Política Lava-Jato

PGR investiga sistema secreto de pagamento de propina da Odebrecht

Marcelo e o pai, Emílio, prestaram depoimento sobre o MyWebDay
Sede da Odebrecht em São Paulo Foto: Edilson Dantas / 24-4-2017
Sede da Odebrecht em São Paulo Foto: Edilson Dantas / 24-4-2017

BRASÍLIA — A Procuradoria-Geral da República (PGR) tomou novos depoimentos de aproximadamente 20 delatores da Odebrecht , entre eles Emílio e Marcelo Odebrecht, para ajudar a destrinchar mais um sistema interno de controle dos pagamentos de propina da empresa, o MyWebDay.

Até agora, as investigações abertas a partir da delação da empreiteira se baseavam principalmente em outro programa, o Drousys, um meio de comunicação entre os funcionários que faziam os pagamentos de propina. O MyWebDay deve fornecer mais detalhes sobre os repasses ilícitos, como extratos e comprovantes de transferências bancárias.

Todos os depoimentos foram prestados na sede da PGR em Brasília, menos o de Marcelo, ex-presidente e herdeiro do grupo, concedido na terça-feira passada no Ministério Público Federal, em São Paulo, cidade onde ele cumpre prisão domiciliar desde dezembro.

Os colaboradores foram confrontados com codinomes e siglas que estão presentes nas planilhas do MyWebDay para apontar a quem eles se referiam. O presidente do conselho da Odebrecht, Emílio, que falou com os procuradores no fim da semana passada, limitou-se a dizer que não conseguia explicar nada porque nunca usou MyWebday, enquanto o filho ajudou a esclarecer parte dos nomes.

Esta semana, os procuradores iriam ouvir mais cinco delatores, mas remarcaram para depois do da Páscoa.

Apesar do material ser considerado bombástico por incluir extratos bancários de pagamentos a offshores destinados a políticos, além de planilhas de repasse de propina a operadores, até o momento não surgiram nomes de novos políticos envolvidos. No entanto, os investigadores acreditam que o MyWebDay pode ajudar a trazer mais provas materiais contra personagens já delatados pela Odebrecht.

Quando os 77 executivos da empreiteira assinaram seus acordos de delação, em dezembro de 2016, o MyWebDay estava inviolável, por isso informações do sistema não incluíram até agora nenhum relato dos delatores. Na época, a maior parte das provas materiais fornecidas pela empresa foram retiradas Drousys.

Diferentemente do MyWebDay, que funcionava como uma espécie de contabilidade diária, o Drousys era o programa pelo qual os funcionários do setor de operações estruturadas se comunicavam. Lá também foram encontrados alguns comprovantes de pagamentos, porque eventualmente os empregados da Odebrecht trocavam essas documentações entre si. O Drousys chegou a ser transferido para a Suécia com a eclosão da Lava-Jato. No entanto, os dados desse sistema estão com a força-tarefa de Curitiba desde março do ano passado e estão sendo submetidos à perícia da Polícia Federal.

Também em 2017, já com a delação assinada, a Odebrecht conseguiu recuperar parte das informações do MyWebDay e as entregou à Lava-Jato. O material só foi entregue à PF depois da defesa do ex-presidente Lula solicitar acesso aos arquivos referentes a ele e após o juiz Sérgio Moro determinar que o sistema fosse periciado.

CHAVES DESTRUÍDAS

Nos acordos que a Odebrecht tinha assinado com a força-tarefa, a empreiteira havia se comprometido a ceder os documentos apenas aos procuradores. A decisão foi revista por Moro, que determinou o compartilhamento dos dados com a PF.

Os investigadores não conseguiram acessar a íntegra do sistema porque as chaves de acesso a ele foram destruídas. No entanto, os fragmentos recuperados vêm sendo utilizados para complementar investigações. Daí a razão da tomada de novos depoimentos dos delatores da empresa. O MPF também apura as circunstâncias em que as chaves de acesso foram destruídas.

Para a maioria dos delatores da Odebrecht, o depoimento sobre o sistema foi o primeiro contato com a equipe da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Em setembro do ano passado, ela sucedeu a Rodrigo Janot, que esteve à frente das negociações com a Odebrecht.