tiros saíram da arma de um PM.

No mesmo ano, também depois de um tiroteio entre criminosos e policiais, na localidade conhecida como Boca do Mato, no Lins de Vasconcelos, a vítima foi a menina Vanessa Vitória dos Santos, de 11 anos. Ela estava dentro de casa quando foi atingida por uma bala perdida. Vanessa chegou a ser socorrida, mas morreu no Hospital municipal Salgado Filho, no Méier. A equipe da unidade ficou consternada.

— Morte de criança mexe com a gente. Também temos filhos. Fizemos de tudo, tudo mesmo. Mais triste ainda é ver a dor da família — lembrou uma das enfermeiras que a atendeu.

CASO ARTHUR EMOCIONOU CARIOCAS

Outra história que mexeu com os sentimentos do carioca foi a do bebê Artur, que, ainda na barriga da mãe, foi atingido por uma bala perdida, na favela do Lixão, em Duque de Caxias. Depois de lutar pela vida por um mês, o recém-nascido não resistiu e morreu no dia 30 de julho do ano passado. A mãe, Claudineia dos Santos, não superou a dor da perda do bebê. Ela ainda mantém no celular a única foto dele, já sem vida.

— É uma dor que não sai de você. Nunca vou esquecê-lo — diz, frustrada por não ter segurado o filho no colo.

Fundador e diretor-executivo da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa disse que o estado vive uma “patologia social” ao tratar com indiferença a morte de tantas crianças. Segundo ele, falta mobilização da sociedade:

— Em qualquer lugar do mundo, a morte de duas crianças no mesmo dia de forma tão brutal causaria uma comoção, as pessoas iriam para as ruas.

Costa criticou ainda os governantes que ficam inertes diante da violência que assola o Rio. Na opinião dele, falta vontade política para resolver o problema.