Política

Integrante do governo e militante histórico, Gilney Viana critica relatório da Comissão da Verdade

Ele afirmou que o relatório era "débil" ao deixar de fora da relação de vítimas da ditadura centenas de camponeses e milhares de indígenas perseguidos e mortos pelo regime

BRASÍLIA - Militante histórico dos direitos humanos e ex-preso político - ficou detido durante treze anos - Gilney Viana, da Secretaria de Direitos Humanos, criticou o relatório da Comissão Nacional da Verdade. No ministério, Gilney é o coordenador do projeto Direito à Memória e à Verdade. Num debate no Senado, nesta quinta-feira, na presença de Pedro Dallari, coordenador-geral da comissão, Gilney, que também fez elogios ao texto, afirmou que o relatório era "débil" ao deixar de fora da relação de vítimas da ditadura (434 ao todo) centenas de camponeses e milhares de indígenas perseguidos e mortos pelo regime. Para ele, a comissão criou duas categorias de perseguidos.

— Participei das comissões indígena e camponesa (composta por entidades e movimentos sociais). Os crimes contra eles não foram reconhecidos no relatório. Cria, assim, duas categorias de perseguidos ao não os incluírem na relação dos 434 vítimas. Esse é o ponto mais débil desse relatório. É o seu ponto fraco. Mantém a invisibilidade dos que mais sofreram. Eles não estavam em partidos políticos nem pertenciam a organizações de esquerda — disse Gilney Viana.

Os relatórios citados por ele concluíram que cerca de 1.200 camponeses foram vítimas dos militares, em especial na região da Guerrilha do Araguaia, e cerca de 8 mil indígenas também foram alvos das Forças Armadas.

Pedro Dallari reagiu às críticas de Gilney, num embate sem qualquer hostilidade. Ele começou elogiando Gilney - "uma figura fundamental da história da luta pelos direitos humanos" -,mas deu o troco:

— Gilney, você hoje é parte do governo brasileiro. É importante você esclarecer se essa sua posição é a mesma do governo. Sugiro que faça um preâmbulo antes: "vou falar em meu nome pessoal". Digo isso porque pode gerar uso de como se essa fosse a posição da Secretaria de Direitos Humanos em relação ao relatório. Se for, não tem problema. É da vida. Sou advogado e convivo com o contraditório. Mas não foi essa a posição da presidente da República ontem. Ela acolheu o relatório — disse Dallari.

Antes das críticas, Gilney fez elogios também ao relatório.

— O relatório ter colocado os ditadores no topo da lista isso para nós foi fundamental. Haverá um dia em que os retratos deles não estarão mais nem em academias militares — elogiou Gilney, aplaudido pelos companheiros presentes.