Da visita de Jair Bolsonaro a Donald Trump, nos Estados Unidos, à prisão de Michel Temer, passando pela controvérsia entre o presidente e Rodrigo Maia (e entre o parlamentar e o ministro da Justiça, Sérgio Moro), pela apresentação da reforma da Previdência dos militares e pelo polêmico fundo bilionário da Lava Jato, as duas semanas pós-carnaval movimentaram a política e a economia no Brasil.
Se o ano no país só começa de fato depois da Quarta-feira de Cinzas, 2019 reservou para os últimos 15 dias um volume de notícias que valeu para 12 meses.
Neste período, o STF abriu inquérito para investigar mensagens falsas e ataques a ministros da Corte, o presidente da Câmara promoveu um churrasco para melhorar o diálogo entre Executivo, Legislativo e Judiciário, a Bovespa alcançou 100 mil pontos pela primeira vez, a aprovação de Bolsonaro caiu 15 pontos desde a posse, chegando a 34%, e a Lava Jato completou cinco anos sob inédita pressão, nas palavras de um procurador.
Veja, abaixo, um resumo do Brasil no pós-carnaval:
7 de março
- O presidente Jair Bolsonaro diz, em cerimônia de celebração dos 211 anos do Corpo de Fuzileiros Navais no Centro do Rio, que os militares precisarão fazer sacrifício com a nova Reforma da Previdência.
Jair Bolsonaro: 'A missão será cumprida ao lado de pessoas de bem do nosso Brasil'
- No mesmo evento no Rio, Bolsonaro afirmou, diante de militares, que democracia e liberdade só existem quando as Forças Armadas querem.
Democracia e liberdade só existem quando Forças Armadas querem, diz Bolsonaro em discurso
8 de março
- O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, anuncia que vai marcar a instalação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa. A CCJ é a primeira etapa de tramitação da reforma da Previdência.
Câmara vai instalar CCJ para iniciar tramitação da reforma da Previdência
11 de março
- Líderes partidários da Câmara fecham um acordo no qual condicionam a votação da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa à entrega, por parte do governo federal, da proposta da aposentadoria de militares.
Partidos políticos indicam representantes para a Comissão de Constituição e Justiça
- O ministro Luiz Fux, do STF, manda arquivar a ação em que o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, pedia para transferir à Corte as investigações sobre o uso de supostos candidatos-laranja pelo PSL (partido de Bolsonaro) nas eleições de 2018.
O ministro Marcelo Alvaro Antonio, do Turismo — Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
- A Polícia Federal (PF) abre inquérito para investigar o caso de Maria de Lourdes Paixão, candidata do PSL a deputada federal nas eleições 2018 suspeita de ter atuado como laranja.
Maria de Lourdes Paixão (PSL) chega para depor na sede da Polícia Federal em Pernambuco, no Cais do Apolo, região central do Recife, nesta quinta-feira (20) — Foto: Reprodução/TV Globo
- A Procuradoria-Geral da República (PGR) arquiva um pedido em que a força-tarefa da Lava Jato tentava impedir o ministro Gilmar Mendes, do STF, de julgar ações sobre o ex-senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) e o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge — Foto: Nelson Jr./STF
12 de março
- A força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) que atua na Operação Lava Jato no Paraná desiste de criar um fundo privado para gerir dinheiro devolvido pela Petrobras.
MP pede suspensão de fundação que ia gerenciar multa bilionária da Petrobras
- Marco Aurélio Mello, do STF, diz que julgamento sobre caixa 2 "não esvazia em nada" a Lava Jato. O comentário refere-se a eventual decisão da Corte determinando a remessa para a Justiça Eleitoral de casos que tenham relação com outros crimes, como corrupção.
O ministro Marco Aurélio Mello, relator da questão de ordem para o STF analisar se ações que envolvam crimes de caixa 2 devem ser remetidos para a Justiça Eleitoral mesmo que também tratem de corrupção — Foto: Nelson Jr./SCO/STF
- A Comissão de Transparência, Fiscalização e Controle do Senado aprova um convite para o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, prestar informações sobre o suposto uso de candidaturas de laranjas do PSL de Minas Gerais.
Marcelo Álvaro Antônio e o presidente Jair Bolsonaro — Foto: Alan Santos/Presidência
- Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) decide aplicar duas penas de censura a uma procuradora de MG por publicações em redes sociais contra ministros do STF. Camila de Fátima Gomes Teixeira defendeu em uma das mensagens intervenção militar na Suprema Corte.
O prédio-sede do Supremo Tribunal Federal, em Brasília — Foto: José Cruz / Agência Brasil
- Bolsonaro afirma que o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, continua à frente da pasta. Indicado por Olavo de Carvalho, Vélez ficou na berlinda após uma série de polêmicas, dentre elas a do hino nacional nas escolas.
O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, em imagem de janeiro de 2019 — Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil
13 de março
O pedido de suspensão foi feito pelo Ministério Público Federal — Foto: Reprodução/Rede Globo
- Blog de Andréia Sadi no G1 informa que deputados da base aliada avisaram ao ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) que, se o governo não abrir espaço para a política, a reforma da Previdência não andará na Câmara com celeridade.
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni — Foto: Adriano Machado/Reuters
14 de março
Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) durante sessão desta quarta-feira (14) — Foto: Nelson Jr./SCO/STF
- Dias Toffoli, presidente do STF, abre inquérito para investigar notícias fraudulentas, ameaças e ofensas a ministros da Suprema Corte. Medidas devem mirar integrantes da Lava Jato.
Toffoli abre inquérito para investigar mensagens falsas e ataques ao STF
15 de março
- Procuradores decidem mudar estratégia da Lava Jato após decisão do STF de enviar à Justiça Eleitoral crimes que tenham ligação com caixa 2.
Procuradores dizem que vão mudar estratégia de investigação da Lava Jato
- Alexandre de Moraes, do STF, suspende acordo entre Lava Jato do Paraná e a Petrobras que permitiria a criação de fundo bilionário.
Ministro do STF Alexandre de Moraes — Foto: Rosinei Coutinho/STF
- A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pede ao STF que o ministro Alexandre de Moraes esclareça inquérito anunciado por Dias Toffoli para apurar ataques ao tribunal.
Raquel Dodge durante encontro de trabalho, em Belo Horizonte, sobre a tragédia em Brumadinho (MG) — Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República
16 de março
- O procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol critica decisões do STF e diz que "nunca houve tanta pressão" sobre a operação como na semana anterior.
Procuradores fazem ato de defesa da operação Lava Jato em Curitiba
- Presidente da Câmara, Rodrigo Maia promove um churrasco em casa e convida Bolsonaro, Dias Toffoli (presidente do STF) e David Alcolumbre (presidente do Senado). O plano é melhorar o diálogo entre Executivo, Legislativo e Judiciário.
Em encontro, representantes dos Três Poderes discutem a reforma da Previdência
17 de março
- Lava Jato completa cinco anos com novo juiz, mudanças nas equipes de investigação e polêmica sobre fundo bilionário com dinheiro devolvido pela Petrobras.
Coletiva na sede da Polícia Federal em Curitiba (PR), sobre a 16ª fase da operação Lava Jato — Foto: Félix R./ Estadão Conteúdo
- O presidente Jair Bolsonaro chega aos Estados Unidos para a primeira reunião bilateral como chefe de Estado com o presidente norte-americano Donald Trump. O encontro está marcado para dois dias depois, na Casa Branca.
Jair Bolsonaro chega aos EUA para visita oficial
18 de março
- Representantes dos governos do Brasil e dos Estados Unidos assinam em Washington (EUA) um acordo de salvaguardas tecnológicas (AST) para permitir o uso comercial do centro de lançamento de Alcântara, no Maranhão.
Brasil e EUA fecham acordo sobre uso da base de lançamentos de Alcântara, no Maranhão
- Ao discursar no "Dia do Brasil em Washington", na Câmara de Comércio dos Estados Unidos, Bolsonaro menciona a capacidade econômica e bélica dos Estados Unidos ao defender que a "questão da Venezuela" seja resolvida.
Bolsonaro discursa na Câmara de Comércio dos EUA
- No mesmo evento em Washington, o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a defender a abertura econômica do Brasil e a redução do tamanho do Estado.
O ministro da Fazenda, Paulo Guedes, durante discurso em Washington, nos Estados Unidos — Foto: Erin Scott/Reuters
- A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, envia ao STF pedido para que a Caixa Econômica Federal (CEF) preste informações a respeito dos R$ 2,5 bilhões depositados pela Petrobras em uma conta vinculada à 13ª Vara da Justiça Federal em Curitiba.
- Em entrevista ao Em Foco com Andréia Sadi, da GloboNews, Marco Aurélio Mello, do STF, critica a decisão do presidente do tribunal, ministro Dias Toffoli, de determinar abertura de inquérito para investigar mensagens falsas e ataques a ministros da Corte.
Ministro Marco Aurélio do STF questiona abertura de inquérito pelo presidente da corte
- O governo publica no "Diário Oficial da União" (DOU) um decreto que aplica critérios da lei da Ficha Limpa para nomeação de cargos em comissão no Executivo Federal.
- O Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira, a B3, alcançou a marca de 100 mil pontos pela primeira vez, favorecido por expectativas positivas sobre o andamento da reforma da Previdência.
O Ibovespa atingiu às 14h44 a marca histórica de 100 mil pontos — Foto: Reprodução
19 de março
- Em encontro na Casa Branca com o presidente Jair Bolsonaro, Donald Trump afirma que apoia o ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Trump recebe Bolsonaro na Casa Branca: ‘Brasil e EUA nunca estiveram tão próximos'
- Trump também diz que quer o governo de Jair Bolsonaro na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), organização militar comum de defesa, com 28 países-membros. Saiba o que isso significa.
O presidente Jair Bolsonaro segue com o presidente dos EUA Donald Trump para o Rose Garden, na Casa Branca — Foto: Evan Vucci/AP
- Ainda nos EUA, Bolsonaro comenta, ao sair da Casa Branca, sobre a possibilidade de uma intervenção militar na Venezuela: "Diplomacia em primeiro lugar, até as últimas consequências".
'OCDE é desejo antigo da classe empresarial produtiva do Brasil', diz Bolsonaro
- Relator de inquérito para investigar ataques ao STF, o ministro Alexandre de Moraes rebate, em entrevista, críticas à abertura da investigação. Segundo ele, todos têm "direito de espernear".
Moraes rebate críticas a inquérito para investigar ataques ao STF
20 de março
- O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, critica o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. O parlamentar afirmou que Moro "conhece pouco a política" e está "passando" daquilo que é sua responsabilidade como ministro.
Pacote anticrime gera atrito entre Sérgio Moro e Rodrigo Maia
- O governo apresenta a proposta de reforma da Previdência dos militares e um plano de reestruturação de carreira do setor. A economia líquida deve ser de R$ 10,45 bilhões no período de dez anos, segundo o Ministério da Economia.
Reforma da Previdência dos militares prevê economia líquida de R$ 10,4 bi em 10 anos
- A ida do presidente Jair Bolsonaro à Câmara dos Deputados para apresentar a proposta da reforma da Previdência dos militares teve como pano de fundo a irritação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, informa o blog de Andréia Sadi no G1. Nos bastidores, Maia atribui a ofensiva virtual de que é vítima a bolsonaristas e ao filho do meio do presidente, Carlos Bolsonaro.
Presidente da Câmara dos Deputados, dep. Rodrigo Maia, recebe a proposta de reforma da previdência dos militares — Foto: J. Batista / Câmara dos Deputados
Ibope divulga pesquisa sobre a aprovação dos primeiros três meses do governo Bolsonaro
- Relator do inquérito que vai investigar ataques ao STF, o ministro Alexandre de Moraes indica dois delegados para atuar no caso, um da Delegacia Especializada em Repressão a Crimes Fazendários da Polícia Federal e outro do Departamento de Inteligência da Polícia Civil de São Paulo.
Alexandre Moraes, ministro do STF — Foto: Reprodução/NBR
- Alvo de um dossiê do Fisco que apontou suposta fraude fiscal, o ministro Gilmar Mendes, do STF, defende limites no acesso e no compartilhamento de informações de contribuintes por parte da Receita Federal com outros órgãos, como o Ministério Público.
Gilmar Mendes durante sessão no STF — Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF
21 de março
Ex-presidente Michel Temer é preso pela Lava Jato
- O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, rechaça a especulação de políticos nos bastidores de que a decisão do juiz Marcelo Bretas de determinar as prisões de Temer e de Moreira Franco – que é sogro do parlamentar – seria uma espécie de "troco" ao Congresso, informa o blog de Andréia Sadi no G1.
- Na decisão em que determinou a prisão de Michel Temer, Bretas fez questão de afirmar que a investigação não se refere a crimes eleitorais e que, por isso, a competência para julgar o caso é da Justiça comum e não da Justiça Eleitoral, informa o blog de Matheus Leitão no G1.
- Após desembarcar em Santiago, no Chile, Bolsonaro comentou a prisão de Temer: "A Justiça nasceu para todos e cada um que responda pelos seus atos".
Bolsonaro diz que acordos políticos podem ter levado Temer à prisão
- O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, recorre da decisão tomada no mês passado pelo ministro Marco Aurélio Mello de enviar para a Justiça Eleitoral apuração preliminar sobre supostos repasses por meio de caixa 2 do grupo J&F.
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, dá entrevista em Brasília nesta terça (8) — Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
STF determina buscas em inquérito sobre ofensas a ministros da corte
- Em entrevista ao blog de Andréia Sadi no G1, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, afirma: "É como diz o presidente: 'A Previdência é carro-chefe'. Se eu fosse usar uma expressão militar, a palavra-chave seria 'centro de gravidade'".
Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta Rodrigo Maia, presidente da Câmara — Foto: J. Batista / Câmara dos Deputados
- Uma troca de mensagens por celular motivou controvérsia entre Rodrigo Maia e Sérgio Moro, informa o blog de Natuza Nery no G1. Às 23h50 do dia 19 de março, o ministro fez contato com o presidente da Câmara para lamentar a criação de um grupo de trabalho para analisar o pacote anticrime. Maia não gostou da cobrança.
O líder do PSL na Câmara, deputado Delegado Waldir (GO) — Foto: Cleia Viana / Câmara dos Deputados
22 de março
- O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, diz que o presidente Jair Bolsonaro precisa ter "mais tempo para cuidar da reforma da Previdência e menos tempo" para as redes sociais. Declaração foi dada em meio à discussão sobre a prioridade dada pelo governo à tramitação da reforma na Câmara.
Governo tenta recuperar parceria com Maia na articulação da Previdência
Temer fica em silêncio em depoimento; Moreira nega propina
- Desembargador Ivan Athié rejeita liminarmente um pedido de liberdade "alternativo" para Temer, feito por um ex-aluno de Temer na véspera. Os pedidos de habeas de Temer e de Moreira Franco serão julgados apenas na quarta-feira (27) no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2).
23 de março
- Bolsonaro e Maia travaram duelo de declarações a distância, ao longo do dia, pela imprensa. O presidente da República estava em viagem oficial ao Chile, onde encontrou o presidente do país e ambos se comprometeram a ampliar integração entre os países.
Bolsonaro encerra visita ao Chile estreitando a relação com Sebastián Piñera — Foto: Reprodução/JN
- O clima do presidente com Rodrigo Maia, que já não era dos melhores, azedou de vez. Em embate sobre a reforma da Previdência, os presidentes da República e da Câmara trocaram farpas pela imprensa.
- Maia afirmou que o governo não podia "terceirizar a articulação" da reforma e que Bolsonaro "precisa dizer o que é a nova política".
Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, após almoço com governador João Doria — Foto: Reprodução/TV Globo
- Bolsonaro respondeu que "alguns não querem largar a velha política", afirmou que a responsabilidade da reforma está no Parlamento e que nunca criticou Maia. "Não sei por que ele de repente está se comportando dessa forma um tanto quanto agressiva", afirmou.
- O presidente da Câmara voltou a falar, após almoçar com o governador de São Paulo, João Doria, e se defendeu: "Não uso as redes sociais para agredir ninguém".
Jair Bolsonaro e presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do DEM, falam sobre a Previdência