O instinto de Dudu, que partiu para cima do pit bull Roque, fez com que a história tivesse um final feliz. Ainda se recuperando dos ferimentos na perna, Machado reencontrou o cão-herói e o G1 acompanhou o momento.

“O Dudu é o meu maior amigo. O Dudu eu não esqueço nunca mais”, diz Machado, emocionado.

Machado foi atacado pelo pit bull na tarde de 24 de junho, enquanto voltava de um supermercado para casa. Ele estava na Rua Crispim Tavares, no bairro Orestes Lopes de Camargo, a 200 metros de onde mora.

“No momento em que eu estava passando na rua, a mulher foi abrindo o portão da casa. O pit bull escapou e acabou me mordendo. Eu pedi socorro do vizinho. Aí ele soltou o Dudu, que conseguiu me salvar. Se o Dudu não me salva, acho que ele [pit bull] tinha me matado”, conta o homem.

No dia do ataque, o dono do pit bull, Reginaldo Alves de Jesus, disse que tirava o carro da garagem e não percebeu que o animal havia escapado da coleira.

“Ele arrebentou a corrente de uma vez e eu nem vi porque eu estava dentro do carro. Minha esposa só falou ‘o Roque arrebentou’. Ele deu impulso e estourou a corrente”, contou.

O ataque violento fez Machado acreditar que não teria chances de lutar contra o animal. Os moradores que assistiram tudo e pouco puderam fazer, com medo de também virarem vítimas do cachorro, ficaram revoltados.

No início da semana, Machado voltou ao local do ataque e foi recebido pelo pedreiro Hélio Barbosa de Oliveira, de 47 anos, dono do Dudu e um dos responsáveis pelo salvamento. Oliveira diz que ouviu os gritos de socorro vindos da rua e abriu o portão. Toda a ação foi na porta da casa dele.

“Eu abri o portão e nisso o cachorro já estava grudado na perna dele. Aí meu cachorro [Dudu], pulou por cima de mim e foi pra cima do outro cachorro. Os dois rolaram na rua e ficaram atracados. Nisso, o pit bull soltou a perna do senhor”, lembra.

Oliveira conta que a briga entre os cães durou cerca de 10 minutos e teve medo de perder Dudu porque a força do pit bull é superior à do vira-lata. “O pit bull ficou grudado na garganta [do meu cachorro]. Não soltava. Todo mundo ficou apavorado, jogando água. Eu até peguei um pedacinho de pau para tentar separar. Eu pensei que ele [Dudu] ia morrer.

Os cães só foram separados com a ajuda dos vizinhos. Machado foi socorrido pelo dono do pit bull, que prestou auxílio à vítima. As marcas da briga estão no pescoço de Dudu, que sofreu várias mordidas.

Machado teve ferimentos na virilha e na perna, ainda sente dores, mas se recupera bem.

Durante o reencontro, Dudu distribuiu lambidas ao homem que salvou, e em troca recebeu muitos carinhos. Uma relação de confiança e intimidade que, em grande parte das histórias, é construída e conquistada em uma convivência diária por meses ou anos, mas que neste caso foi “amor à primeira vista”, já que a dupla nunca havia se encontrado antes.

Graças à coragem do vira-lata em arriscar a própria vida e salvar a do homem, a amizade dos dois deve permanecer forte ao longo dos anos, como acredita Machado.

“Eu fiquei amigo do cachorro e do dono, pois até naquele momento a gente só se conhecia de vista. Eu acho que tenho muita coisa para falar ao Dudu. Devo muita coisa a ele e isso eu não pago nunca. O que eu puder fazer para o Dudu, eu faço”, diz.

Dudu está com a mesma família há oito anos. Chegou pequeno, foi doado por um vizinho, que é caminhoneiro, e o encontrou abandonado em um posto de gasolina. A mulher de Oliveira, a dona de casa Suzi Ferreira dos Santos, caiu de amores pelo cão e começou a cuidar dele.

“Ele é da família. É como se fosse um filho, e agora mais ainda”, conta Suzi, que deu o nome de Dudu a ele. “Foi o nome mais fácil que encontramos para dar para ele na hora de falar”, explica.

O vira-lata é considerado o “filho” mais velho do casal, que cuida dele com toda atenção e todo carinho. Há quatro meses, Dudu ganhou uma “irmã” humana. Curiosa, a pequena Eloá observa todos os movimentos do cão, sorri e se diverte com ele.

“Ela ainda não brinca com ele, pois é muito pequena. Mas, não tem medo e ele tem ciúmes dela já. Quando chega alguém aqui, ele fica na porta olhando dela. Já fica cuidando dela”, diz a mãe.

“Ele é dócil, dócil com qualquer criança. Às vezes, as crianças dos vizinhos entram aqui e a gente nem usa coleira nele. Ele não é bravo, não”, diz Oliveira.

O casal se diz orgulhoso por ter dentro do lar um cão-salvador. “Assim como aconteceu com ele [Bento], poderia ter acontecido com alguma criança. Na hora, pensei que meu cachorro fosse morrer. Ao mesmo tempo, eu estava feliz, porque salvou o homem. Ele estava sangrando muito e o povo estava muito apavorado. Graças a Deus já está tudo bem, e o senhor também está bem e já tirou os pontos”, afirma o pedreiro.