Política crise política

Renan anuncia saída da liderança do PMDB no Senado e ataca Temer

Senador diz que não tem 'vocação para ser marionete'
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) Foto: Ailton Freitas / Agência O Globo
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) Foto: Ailton Freitas / Agência O Globo

BRASÍLIA — O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) anunciou na tarde desta quarta-feira sua saída da liderança do partido no Senado. No discurso de despedida, ele acusou o presidente Michel Temer de ter uma postura “covarde” e chamou o governo de “desacreditado”. Com aliados em todos os partidos, o senador alagoano, que já vinha criticando as reformas propostas pelo governo, saiu atirando e pode dar trabalho a Temer fora da liderança.

Réu em processos no Supremo Tribunal Federal (STF), Renan disse que o entorno do presidente Temer “apodreceu”. Em sua despedida, ele disse que deixa uma “âncora pesada” e que não tem “vocação para ser marionete ou líder de papel”. E não poupou Temer e ministros, alguns que são seus colegas de partidos, comparando o momento atual à crise de 1954, que acabou com o suícidio do então presidente Getúlio Vargas.

- Tal qual em 1954, o entorno do presidente da República apodreceu. Isso é muito ruim, porque contamina a representação popular, medida indistintamente pela mesma régua, reforçando a equivocada e descabida tese de que a corrupção sistêmica atinge a todos os políticos e partidos políticos - disse Renan.

Sem consenso, o PMDB adiou para a próxima terça-feira a escolha do novo líder. Renan disse que votou a favor do impeachment de Dilma, mas admitiu que ajudou a construir uma saída política para ela, mantendo seus direitos. Entre os cotados a substituí-lo, estão os senadores Raimundo Lira (PB) e Garibaldi Alves (RN), que já recusou.

- Deixo a liderança do PMDB. Não seria, jamais, líder de papel, nem estou disposto a liderar o PMDB atuando contra os trabalhadores e os estados mais pobres da Federação. Estou me libertando de uma âncora pesada e injusta. Não tenho a menor vocação para marionete. Sinceramente, não detesto Michel Temer. Não é verdade o que dizem, longe disso. Não tolero é a sua postura covarde diante do desmonte da consolidação do trabalho - afirmou Renan, diante de um plenário em silêncio.

O discurso de despedida foi preparado, e o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), deixou aberta a sessão do plenário apenas para o pronunciamento, que não teve apartes. Ao ser perguntado mais tarde se algum senador do PMDB queria ser líder em seu lugar, Renan disparou a metáfora da cobra:

- Governo é como cobra. Até morto faz medo. Mas tem muita coisa que não dá para tolerar. Nunca vou deixar de ser independente. Olha o que aconteceu com o senador Hélio José (PMDB-DF), as retaliações. Temer retaliações no governo. Temer é mais um pleonasmo.

O Palácio do Planalto comemorou o desfecho. Ministros disseram que não a situação era insustentável, com o líder do PMDB atuando como oposicionista.

O clima, segundo peemedebistas, "azedou" de forma irreversível dentro da bancada, conforme adiantou a coluna Poder em Jogo do GLOBO . O presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), se irritou com as últimas manobras e declarações de Renan, que tem adotado esse comportamento porque está em dificuldades sobre o seu futuro eleitoral em Alagoas, onde a rejeição ao presidente Michel Temer é enorme.